Turismo residencial e investimento em ‘branded residences’ são duas formas de diversificar a oferta turística em Portugal.
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Turismo e imobiliário unem esforços
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Reerguer o turismo é a missão de Portugal nos próximos anos. Aquele que foi considerado o setor mais afetado pela pandemia da Covid-19 já dá sinais de recuperação e o Plano Reativar o Turismo (PRT), com os seus 6 mil milhões de euros, vem ajudar neste processo. Mas há ainda muito a fazer para em 2027 conseguir superar os 27 mil milhões de euros em receitas turísticas – o objetivo traçado. Aliar a sustentabilidade à criação de riqueza e bem-estar em todo o território, apostando na diversificação de mercados, é o caminho. O turismo residencial e o mercado de ‘branded residences’ (unidades residenciais pertencentes a uma marca de alojamento) podem ser a chave do futuro do setor.

“Este é o tempo de recomeçar”. As palavras são de Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal e da Comissão de Acompanhamento e Monitorização do PRT, que marcou presença na Conferência SIL Pro Powered by APR, que decorreu na manhã desta quinta-feira (dia 7 de outubro de 2021), dia em que arrancou o SIL 2021.  

E para o fazer há que apoiar as empresas do turismo, destinando três mil milhões de euros em instrumentos financeiros – cerca de 50% do PRT – adaptados às exigências do momento. Mas não só. O caminho para reativar o turismo passa também pelo aumento da segurança sanitária dos alojamentos e serviços, algo “que nunca foi tão importante para setor”, disse Luís Araújo. Gerar negócio no curto e médio prazo é outro dos grandes pilares do PRT, isto estimulando os mercados, facilitando a compra, repondo a conetividade e informando os consumidores. E isto faz-se, segundo exemplifica o presidente do Turismo de Portugal, captando rotas de companhias aéreas que estão disponíveis para abrir o leque da sua oferta, como é o caso da espanhola Iberia. 

Turismo e imobiliário unem esforços
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Tudo isto é preciso para “repor a confiança e negócio do turismo” e também para gerar bases sólidas para “acelerar a construção do turismo do futuro que se pretende ser mais inteligente, mais responsável e mais sustentável”, disse ainda o responsável, na apresentação do PRT.

Colocado este plano em marcha, a expectativa é mesmo começar a ver resultados positivos já este ano. Note-se que a receita no turismo entre janeiro e agosto de 2021 ficou pelos 5,5 mil milhões de euros, cerca de +2,4% que em 2020, mas -56,1% que em 2019. A expectativa para o final do ano é só uma: que as receitas alcancem pelo menos metade do registado em 2019 – que foi, aliás, o “melhor ano de sempre no turismo nacional”, salientou na ocasião o presidente do Turismo de Portugal. Só em 2023 se espera alcançar os números de 2019, avançou ainda.

Turismo residencial ganha força
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Apoios às empresas estão “bloqueados”

Cerca de 80% das mais de 50 medidas desenhadas no âmbito deste plano já estão em curso, segundo Luís Araújo. Mas Francisco Calheiros, presidente da Confederação do Turismo de Portugal (CTP), alertou que os apoios ainda não estão a chegar às empresas: “É urgente desbloquear estes apoios”. Os mais de três mil milhões para capitalização das empresas “tardam em sair do papel”, sublinhou.

E acrescentou ainda que só os apoios previstos do PRT não chegam. É preciso mais: “É urgente um novo aeroporto, pois o turismo é feito por estrangeiros; reduzir impostos como o IMI, IMT e imposto de selo; e aplicar taxas reduzidas aos golfs e spas”, salientou, lembrando que para trazer inovação e criar uma nova proposta de valor para o turismo é preciso “negociar com os investidores”.

"Governo conta também com o contributo do turismo residencial para que o futuro do turismo seja promissor”
Rita Marques, secretária de Estado do Turismo

O plano para reativar o turismo “mantém as pessoas e profissionais do setor no centro da sua estratégia”, referiu Rita Marques, secretária de Estado do Turismo. Mas para que tudo flua, há que haver comunicação entre o público e o privado. Luís Araújo ressalvou que “há preconceitos de um lado e outro – privado e publico – e há que quebrar estas barreiras”. “A transparência é essencial”, sublinhou.

Turismo residencial em Portugal
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Turismo residencial: uma alavanca

Nesta reativação do setor, o turismo residencial tem um papel importante. Na sua intervenção por vídeo na sessão, Rita Marques disse mesmo que o Governo “conta também com o contributo do turismo residencial para que o futuro do turismo seja promissor”.

Apostar na diversificação de mercados turísticos faz parte da estratégia. O turismo residencial – que permite ao investidor usufruir do ativo alguns meses e arrendá-lo o resto do ano – tem-se revelado uma oferta atrativa, sobretudo porque há uma “distribuição das necessidades de investimento e o risco pelos proprietários”, explicou Rui Meneses Ferreira, presidente da Associação Portuguesa de Resorts.

Para o futuro “é fundamental ter novas unidades preparadas para os novos desafios e para a procura que teremos”, disse ainda Rui Ferreira. E isso passa, por exemplo, por criar novos projetos com maior oferta de serviços, sugeriu Miguel Palmeiro, board member do Vilamoura World. Isto porque o Algarve enquanto região onde o turismo residencial tem maior expressão tem vindo a sentir que os turistas estão a alongar cada vez mais as suas estadias e, por isso, precisam de serviços para suprir as suas necessidades. 

"Estão a sentir-se mudanças na procura (...). Hoje, o residencial turístico é uma alternativa de investimento"
Joaquim Goes, CEO da Blue & Green

Também Joaquim Goes, CEO da Blue & Green, que está a desenvolver o Verdelago, no Algarve, disse que já se estão “a sentir mudanças na procura”, sendo “os compradores essencialmente portugueses”. “E isto reflete as poucas oportunidades de investimento no país. Hoje, o residencial turístico é uma alternativa de investimento”, concluiu. As novas formas de trabalhar, “mais liberais”, permitem que haja uma mudança de paradigma em que o residencial e o lazer se fundem. E tudo isto se reflete na oferta. 

Turismo no Algarve
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‘Branded Residences’: uma nova aposta em Portugal 

A diferenciação da oferta passa também por um novo conceito, criado nos EUA: as ‘branded residences’. Que são nada mais nada menos que complexos residenciais associados a uma marca. Em Portugal, já há empreendimentos deste tipo no Algarve e em Lisboa.

"O conceito de ‘branded residences’ e hotel fora da cidade é um conceito a desenvolver em Portugal"
Claude Kandiyoti, CEO da Krest Real Estate Investments

“Trata-se de um casamento entre o ‘owner’, ‘developer’ e a marca e, no fundo, todos ganham”, explicou Paula Sequeira, head of consultancy da Savills, considerando que “é um tema muito em voga” e que tem “muito para crescer no país”. Miguel Palmeiro assumiu que “ter este tipo de ativo traz diversificação dos canais de vendas” e avançou que “em Vilamoura a opção está em cima da mesa”, adiantando que em breve vai ser uma realidade. 

Também Claude Kandiyoti, CEO da Krest Real Estate Investments, que tem investimentos no país no Algarve, Lisboa e Porto, enalteceu a aposta no mercado das ‘branded residences’, frisando que são uma opção para o novo empreendimento que a promotora imobiliária está a fazer nascer em Campanhã, no Porto. E nota ainda que “Portugal tem espaço para criar novas localizações”, até porque “as pessoas querem sair da cidade, mas precisam das ‘amenities’ e dos serviços que só encontram nas cidades”. “O conceito de ‘branded residences’ e hotel fora da cidade é um conceito a desenvolver” no país, concluiu.

Turismo recupera
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