Solução habitacional para idosos, divórcios e distribuição de heranças explicada pelo CEO da UZU em entrevista ao idealista/news.
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Vender a casa de idosos com direito de usufruto
Ellos Campos, CEO da UZU Home, à direita Créditos: Freepik | UZU Home

O envelhecimento da população em Portugal é uma questão social urgente, sobretudo, para muitos idosos que enfrentam sozinhos o aumento do custo de vida com baixas pensões. Por outro lado, as pessoas com idade mais avançada que vivem em casas próprias são, ao mesmo tempo, agora proprietárias de imóveis que se valorizaram por via da subida dos preços da habitação de uma forma generalizada no país. Foi neste contexto que a startup americana UZU encontrou uma oportunidade de negócio no mercado nacional: a venda de casas com direito de usufruto. Este modelo permite aos “seniores transformar o valor da sua casa em qualidade de vida, sem terem de sair dela”, tal como explica o seu CEO Ellos Campos em entrevista ao idealista/news. 

Foi no verão de 2025 que a UZU Home aterrou em Portugal. E os primeiros passos desta solução habitacional têm sido “acompanhados de dúvidas e receios”, admite o CEO da startup, que abriu recentemente a sua sede no Porto. Mas desmistifica que quando os seniores e as famílias percebem que podem vender a casa e continuar a morar no imóvel de forma vitalícia, o modelo passa a fazer-lhes sentido. Até porque “a segurança jurídica é garantida por contratos com escritura pública e registo predial”, garante.

“Ao manterem o usufruto e venderem apenas a propriedade raiz, ganham liquidez imediata e estabilidade"

Já têm vários processos de angariação de casas em curso no nosso país, destacando-se os casos dos “seniores que vivem com uma pensão baixa numa casa valorizada, mas com custos crescentes”, refere Ellos Campos, apontando também esta solução para casos de divórcio e distribuição de heranças em vida. E são os investidores imobiliários que estão de olho nestas casas, até porque são vendidas com o desconto do usufruto e potencial de valorização no futuro.

“O objetivo é chegar a 2026 com pelo menos 100 propriedades comercializadas”, avança o CEO da UZU nesta entrevista ao idealista/news. E revela também que a startup americana já iniciou a sua expansão internacional no Peru e quer transformar vidas em países “onde há um desequilíbrio entre o valor imobiliário e a capacidade financeira das famílias”.

Vender a casa com direito de usufruto
Ellos Campos, CEO da UZU Home Créditos: UZU Home

A população em Portugal está a envelhecer, com cada vez mais idosos a viverem sozinhos. Que desafios e oportunidades traz este cenário para a habitação no país? 

O envelhecimento da população portuguesa, somado à crescente pressão financeira sobre os idosos que vivem com pensões modestas, cria uma situação social urgente. Muitos seniores enfrentam dificuldades para cobrir despesas básicas como alimentação, saúde e energia. Tudo isto enquanto vivem em imóveis que, embora valiosos, estão subutilizados em termos financeiros. Identificámos aí uma oportunidade: permitir que esses seniores transformem o valor da sua casa em qualidade de vida, sem terem de sair dela. Ao manterem o usufruto e venderem apenas a propriedade raiz, ganham liquidez imediata e estabilidade, numa altura em que o custo de vida continua a subir. 

"Ajudamos as pessoas a manterem o seu lar e estilo de vida, enquanto desbloqueiam o valor económico do imóvel"

Como avaliam a oferta de residências sénior e outras soluções habitacionais para os idosos em Portugal? É suficiente para colmatar a procura? 

Certamente, a oferta atual não é suficiente nem em número, nem em diversidade, e muito menos em acessibilidade financeira. De acordo com o Retrato das Residências Sénior em Portugal, apenas 11% das unidades tinham vagas disponíveis no final de 2024, o que mostra a dimensão do desequilíbrio entre procura e oferta. Muitos idosos não conseguem pagar uma residência assistida ou adaptar a sua casa às suas novas necessidades. E, ainda que queiram continuar a viver de forma autónoma, os rendimentos que têm não são suficientes para fazer face aos aumentos sucessivos no custo de vida. É neste contexto que o nosso modelo se destaca, pois ajudamos essas pessoas a manterem o seu lar e estilo de vida, enquanto desbloqueiam o valor económico do imóvel. Não oferecemos um produto financeiro, oferecemos uma solução habitacional com impacto social direto. 

Idosos a vender casas
Freepik

O que levou a startup americana UZU a entrar no mercado imobiliário português em 2025? E porque decidiram instalar a vossa sede no Porto? 

Portugal reúne as condições ideais para a implementação do nosso modelo: um envelhecimento demográfico acentuado, uma forte ligação emocional e cultural à casa própria, bem como uma realidade económica em que muitos seniores vivem com rendimentos baixos, apesar de possuírem imóveis valorizados. Isto cria uma tensão social real, mas também uma oportunidade de gerar impacto positivo. 

A escolha do Porto como sede foi estratégica. A cidade tem uma elevada densidade de proprietários seniores, especialmente em freguesias onde o valor dos imóveis subiu muito nos últimos anos, criando uma discrepância entre o património e os rendimentos das famílias. O Porto oferece ainda um mercado imobiliário dinâmico, com interesse crescente por parte de investidores nacionais e internacionais, o que facilita a fazermos a “ponte” entre quem vende a propriedade raiz e quem investe na sua valorização futura. 

Outro fator importante foi a qualidade do ecossistema local. O Porto tem talento jurídico, tecnológico e imobiliário, com um ambiente colaborativo que favorece a inovação social. E, claro, temos aqui uma base sólida de parcerias: a C21 Arquitectos, que apoia-nos na mediação imobiliária, e o escritório TELLES, que nos acompanha juridicamente em todas as operações. 

"O usufruto é vitalício e legalmente protegido, o que significa que ninguém os pode expulsar da casa"

O modelo de negócio da UZU consiste na venda da propriedade raiz, com manutenção do usufruto pelos seniores. Quais são as principais vantagens desta transação? Que aspetos é preciso ter em conta? 

Este modelo permite aos seniores desbloquear parte do valor do seu património, sem terem de deixar o lar onde sempre viveram. Numa altura em que as despesas aumentam e os rendimentos permanecem baixos, esta liquidez é muitas vezes a diferença entre viver com tranquilidade ou com incerteza. Com a UZU, o usufruto é vitalício e legalmente protegido, o que significa que ninguém os pode expulsar da casa. A segurança jurídica é garantida por contratos com escritura pública e registo predial, acompanhados por especialistas da nossa equipa e também pelo nosso parceiro TELLES Advogados. A transação é feita com transparência e sem surpresas. 

Direito de usufruto
Sede da UZU no Porto Créditos: UZU Home

Como tem sido a recetividade da população sénior em Portugal a este tipo de negócio? Sentem que ainda há receios? Quantas casas já têm no vosso portefólio? 

Como em qualquer inovação, os primeiros contactos são acompanhados de dúvidas e receios. Mas assim que os seniores e as suas famílias percebem que podem continuar a viver nas suas casas, com dinheiro disponível para cobrir despesas ou melhorar a qualidade de vida, o modelo faz todo o sentido. Sabemos que uma casa é mais do que um bem — é parte da história de cada pessoa. Por isso, ouvimos e respeitamos o vínculo emocional que cada proprietário tem com o seu lar. Já temos vários processos de angariação em curso com casos de seniores que vivem com uma pensão baixa numa casa valorizada, mas com custos crescentes. Estes são exemplos claros de como as soluções UZU podem transformar vidas. 

"O valor da propriedade de raiz é calculado a partir do valor de mercado, descontando o valor do usufruto"

Que garantias oferecem aos proprietários em termos de segurança jurídica e estabilidade no longo prazo? O período de usufruto é determinado no contrato ou é vitalício? 

Oferecemos segurança jurídica aos usufrutuários, seja qual for o formato acordado. Trabalhamos tanto com o usufruto vitalício, que é o mais comum entre seniores que desejam permanecer na sua casa até ao final da vida, como também com usufruto por prazo determinado, que faz sentido em situações específicas, como casais em processo de divórcio, ou pessoas que queiram manter uma segunda casa sem que pese muito sobre o orçamento familiar.

Independentemente do tipo de usufruto, todos os contratos são formalizados por escritura pública, registados na conservatória do registo predial, e acompanhados pela nossa equipa interna em parceria com a assessoria jurídica. Esta estrutura garante que os direitos do usufrutuário estejam juridicamente protegidos e que todas as condições acordadas são cumpridas à risca. A flexibilidade contratual é uma das forças do nosso modelo, adaptamo-nos à realidade e aos objetivos de vida de cada pessoa, sem comprometer a segurança ou a transparência do processo. 

Escritura de casas com direito de usufruto
Freepik

Quais são os critérios que a UZU tem em conta na seleção das propriedades? Como chegam ao valor da propriedade raiz? É sempre mais baixo do que o valor de mercado?

Selecionamos imóveis com base na localização, acessibilidade e potencial valorização. A C21 Arquitectos assegura que as avaliações são realistas. O valor da propriedade de raiz é calculado a partir do valor de mercado, descontando o valor do usufruto, que varia em função da idade ou tempo determinado, condição e tipo de imóvel e contexto do usufrutuário. O preço UZU, que é o valor listado na nossa plataforma, serve como base para as negociações, sempre de forma transparente. 

"Ao venderem a propriedade raiz, os pais podem repartir esse valor entre os herdeiros de forma equilibrada, mantendo o direito de habitação até ao final da vida"

A venda de casa com usufruto também pode ser uma solução em caso de divórcio ou distribuição de heranças em vida. De que forma? 

No caso de um divórcio, a venda da propriedade de raiz com manutenção do usufruto é uma forma prática e justa de organizar o património sem recorrer a litígios longos ou decisões judiciais. Por exemplo, um dos cônjuges pode receber parte do valor correspondente à venda da propriedade de raiz, enquanto o outro, geralmente aquele que fica com os filhos, mantém o direito de usufruto, e eventualmente recebe também uma parte desse valor. Nestes casos, é comum optar por um usufruto com prazo determinado, ajustado à idade dos cônjuges e ao período necessário para garantir a estabilidade aos filhos. Esta solução minimiza o impacto emocional da separação, evitando mudanças bruscas de rotina numa fase já sensível. O modelo assegura estabilidade a quem permanece na casa e liquidez imediata a quem precisa recomeçar. É uma resposta simples, flexível e juridicamente segura.

Já no contexto da herança, o nosso modelo tem sido uma ferramenta poderosa para seniores que querem ajudar os filhos em vida e, ao mesmo tempo, evitar conflitos familiares futuros. Ao venderem a propriedade raiz, os pais podem repartir esse valor entre os herdeiros de forma equilibrada, mantendo o direito de habitação até ao final da vida. Assim, antecipam a distribuição do património, sem perderem a segurança do seu lar. 

Venda de casa no divórcio e herança
Freepik

Este tipo de negócio é atrativo para investidores imobiliários? Porquê? Quem são os investidores que têm demonstrado mais interesse?

Sem dúvida. O nosso modelo é particularmente atrativo porque permite ao investidor adquirir imóveis com descontos relevantes em relação ao valor de mercado, mantendo o potencial de valorização futura previsível, além do facto de trazer imóveis que não estavam disponíveis no mercado convencional. É uma operação com retorno sólido e sem as complexidades e custos com impostos associados à gestão ativa de arrendamento. O que vemos é um interesse crescente de investidores privados com consciência social e fundos de investimento imobiliário focados em bons retornos, baixo risco e estratégias com critérios de sustentabilidade. Estes investidores valorizam o facto de estarem a aplicar capital em ativos que, além do retorno financeiro, têm impacto social real e mensurável, apoiando seniores a viver com dignidade e autonomia. 

"O principal desafio será continuar a educar o mercado, (...), combater preconceitos e mostrar que é possível transformar imóveis em estabilidade financeira e impacto social"

Quais são as vossas expectativas de evolução de negócio da UZU em Portugal? Quantas casas esperam ter no mercado e quantos negócios preveem fechar no próximo ano? Que desafios esperam enfrentar na implementação deste negócio?

Começámos no terceiro trimestre de 2025 e está a ser um ano de construção sólida do nosso portfólio de propriedades em Portugal. Temo-nos reunido com muitos proprietários e investidores de diferentes tamanhos e o feedback é muito esperançoso. Isto podemos também comprovar pelos números de propriedades tratadas e em fase de negociação ativa. 

O objetivo é chegar a 2026 com pelo menos 100 propriedades comercializadas, consolidando a UZU como referência neste segmento do mercado. Sabemos que este crescimento exigirá não apenas escala, mas consistência, com forte comprometimento com a satisfação de ambos: proprietários e investidores.

O principal desafio será continuar a educar o mercado, explicar o modelo de forma clara, combater preconceitos e mostrar que é possível transformar imóveis em estabilidade financeira e impacto social. Estamos confiantes porque temos um modelo sólido, parcerias fortalecidas e um mercado cada vez mais consciente da urgência de soluções habitacionais inovadoras para a população sénior. 

Investidores imobiliários
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A UZU pretende estar presente noutros países? Quais? E porquê? 

Sim, já estamos em fase de expansão internacional. Iniciámos um projeto piloto no Peru, um mercado com características diferentes do mercado português, no que diz respeito à demografia e outros aspetos de mercado. Esta escolha deve-se ao facto do Peru ser um país pequeno da América Latina, sendo a base para avançarmos com prudência nesse continente. 

O nosso foco está em países onde há um desequilíbrio entre o valor imobiliário e a capacidade financeira das famílias e onde o usufruto pode ser juridicamente estruturado, gerando impacto real na qualidade de vida das pessoas. O modelo UZU tem um enorme potencial de impacto positivo em várias geografias. A nossa missão é escalar esta solução com responsabilidade, adaptando-a e respeitando sempre a realidade de cada mercado.

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