
O presidente do Sindicato da Construção de Portugal disse esta segunda-feira (26 de junho de 2023) que a exploração laboral no setor é ainda mais extensa do que na agricultura, havendo milhares de emigrantes a viver em caves, longe do olhar público, onde pagam rendas de 200 a 300 euros.
"Os problemas do setor da construção civil não são comparáveis aos da agricultura, são muito mais graves. Nas décadas de 1960, 1970 e 1980 os trabalhadores da construção ficavam em casernas, que se viam, hoje as casernas são subterrâneas e estamos a falar de milhares de trabalhadores”, disse Albano Ribeiro à Lusa no final de uma reunião com o secretário de Estado do Trabalho, Miguel Fontes, em Lisboa, onde alertou para estes problemas.
Segundo o dirigente sindical do Sindicato da Construção de Portugal (filiado na CGTP), milhares de trabalhadores vivem nessas caves em todo ao país onde, dormem, comem e fazem a comida, pagando 200 a 300 euros de renda.
Ao Governo, o dirigente sindical pediu uma maior intervenção da Autoridade para a Condições do Trabalho (ACT), sobretudo nas pequenas obras, onde está o essencial do problema, referindo que 80% dos acidentes de trabalho ocorrem em pequenas obras, onde a ACT raramente faz inspeções. Albano Ribeiro disse à Lusa que, no encontro, o secretário de Estado comprometeu-se com maior intervenção da ACT.
A maioria dos trabalhadores vítimas da “escravatura moderna” são de países da Ásia, como Índia, Bangladesh e Nepal, mas também há da América do Sul, como Colômbia ou Peru, explicou. Quanto a trabalhadores originários de países africanos de língua portuguesa e do Brasil, disse que “não são presas tão fáceis” da exploração laboral porque, desde logo, falam a língua.

Aposta na formação no setor da construção
O Sindicato da Construção considera que outro dos problemas é que a grande maioria dos trabalhadores emigrantes não é qualificada, muitos nunca trabalharam no setor da construção, o que coloca até problemas de segurança nas construções, e que na reunião com o Governo saiu também o compromisso de serem revitalizados centros de formação para trabalhadores da construção civil.
O Sindicato da Construção de Portugal propôs ainda que haja reuniões com industriais e agentes do setor (privados e públicos) para que sejam tomadas medidas contra a exploração de trabalhadores, desde logo dando-lhes “os mesmos direitos e mesmos deveres dos trabalhadores portugueses”. Albano Ribeiro disse que o Governo também concordou com esta iniciativa e que lhe caberá a sua agilização.
“Com estes encontros sabemos que não vamos resolver todos os problemas, mas muitos problemas serão resolvidos. Os trabalhadores que chegam a Portugal têm de ser formados, não sabem o que é ser carpinteiro, ferrageiro, pintor. Não vamos resolver os problemas todos, mas vai haver um avanço de qualidade e sobretudo no respeito como seres humanos”, afirmou.
Faltam 90 mil trabalhadores da construção civil em Portugal
O Sindicato da Construção estima que, em Portugal, tendo em conta as obras contratadas e anunciadas, há falta de 90 mil trabalhadores da construção civil e quando a obra do Aeroporto de Lisboa for adiante faltarão ainda mais 15 mil. Atualmente, a fileira da construção emprega mais de 400 mil pessoas.
O presidente do sindicato considerou ainda que os trabalhadores portugueses que foram para o exterior (nos últimos sete anos saíram 16 mil engenheiros civis, afirmou) não irão voltar tendo em conta os baixos salários que se perpetuam e defendeu que o Contrato Coletivo de Trabalho seja revisto para que melhores salários funcionem como atrativo. Pelo CCT do setor, um operário qualificado (carpinteiro ou pintor) ganha 780 euros.
Para poder comentar deves entrar na tua conta