CEO da Ooty fala sobre mais-valias deste material nas casas e edifícios e de um sistema que promete mudar a construção, o CLT.
Comentários: 1
Casas de madeira modernas e sustentáveis
Ooty

Sustentabilidade é uma palavra que entrou no léxico sem pedir licença. A sua importância é levada a sério por vários setores de atividade, nomeadamente num cenário pós-pandemia, que todos esperamos que esteja para breve. O imobiliário e a construção não são exceção. Pelo contrário, vários players e especialistas consideram este um dos temas centrais a ter em conta no presente e no futuro. Mas como serão, afinal, as casas do futuro? Como serão construídas? Serão de madeira? Nuno Vale, CEO da Ooty, não tem dúvidas de que o futuro da habitação passa também pela construção de casas sustentáveis de madeira, um “material incrível e que nos mercados do sul da Europa esteve adormecido, mas que está a retomar em grande escala”, diz ao idealista/news.

A Ooty é uma empresa que pertence ao grupo Black Oak Company, que atua na área das estruturas pré-fabricadas e modulares com subestrutura em madeira, tendo estabelecido, no ano passado, uma parceria com a Ecosteel, que visa privilegiar os princípios da construção modular em madeira, sustentada em valores como a sustentabilidade ambiental e o relacionamento personalizado com cada cliente.

"O surgimento do interesse e a visibilidade no mercado de um sistema de madeira maciça designado por CLT (Cross Laminated Timber, ou madeira lamelada colada) vai ter uma posição muito interessante na construção das nossas cidades"

Na entrevista que dá por escrito ao idealista/news, Nuno Vale fala sobre esta parceria e sobre o passado, o presente e o futuro da construção em Portugal. E abre um pouco o véu sobre o que aí vem: “Há outro fator que vai ser relevante a curto prazo. O surgimento do interesse e a visibilidade no mercado de um sistema de madeira maciça designado por CLT (Cross Laminated Timber, ou madeira lamelada colada) vai ter uma posição muito interessante na construção das nossas cidades”. 

Sobre esta tecnologia/sistema, adianta que está a ser preparado com outros promotores um investimento na ordem dos 20 milhões de euros. Trata-se de “um sistema inovador com grande procura atual em todo o mundo”, conta, salientando que “aquilo que no passado romantizou o betão, a potencialidade da construção em altura, está hoje ultrapassado com esta tecnologia”.

Casas de madeira
Ooty

Fale-nos um pouco sobre a Ooty. Quando nasceu? Com que missão? Onde está sediada e onde tem escritórios?

A Ooty surge como uma perceção de uma lacuna na área da construção, aliar uma imagem contemporânea e qualidade construtiva à massificação através da industrialização de sistemas construtivos ecológicos e sustentáveis e, portanto, com uma forte presença da madeira na sua estrutura, embora utilizemos na verdade sistemas mistos com metal e eventualmente até alguns elementos de betão nas fundações. O forte da Ooty é de facto os sistemas em madeira.

A nossa entrada no mercado nacional fez-se através de soluções muito interessantes na área do Turismo, que era um setor com um forte crescimento, logo depois introduzimos uma linha de casas que foi muito bem aceite pelo mercado.

A Ooty está sediada no concelho de Esposende, conta com cerca de 40 funcionários diretos e outros tantos indiretos e está em fase de crescimento acelerado.

Soube-se, no final do ano passado, que a Ecosteel entrou no capital social da Ooty. Fale-nos um pouco sobre este processo. 

Surgiu numa conversa de negócios e foi o resultado natural de um entendimento de interesses, entre os gestores de ambas as empresas, no sentido de se criarem as sinergias necessárias dado que ambos tinham objetivos comuns. 

Significa, então, que a Ooty passou a pertencer à Ecosteel? 

Não. A Ecosteel entrou na participação da empresa com uma cota minoritária, mas trouxe de facto consigo uma dinâmica maioritária que favorece claramente a nossa exposição. A Ooty era uma marca em franco crescimento, com um historial interessante para uma empresa jovem, e a participação da Ecosteel ajudou a exponenciar tudo isso, não nas “redes sociais”, por aí já estávamos bem apresentados ao cliente final, mas a nível empresarial e junto dos grandes gabinetes de arquitetura nacionais e internacionais. 

"Estamos neste momento em parceria com outros promotores a preparar um grande investimento na ordem dos 20 milhões de euros num sistema inovador com grande procura atual em todo o mundo, que é o CLT, um sistema estrutural de madeira maciça de veio cruzado"

Estamos neste momento em parceria com outros promotores a preparar um grande investimento na ordem dos 20 milhões de euros num sistema inovador com grande procura atual em todo o mundo, que é o CLT, um sistema estrutural de madeira maciça de veio cruzado.

O que tem a Ooty a ganhar com esta “integração” na Ecosteel? 

Imenso, a começar pelo profissionalismo do José Maria Ferreira. Não temos como o descrever, mas podemos tentar, é uma pessoa incrível com uma forte visão de negócio e um profundo conhecimento da área, além de uma paixão pela arte e arquitetura que se relaciona em tudo connosco. Depois também nos traz o seu networking e o know-how de uma empresa já estabelecida.

A Ooty dedica-se à produção de estruturas pré-fabricadas e modulares e subestrutura em madeira (wood frame) como casas, bungalows, módulos de alojamento, etc. Fale-nos um pouco sobre a atividade da Ooty e sobre o que a distingue da concorrência.

O que mais nos distingue é a perceção da potencialidade deste sistema e a sua apresentação contemporânea num mercado que estava saturado do mesmo. A nossa preocupação com a qualidade, com a imagem, com o ambiente que criamos ao cliente, com a rapidez construtiva, a eficiência energética e a preocupação com a pegada ecológica. 
Lidamos com sonhos das pessoas, ambições pessoais e de negócios e isso não é simples de gerir como devem imaginar, mas procuramos fazer sempre o nosso melhor em todos os projetos.

Construção de casas de madeira
Ooty

Que balanço faz da atividade da empresa em 2021? Foi um ano melhor que em 2020?

2021 foi um ano atípico para toda a gente, bem como 2020, todos o reconhecem! Mas foi um ano muito interessante também nesta área, continuamos uma empresa familiar, digamos, mas com uma curva de crescimento acelerada. Temos vindo a duplicar o nosso volume de negócios todos os anos e este não foi diferente.

Quantas casas/unidades/alojamentos produziu a Ooty em 2021? Mais ou menos que em 2020? 

Duplicamos o nosso volume de negócios e temos em carteira uma quantidade de trabalhos adjudicados que já projeta que a nossa aceleração anual está garantida. A nossa mudança de instalações em finais do ano passado permitiu-nos assentar agora neste início de ano e também irá facilitar este alavancamento, temos projeções muito interessantes para um futuro próximo.

Quantas casas/unidades/alojamentos tem a Ooty em construção e quantas espera construir em 2022?

Não consigo precisar com clareza, mas são algumas dezenas de trabalhos em execução e contamos passar para a ordem das centenas nos próximos anos. Temos alguns trabalhos que se avizinham muito interessantes e certamente contamos ter mais abertura para falar sobre eles brevemente.

Quem são os principais clientes/compradores da Ooty? Particulares, empresas? De que nacionalidade são os clientes particulares? Há muitos portugueses? 

Por enquanto são mais particulares no setor das casas, mas creio que isso está prestes a mudar. Também trabalhamos com empresas, mais no setor do turismo, mas esse setor tem sofrido um revés evidente pela fustigação desta pandemia. 

A nossa aposta internacional focava-se muito na área do turismo e temos vindo agora a fazer o caminho de apresentação do nosso sistema construtivo no mercado francês e espanhol. Estamos expectantes quanto a isso também, é muito diferente daquilo que já fazíamos nesses mercados, especialmente o francês.

O mercado nacional tem-se mostrado interessante, em franco crescimento e cada vez mais recetivo. Hoje quem procura comprar casa não se limita ao que já conhece, tem acesso facilitado à informação e usam-na. E rapidamente compreendem as vantagens dos nossos sistemas construtivos.

Casas de madeira sustentáveis
Ooty

A procura por este tipo de soluções aumentou com a pandemia? Essa será a tendência?

Talvez a pandemia tenha despertado algo acerca da nossa perceção individual enquanto seres humanos que habitam um planeta que tem de ser preservado. A nossa noção de sobrevivência foi colocada à prova claramente. Contudo temos de compreender que esta é também uma agenda política internacional com objetivos muito ambiciosos quanto à sua necessidade de execução e com tratados assinados que tem de ser cumpridos. O que é excelente, pois estamos a falar de nós, do nosso futuro, da nossa relação com a sustentabilidade e a nossa integração numa ação ecológica que garante um futuro com qualidade não só aos nossos filhos como, cada vez mais o compreendemos, a nós próprios também.

Onde é que a Ooty tem instalado mais casas? Mais junto às cidades ou no campo? Notam diferenças com a pandemia?

Não vemos alteração, pelo menos a esse nível e com essa expressão que possa ser apontada à pandemia. Creio que construímos tanto no campo quanto na cidade. Podemos, contudo, avaliar que a maior parte dos pequenos módulos que produzirmos antes para turismo são hoje muito apontados ao mercado particular, muitas vezes para divisões extra e até escritórios em moradias.

A aposta da Ooty passa também por soluções ambientalmente sustentáveis, de fácil instalação e com elevada eficiência energética e isolamento térmico e acústico? Que materiais/produtos são usados para cumprir esses requisitos?

Obviamente a madeira, que é um material incrível e que nos mercados do sul da Europa esteve adormecido, mas que está a retomar em grande escala. Primeiro porque temos de compreender que este é o material de eleição na construção de moradias nos países mais desenvolvidos do mundo e globalmente disperso, por isso mesmo o desenvolvimento tecnológico na utilização estrutural da madeira tem sido avassalador e hoje já é passível de ser utilizado em construções em altura.

A madeira é nada mais nada menos que stock de carbono absorvido da atmosfera de forma natural e que potencia inúmeras biosferas. Utilizar a madeira na construção não se trata de cortar árvores, muito pelo contrário, trata-se de plantar árvores, acrescentar valor à nossa floresta, capitalizá-la para uma correta manutenção, fomentar o investimento dos estados e das empresas na floresta. O que por si só tem uma enorme diferença na nossa pegada ecológica.

Madeira é e vai ser muito usada na construção
Ooty

Na constituição das nossas paredes contamos com uma subestrutura de madeira, preenchida com um material isolante que pode ser cortiça ou lã de rocha, os painéis são contraventados e completamente selados por telas próprias que garantem a estanquicidade e impedem a criação de condensações, sendo permissivas quanto à respeitabilidade das paredes. Depois, os acabamentos são da decisão do cliente, arquiteto ou já previamente definidos nos nossos modelos, mas são acabamentos que todos nós reconhecemos da construção tradicional. A madeira é um deles, mas a pedra, o capoto e o gesso cartonado podem ser utilizados com a mesma versatilidade que na construção de alvenaria. A principal diferença é que substituímos uma parede de tijolo ou cimento, por um painel altamente isolado, devidamente impermeabilizado e rápido de montar.

As casas da Ooty são construídas com materiais de origem natural e passíveis de serem reciclados, sendo este um modelo de construção que reduz a pegada ecológica, certo? Que durabilidade podem ter estas casas?

Creio que se cria muita confusão entre o que é um produto natural e a sua capacidade de durabilidade. Se estivermos a falar da madeira temos de nos lembrar que existem casas tão antigas nos países do norte da Europa como em Portugal. A nossa baixa pombalina em Lisboa está construída sobre estacaria de madeira e as suas casas reforçadas anti sismicamente estruturalmente em madeira com a chamada gaiola pombalina. As lajes e telhados dos nossos edifícios mais antigos nos centros das cidades são em madeira maciça, as paredes interiores em tabique, que é um entrançado de madeira também. Se formos à Ásia, na China e Japão alguns dos templos mais antigos do mundo, alguns com milhares de anos inclusive, são em madeira. É mais uma questão cultural. Separamo-nos da madeira em meados do século XX, porque basicamente perdemos a nossa floresta e madeiras como o Castanho e a Riga passaram a ser materiais caros comparativamente com o tijolo e o cimento.

A madeira utilizada estruturalmente não sofre os efeitos da exposição e, portanto, desde que devidamente calculadas como se calcula o betão e o ferro, a durabilidade ultrapassará em muito o nosso tempo de vida, e com cuidados de manutenção, como com qualquer outro material, continuará lá por gerações.

Casas pré-fabricadas de madeira
Ooty

O futuro da habitação passa também pela construção de casas sustentáveis de madeira?

Claro. Por tudo o que já expliquei, mas há outro fator que vai ser relevante a curto prazo. O surgimento do interesse e a visibilidade no mercado de um sistema de madeira maciça designado por CLT (Cross Laminated Timber, ou madeira lamelada colada) vai ter uma posição muito interessante na construção das nossas cidades.

Estamos neste momento em parceria com outros promotores a preparar um grande investimento na ordem dos 20 milhões de euros num sistema inovador com grande procura atual em todo o mundo, que é o CLT, um sistema estrutural de madeira maciça de veio cruzado.

Aquilo que no passado romantizou o betão, a potencialidade da construção em altura, está hoje ultrapassado com esta tecnologia [CLT]. Passaremos a poder construir edifícios de vários andares, até mesmo arranha-céus com centenas de andares que estão a ser perspetivados um pouco por todo o mundo"

Aquilo que no passado romantizou o betão, a potencialidade da construção em altura, está hoje ultrapassado com esta tecnologia. Passaremos a poder construir edifícios de vários andares, até mesmo arranha-céus com centenas de andares que estão a ser perspetivados um pouco por todo o mundo. O CLT consegue ter capacidades estruturais semelhantes ao betão e ao metal, mas com um carácter sustentável, plantaremos florestas em vez de arrasarmos montanhas para construir. É, portanto, uma solução muito interessante e países como a França, por exemplo, já legislaram a respeito na construção dos seus edifícios públicos em que já é obrigatória a utilização de madeira em pelo menos 50% da sua estrutura.

Imaginem construirmos os nossos edifícios públicos, as nossas casas, blocos de apartamentos e arranha-céus com um material que elimina quase totalmente o aparecimento de patologias, que não tem pontes térmicas, que garante eficiência energética para todos e ainda por cima ajuda a combater a pegada ecológica, a poluição e torna o planeta mais verde!

Estão a ser construídas cada vez mais casas de madeira
Ooty
Ver comentários (1) / Comentar

1 Comentários:

Zapia
25 Janeiro 2022, 19:58

Meu sonho é construir uma casa de madeira, achei ótimo essa nova tecnologia de construção, tem previsão para chegar ao Brasil?

Para poder comentar deves entrar na tua conta