Portugal continua a ser um destino atrativo ao investimento imobiliário. Mas os 530 milhões de euros investidos nos primeiros seis meses do ano representam uma queda homóloga na ordem dos 70%. Este travão na atividade é apenas comparável com 2014 e com os anos anteriores à crise económica e financeira.
O arranque de 2021 não foi o melhor. Marcado pelo segundo confinamento geral no país, a atividade de investimento foi fortemente afetada. No segundo trimestre, quando as restrições começaram a ser levantadas, o volume de investimento recuperou: aumentou 65% face ao trimestre anterior e atingiu os 330 milhões de euros, refere a consultora CBRE, em comunicado. Mas não foi suficiente para colmatar os danos.
Do total investido durante os primeiros seis meses do ano, 40% foi canalizado para ativos de escritórios (210 milhões de euros), 31% para imóveis residenciais de arrendamento (165 milhões de euros) e 14% para retalho (75 milhões de euros).
Entre os principais negócios concretizados a CBRE destaca a transação do portefólio Navigator, que integra sete edifícios de escritórios, a venda do edifício que aloja a sede da WPP Portugal em Lisboa, a transação do edifício D. Manuel II, no Porto, e ainda a venda do Hotel Exe Saldanha, localizado no centro de Lisboa.
“Mesmo com toda a incerteza relativamente ao futuro do trabalho e ao regresso ao escritório físico, vemos muito interesse por parte dos investidores em ativos de escritórios, em particular nas localizações 'prime' e de referência na cidade", explica Nuno Nunes, senior director para a área de Capital Markets da CBRE Portugal.
Os edifícios residenciais para rentabilizar são um novo foco. “Há muita procura por produto residencial e apesar de Portugal não ter ainda projetos de ‘build to rent’, estamos envolvidos em algumas transações, tanto de grandes portefólios como de edifícios avulsos”, refere ainda Nuno Nunes.
O retalho de rua tem sido o ativo refúgio para aceder aos vistos gold enquanto ainda é possível. Nuno Nunes explica no documento que “têm-se concretizado diversos negócios envolvendo vistos gold em lojas de comércio de rua, uma tendência que advém da decisão legislativa de término deste programa para o mercado residencial nas zonas litorais, nomeadamente nas cidades de Lisboa e Porto”.
Desempenho da ocupação depende do setor
Os escritórios foram um dos setores mais impactados pelos efeitos das restrições associadas ao combate à pandemia, nomeadamente pela imposição do regime de teletrabalho obrigatório. E isto refletiu-se no mercado de ocupação: foram colocados 55.000 metros quadrados (m2) em Lisboa ao longo do primeiro semestre, o que reflete uma quebra de 34% face ao período homólogo. Ainda assim, as perspetivas são mais animadoras para a segunda metade do ano, diz a CBRE.
Relativamente à logística, a CBRE indica que o setor está a verificar níveis de atividade recorde, tendo registado um total de 227.000 m2 de espaços contratados no primeiro semestre – quase o mesmo que o registado no conjunto do ano passado.
No que diz respeito ao retalho, a consultora, que é responsável pela gestão de 16 centros comerciais e ‘retail parks’ localizados em vários pontos do país, adianta que se está a verificar uma recuperação mais rápida do que a registada no ano passado após o primeiro confinamento, o que revela “uma retoma na confiança dos consumidores”.
Mais dinamismo na segunda metade do ano
Apesar do investimento imobiliário ter travado a fundo no primeiro semestre do ano, a CBRE espera uma “segunda metade do ano bastante mais dinâmica, em função dos negócios em curso”. Destes, os mais caros envolvem as classes de ativos associadas a camas – tais como hotéis, habitação e até mesmo algumas unidades de saúde. Esta é uma previsão em linha com a da Cushman & Wakefield, que assume mesmo que “os ativos hoteleiros (...) poderão ser a grande surpresa em 2021”. Há ainda diversos edifícios de escritórios em negociação, refere ainda a consultora CBRE.
Contas feitas, o investimento estimado para o final do ano situa-se entre os 1.700 e os 2.700 milhões de euros. Esta diferença de mil milhões é justificada por uma transação que só por si representa esse valor. “No entanto, devido à sua dimensão e complexidade, esta poderá derrapar para 2022, impactando fortemente os resultados de 2021”, justifica a consultora.
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