Foi fundada há quase 120 anos nos EUA e tem mais de 3.000 agências espalhadas por mais de 45 países. Falamos da rede imobiliária Coldwell Banker (CB), que aterrou em Portugal em 2017 e tem atualmente uma operação de 12 agências e cerca de 250 colaboradores. Em entrevista ao idealista/news, Frederico Abecassis, CEO da CB Portugal, revela que o seu “portefólio diversificado no segmento residencial de luxo” tem valorizado – “Temos 266 imóveis residenciais ativos com um valor superior a um milhão de euros” – e mostra-se otimista quando ao futuro. “O segmento de luxo em Portugal continua a demonstrar um grande dinamismo”, assegura.
E será que há muitos portugueses a comprar casas de luxo ou a investir neste nicho do setor imobiliário residencial, ou estamos perante um mercado dominado por cidadãos/clientes estrangeiros? “Entre os principais mercados emissores no segmento prime e ultra-luxo destacam-se os EUA (…), o Brasil, países do Norte da Europa como Países Baixos, Suécia e Dinamarca, bem como o Reino Unido (…). É igualmente importante referir o crescente número de investidores portugueses que continuam a apostar em ativos de luxo, reconhecendo o seu valor enquanto ativos seguros e com elevada capacidade de valorização no contexto nacional”, responde Frederico Abecassis.
Salientado que, “do ponto de vista do negócio imobiliário, a conjuntura macroeconómica é favorável”, havendo “uma clara valorização dos imóveis que estão no mercado e disponibilidade de crédito”, o CEO da CB Portugal destaca ainda o papel dos consultores no dia a dia da mediação imobiliária, nomeadamente no segmento premium: “A tecnologia veio para ficar e é uma aliada poderosa, mas no segmento de luxo a componente humana continuará a ser insubstituível”.
A CB foi fundada em 1906 nos EUA e afirma-se como “a mais antiga e bem estabelecida rede imobiliária do mundo”. A que se deve esta definição?
A CB é a rede imobiliária mais antiga do mundo, fundada em 1906 na sequência do grande terramoto de São Francisco (EUA). Confrontados com a especulação imobiliária que tirava proveito dessa tragédia, os fundadores Colbert Coldwell e Benjamin Banker criam a CB com a missão de promover um negócio imobiliário ético, transparente, íntegro e atento aos interesses dos clientes. Esse momento definiu a identidade da CB até aos dias de hoje: uma marca assente em valores claros e inegociáveis.
Hoje, a CB conta com mais de 3.000 agências espalhadas por mais de 45 países e mais de 100.000 profissionais. Uma dimensão global que estabeleceu a marca em cinco continentes e a tornou uma referência na mediação imobiliária no hemisfério norte e sul, no ocidente e no oriente. É essa amplitude geográfica que nos permite oferecer um serviço de proximidade, unindo ‘expertise’ global a um profundo conhecimento local, posicionando a CB como a mais bem estabelecida rede imobiliária do mundo.
A CB entrou em Portugal em 2017. Que balanço de atividade é possível fazer? Houve, pelo meio, a pandemia, por exemplo…
Fazemos um balanço muito positivo. Chegámos a Portugal em 2017 e, desde então, temos vindo a registar um crescimento consistente e sustentado: não só em termos de volume de negócios e número de transações, mas também de crescimento de equipa, abrangência geográfica e notoriedade de marca.
Estamos muito bem estabelecidos na Grande Lisboa e nos Açores, onde temos uma presença forte e uma posição consolidada como referência de mercado. Temos crescido, de ano para ano, no número de localizações onde transacionamos e estamos a diversificar continuamente a nossa incidência geográfica.
Claro que a pandemia foi desafiante, mas o setor recuperou fôlego no período pós-pandémico e os alicerces que construímos antes do ‘lockdown’ foram essenciais para ganharmos impulso assim que o mercado voltou à normalidade.
Os números, de resto, falam por si: de uma fase embrionária com poucos consultores passámos para uma realidade de escala nacional, com uma operação de 12 agências e cerca de 250 colaboradores, que geram mais de 120 milhões de euros em aproximadamente 750 transações anuais, reconhecida em 2025 com o Quality Award da Consumer Choice.
O ano de 2025 está a corresponder às expectativas? Porquê? E o que esperar de 2026?
Está a correr muito bem. Entre janeiro e setembro, registámos um crescimento de 17% em faturação e de 19% no número de transações face ao período homólogo de 2024. Crescemos também 20% no valor da carteira de angariações e 9% no que diz respeito ao número de unidades angariadas. Estes indicadores são muito positivos e permitem-nos olhar para o final do ano com uma perspetiva otimista.
"Do ponto de vista do negócio imobiliário, a conjuntura macroeconómica é favorável: há uma clara valorização dos imóveis que estão no mercado – o nosso preço médio atingiu, no primeiro semestre, 491.286 euros – e disponibilidade de crédito. Isto permite-nos encarar 2026 com bons olhos"
Do ponto de vista do negócio imobiliário, a conjuntura macroeconómica é favorável: há uma clara valorização dos imóveis que estão no mercado – o nosso preço médio atingiu, no primeiro semestre, 491.286 euros – e disponibilidade de crédito. Isto permite-nos encarar 2026 com bons olhos. Ao mesmo tempo, o Governo tem sinalizado vontade de avançar com iniciativas políticas para a habitação que poderão resultar num reforço da oferta, o que é importante – não só para dinamizar o mercado, como para colmatar os desafios que as famílias sentem no acesso ao mercado imobiliário.
Para 2026, o objetivo é claro: crescer com consistência, reforçar a rede de agências, continuar a trabalhar na já elevada taxa de retenção de consultores e apostar na melhoria contínua do serviço prestado ao cliente.
A CB é especialista no segmento residencial de luxo. Sobre o portefólio de imóveis, são sobretudo moradias e apartamentos, ou também têm anunciadas quintas e palacetes (ou outro tipo de ativos)?
Temos um portefólio diversificado no segmento residencial de luxo e que tem valorizado continuamente. Temos 266 imóveis residenciais ativos com um valor superior a um milhão de euros.
Em 2024, registámos um valor médio de venda de 1.695.385 euros nesse segmento, superando o valor médio de 1.542.237 euros de 2023. Esta variação está naturalmente enquadrada na valorização da generalidade dos imóveis em Portugal, mas é também ilustrativa da estratégia de diversificação e reforço de portefólio que os nossos franqueados têm executado.
Os apartamentos representam a maioria das transações da CB Portugal como um todo: no primeiro semestre de 2025, constituíram 55% das vendas dos nossos franqueados. Os terrenos estão em segundo lugar, seguidos das moradias. O mercado dos palacetes é também relevante, sobretudo pelo valor que gera, mas é naturalmente muito mais restrito e exclusivo: neste primeiro semestre, representou 2% das transações.
E onde estão localizados estes imóveis? É sobretudo em Lisboa e Porto ou também (e cada vez mais) em zonas como a Comporta?
Lisboa, Porto e Algarve são as localizações mais procuradas para o segmento residencial de luxo. Fora deste tríptico clássico, a Comporta é a localização que mais tem crescido tanto em termos de procura como de negócio.
Qual é o público-alvo no nicho premium/luxo e, entre os investidores e/ou compradores, quais são as nacionalidades mais ativas? Há novas nacionalidades a surgir no mercado? E os portugueses também andam atentos ao segmento de luxo?
O perfil do cliente de luxo em Portugal é bastante diversificado, mas existem traços comuns entre os compradores deste segmento. Destacam-se, por um lado, profissionais em plena fase ativa, muitas vezes expatriados que escolheram Portugal como base de vida, atraídos pela estabilidade, pelo clima, pela qualidade de vida e pela possibilidade de trabalhar remotamente. Por outro lado, encontramos também um número crescente de reformados que veem em Portugal o destino ideal para uma residência permanente, valorizando fatores como a segurança, o custo de vida equilibrado, o sistema de saúde e a excelente infraestrutura do nosso país.
"É importante referir o crescente número de investidores portugueses que continuam a apostar em ativos de luxo, reconhecendo o seu valor enquanto ativos seguros e com elevada capacidade de valorização no contexto nacional"
Adicionalmente, temos registado uma procura significativa por parte de empresários e empreendedores com maior flexibilidade geográfica, que encaram Portugal como um ponto estratégico na Europa, beneficiando da sua localização privilegiada, segurança jurídica e facilidade de mobilidade internacional.
Entre os principais mercados emissores no segmento prime e ultra-luxo destacam-se os EUA – atualmente o mercado mais ativo –, o Brasil, países do Norte da Europa como Países Baixos, Suécia e Dinamarca, bem como o Reino Unido, que mantém uma presença histórica no país. É igualmente importante referir o crescente número de investidores portugueses que continuam a apostar em ativos de luxo, reconhecendo o seu valor enquanto ativos seguros e com elevada capacidade de valorização no contexto nacional.
Considera que o negócio da mediação imobiliária, nomeadamente no segmento de luxo, está de boa saúde em Portugal? Há algo que poderia ou deveria melhorar? Porquê?
Sim, o segmento de luxo em Portugal continua a demonstrar um grande dinamismo. Diria até que não apesar da conjuntura económica e geopolítica internacional, mas por causa dela. A Coldwell Banker Global Luxury – a nossa chancela especializada no mercado de luxo – publicou este ano um relatório muito interessante que posiciona Lisboa no top de cidades mais atrativas do mundo para o investimento no mercado imobiliário de luxo. Aliás, Lisboa é a única cidade europeia referida no relatório.
Porquê? Porque é considerada um destino de luxo acessível, que combina boas infraestruturas com preços competitivos para o investidor internacional que procura o segmento de luxo. Lisboa oferece um estilo de vida cosmopolita e europeu, mas com um custo significativamente inferior em relação a grandes cidades como Londres ou Paris. Isto é uma grande vantagem competitiva e um importante fator de atratividade numa altura de flutuações económicas em que os investidores se preocupam particularmente com a rentabilização do capital, e procuram um bom equilíbrio entre o potencial de valorização do investimento imobiliário e o custo de vida nesse mercado.
"O desafio, neste contexto de elevada atratividade, é ter profissionais especializados que providenciem um serviço personalizado a estes investidores. É aí que o negócio da mediação imobiliária no segmento de luxo pode melhorar"
O desafio, neste contexto de elevada atratividade, é ter profissionais especializados que providenciem um serviço personalizado a estes investidores. É aí que o negócio da mediação imobiliária no segmento de luxo pode melhorar. Temos feito investimentos concretos da nossa parte, nomeadamente através da aposta na formação contínua de profissionais altamente especializados e num serviço ‘tailor-made’ para este segmento.
O que distingue a CB das outras mediadoras que atuam no mercado premium?
Distinguimo-nos pela combinação de um legado centenário com uma abordagem moderna e personalizada. Contar com uma marca especializada como a Coldwell Banker Global Luxury também é uma parte essencial da nossa proposta de valor, uma vez que conseguimos disponibilizar aos franqueados uma plataforma internacional de marketing e de partilha de know how entre mercados, bem como uma rede global de compradores.
Mas o verdadeiro diferencial está nos valores. Este ano lançámos uma campanha de comunicação com o objetivo de sublinhar isso mesmo: para nós, a consultoria imobiliária só faz sentido se for alicerçada sobre valores claros, como a transparência, a integridade e a ética. Num mercado em que os consumidores olham para as marcas e para os profissionais com alguma desconfiança, esta aposta nos valores faz toda a diferença.
Os investidores imobiliários, nomeadamente estrangeiros, continuam a olhar para Portugal como um destino seguro e rentável? O que os continua a atrair?
Sem dúvida. Recentemente, estive a acompanhar a convenção mundial da CB, nos EUA, onde tive oportunidade de falar com profissionais de diversos mercados e isso ficou muito claro: Portugal continua a ser um destino altamente atrativo para viver e investir. Localizações como Lisboa, Cascais e o Algarve continuam a destacar-se para perfis importantes de clientes estrangeiros, como os reformados e os nómadas digitais.
A estabilidade política, o clima, a hospitalidade, o custo de vida competitivo e a segurança continuam a ser fatores muito valorizados pelos investidores internacionais. Além disso, o mercado imobiliário português continua competitivo no mercado fiscal e apresenta um potencial significativo de valorização.
O Governo anunciou novas medidas relacionadas diretamente com a habitação. Considera que terão impacto, também, no segmento de luxo? Porquê?
As medidas do Governo foram claramente desenhadas a pensar no mercado de habitação para a classe média, designadamente para primeira habitação e habitação com rendas moderadas. E bem: essa deve ser a prioridade da estratégia do Estado, porque aí reside o cerne do problema da habitação em Portugal. Isso não invalida que haja impactos indiretos, nomeadamente em termos da confiança dos investidores e da perceção no mercado, que vale a pena construir em Portugal.
"A tecnologia veio para ficar e é uma aliada poderosa, mas no segmento de luxo a componente humana continuará a ser insubstituível. Ferramentas como a IA podem e devem apoiar na análise de dados, na personalização do trabalho dos consultores e na eficiência operacional. No entanto, a confiança, a empatia e o conhecimento profundo do mercado continuam a ser diferenciais críticos"
O segmento de luxo é, por definição, menos sensível a alterações conjunturais e tende a manter uma dinâmica própria, mas é importante que acompanhemos atentamente a evolução do enquadramento legal e fiscal. Até porque a captação de investimento qualificado deve ser um desígnio nacional, uma vez que tem impactos diretos e indiretos na criação de riqueza.
O que esperar do futuro da mediação imobiliária em Portugal, nomeadamente no segmento de luxo, agora que a tecnologia é cada vez mais parte do negócio, com ferramentas como a Inteligência Artificial (IA) a ganharem preponderância? O que está a mudar e que papel terão os consultores?
A tecnologia veio para ficar e é uma aliada poderosa, mas no segmento de luxo a componente humana continuará a ser insubstituível. Ferramentas como a IA podem e devem apoiar na análise de dados, na personalização do trabalho dos consultores (por exemplo, a nível da angariação e do aconselhamento ao cliente) e na eficiência operacional. No entanto, a confiança, a empatia e o conhecimento profundo do mercado continuam a ser diferenciais críticos.
Em vários setores, desde o turismo ao retalho, o luxo define-se pela capacidade de oferecer experiências altamente personalizadas e exclusivas. Esta é a tendência também no mercado imobiliário. Acredito que o consultor imobiliário do futuro será, acima de tudo, um gestor de relações, apoiado por ferramentas tecnológicas, mas diferenciado pela dimensão humana.
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