
A renda ‘prime’ numa loja da zona do Chiado, no coração de Lisboa, atingiu um máximo histórico em 2024, com os valores a rondarem os 1.620 euros por metro quadrado por ano (€/m2/ano), um aumento de 8% face a 2023, segundo o relatório “Main Streets Across The World”, da Cushman & Wakefield (C&W). O Chiado volta, assim, a integrar o Top 30 do ranking das localizações de comércio de rua mais caras do mundo – ocupa precisamente o 30º lugar –, que pela primeira vez é liderado por uma rua europeia, a Via Montenapoleone, em Milão. “Ter uma loja disponível no Chiado é um verdadeiro desafio”, conta ao idealista/news Maria José Almeida, Associate do departamento de Retalho da C&W.
Segundo a especialista, a Rua Garrett e a Rua do Carmo são as ruas comerciais mais procuradas no Chiado, uma localização onde “raramente há rotatividade de marcas”. “E quando há a concorrência é muita. Estas duas ruas concentram um ‘cluster’ de marcas muito interessantes, por isso é natural que as marcas que ainda não estão queiram estar. Para os investidores é um ‘no-brainer’, pois sabem que ao investirem nesta zona o risco é baixo”, explica.
O ranking deste ano indica que o Chiado, a única zona comercial portuguesa que consta na lista e onde se localizam várias marcas de luxo, desceu um lugar na tabela, visto que em 2023 se encontrava em 29º. Ocupa, no entanto, a 9ª posição no Top 10 de subida de rendas a nível mundial, tendo as mesmas aumentado 8%.
“O Chiado tem estado sempre numa boa posição, tendo em conta a dimensão do nosso mercado e da própria zona. A melhor posição ocupada correspondeu à 27ª em 2022”, revela Maria José Almeida, frisando que não é possível prever se chegará um dia ao Top 10 mundial das rendas 'prime'.

“Uma zona comercialmente atrativa para investidores e marcas”
De uma coisa tem, no entanto, a certeza: “É uma zona comercialmente atrativa para investidores e marcas nacionais e internacionais, mas comparando com outras ruas em outras cidades como Londres, Paris, Nova Iorque, Milão ou Madrid tem uma escala efetivamente mais pequena. O poder de compra, as infraestruturas e fluxo de visitantes são também fatores importantes a ter em conta, e em comparação com outras cidades onde a procura e a fixação de marcas é bastante maior, acaba por resultar num valor de renda por m2 substancialmente superior”.
"O Chiado é uma zona comercialmente atrativa para investidores e marcas nacionais e internacionais, mas comparando com outras ruas em outras cidades como Londres, Paris, Nova Iorque, Milão ou Madrid tem uma escala efetivamente mais pequena"
E será que ainda há margem para as rendas ‘prime’ no comércio de rua do Chiado continuarem a subir? “A posição que ocupa no ranking global é o resultado da procura das marcas por localizações ‘prime’. Neste tipo de ruas a procura é muito superior à oferta, a rotatividade é praticamente inexistente, e este facto contribui para o aumento de rendas, que o mercado aceita com alguma naturalidade, de acordo com o que tem vindo a acontecer”, aponta a Associate do departamento de retalho da C&W.

Três novas lojas em 2024 e… mais três em 2025
Apesar da concorrência ser elevada e de haver pouco espaço para aumentar a oferta, este ano, ao contrário de outros, entraram três novas marcas no Chiado: a Portugal Jewels, a Stone by Stone e a Iservices, revela Maria José Almeida. E “está prevista para 2025 a entrada de mais três lojas, duas de marcas internacionais, uma ligada à cosmética e perfumaria, e a New Balance, que será a primeira loja de rua em Lisboa, e uma portuguesa ligada à saúde e bem-estar”, conta.
Quando questionada sobre as eventuais diferenças existentes entre o Chiado e a Avenida da Liberdade, outro eixo de luxo na capital portuguesa, responde que o “Chiado tem uma grande diversidade de público e muito turismo”, bem como “uma componente cultural muito atrativa, com museus, teatros e livrarias centenárias, lado a lado com as marcas internacionais que vão do ‘mass market’ ao ‘premium’.” O que se traduz “num intenso tráfego pedonal que, por sua vez, suscita um grande interesse por parte das marcas”, esclarece.
Já a Avenida da Liberdade é o destino de luxo das marcas internacionais, sublinha. “O facto de estar no prime CBD – onde estão as sedes das grandes empresas, escritórios de advogados e os hotéis de cinco estrelas – cria o habitat perfeito para as marcas que sabem que o seu público está aqui. Também há a salientar o facto de os edifícios terem áreas que vão ao encontro dos requisitos das marcas, boas fachadas e boas áreas por piso”, remata.

Arrendar uma loja na Via Montenapoleone custa 20.000€/m2/ano
Voltando ao Top 10 do relatório “Main Streets Across The World”, que vai na 34ª edição, é liderado pela primeira vez por uma localização europeia. Trata-se da Via Montenapoleone, em Milão (Itália), que ultrapassou a Quinta Avenida, em Nova Iorque (EUA). A New Bond Street, em Londres (Reino Unido), ultrapassa a Tsim Sha Tsui, em Hong Kong, e volta a ocupar o terceiro e último lugar do pódio. De referir que foram analisadas 138 localizações, tendo as rendas caído em apenas 19.
Quanto custa arrendar um espaço comercial nestas artérias? A diferença para o Chiado, como é possível constatar, é enorme:
- Via Montenapoleone: 20.000€/m2/ano:
- Quinta Avenida: 19.537€/m2/ano;
- New Bond Street: 17.210€/m2/ano.
“Sinónimo de moda e luxo, a Via Montenapoleone tem vindo a subir na classificação nos últimos anos, tendo alcançado o segundo lugar em 2023. As rendas aumentaram 11% para €20.000/m2/ano nos últimos 12 meses (…). Além da forte procura por parte dos retalhistas num contexto de oferta limitada, a Via Montenapoleone também beneficiou da valorização do euro face ao dólar americano”, refere em comunicado a C&W.
“A pressão competitiva por um espaço limitado levou a que se registasse um aumento das rendas em 57% (79) das 138 localizações analisadas, uma descida em apenas 14% (19) dessas localizações e estabilidade nas restantes 29% (40). Isto resultou num aumento médio global das rendas de 4,4%”, lê-se na nota.
A C&W indica que a maioria dos principais destinos de retalho conseguiu “resistir à tempestade impulsionada pela subida das taxas de juro para conter a inflação em 2022 e 2023, o que levou a um rápido aumento do custo de vida, um sentimento menos confiante dos consumidores e um crescimento económico lento”. “O retalho beneficia agora dos cortes graduais nas taxas de juro, da recuperação económica, do abrandamento das pressões sobre o custo de vida e dos aumentos reais dos salários”, conclui a consultora.

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