Retalho e turismo mantêm-se resilientes. Mas escritórios e habitação arrefecem entre janeiro e setembro, aponta estudo.
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Investimento imobiliário em Portugal
Foto de Jack Sparrow no Pexels

O contexto vivido na Europa nos últimos meses, pautado pelos elevados níveis da inflação, pelo aumento dos custos dos empréstimos e pela falta de ajuntamento dos preços de venda ao poder de compra, está a condicionar o investimento imobiliário. E o mesmo se passa em Portugal. De janeiro e setembro, foram investidos 1.021 milhões de euros no imobiliário português, o que representa uma queda de 48% face ao mesmo período de 2022. E, neste panorama, o segmento de escritórios tem sido o mais afetado, enquanto o retalho e o turismo se mantêm resilientes.

Embora o investimento imobiliário em Portugal tenha arrancado o ano de 2023 com o pé direito, no terceiro trimestre de 2023 sentiu-se uma diminuição expressiva: foram movimentados apenas 262 milhões de euros, um valor que representa um decréscimo de 46% face ao trimestre anterior, aponta o Real Estate Market Overview da Savills Portugal.

“Os volumes de investimento registaram um decréscimo generalizado em várias classes de ativos, com os escritórios a continuarem a enfrentar a queda mais significativa”, dizem no relatório. Apesar do contexto desafiante, os segmentos de retalho e hotelaria demonstraram ser os mais resilientes, contribuindo para 38% e 37%, respetivamente, do volume de investimento imobiliário acumulado entre janeiro de setembro. Também o segmento de residências para seniores mostrou resiliência.

“O panorama do investimento em Portugal está alinhado com o restante mercado europeu, com quase todas as geografias a registar quedas neste domínio. O acréscimo dos custos do financiamento e a falta de correção dos preços de venda continuam a estar na base de processos de tomada de decisão mais longos que se refletem numa diminuição natural quer em número de transações quer em volume de investimento, com a concessão de empréstimos para negócios de grande dimensão ou ativos secundários, a ser mais dificultada”, explica Paulo Silva, Head of Country da Savills Portugal, que acredita que “a recuperação do mercado será gradual, ao ritmo do ajustamento dos preços de venda e da melhoria do contexto económico.”

Investidores imobiliários em Portugal
Foto de Gustavo Fring no Pexels

Venda de casas em Portugal está a arrefecer em 2023

Também no mercado residencial foi detetado um arrefecimento nas vendas de casas em 2023, dado os elevados preços ainda praticados, a par dos altos juros e reduzido poder de compra. Em concreto, no verão de 2023 foram comercializados 31.809 imóveis residenciais em Portugal Continental, menos 20% que no período homólogo e menos 5% face ao trimestre anterior. Esta descida na venda das casas também se sentiu em Lisboa (-23%) e no Porto (-22%) em termos homólogos.

O que também é visível na habitação é que, embora os preços das casas tenham desacelerado o ritmo de aumento, estão a resistir a um ajustamento em baixa. No mercado de luxo de Lisboa, houve uma contração de 3,4% no valor das casas novas à venda, mas um aumento de 2,3% no caso dos imóveis usados. Já no mercado do Porto, os aumentos foram de 2% para casas novas e 6% para casas usadas, explicam em comunicado.

De notar que em Portugal, além da elevada inflação, dos juros altos e das tensões geopolíticas, o mercado imobiliário enfrenta ainda “constantes alterações legislativas relacionadas com o fim dos golden visa e com o RRNH [regime de Residentes Não Habituais], aliados a fatores como o aumento dos custos de construção”, que “impactam significativamente” o mercado residencial nacional, considera Miguel Lacerda, Lisbon Residential Director da Savills.

De qualquer modo, o nível de venda de casas em planta em Lisboa mostra que o mercado continua dinâmico. E, neste contexto, também “Vila Nova de Gaia consolidou este ano a sua posição de principal destino de investimento em nova promoção residencial do país”, destacou João Leite de Castro, Commercial Director na Savills.

Venda de casas em Portugal
Foto de Kampus Production no Pexels

Como está a ocupação do imobiliário comercial em Portugal?

Também o arrendamento de espaços comerciais em Portugal decorre a duas velocidades. Enquanto o retalho e o turismo mantêm ou até têm elevado as novas aberturas, os escritórios e a logística têm sentido um decréscimo na ocupação, tal como revela o relatório da Savills:

  • Escritórios: em Lisboa houve uma queda de 71% de ocupação nos primeiros 9 meses do ano (registando um total de 72.133 m2), mas o terceiro trimestre tem mostrado uma recuperação. Também no Porto, o mercado de escritórios registou uma descida de 10% em termos de volume de absorção (40.615 m2), também com uma recuperação no verão de 2023. Já as expectativas de ocupação para a reta final de 2023 estão mais otimistas nos dois mercados, dada a elevada procura de espaços de escritórios de qualidade. E para 2024-2024 esperam-se novos espaços de escritórios a chegar às duas cidades (+221.000 m2 em Lisboa e +61.000 m2 no Porto);
  • Logística: na Grande Lisboa, o volume de ocupação logística acumulado dos primeiros nove meses registou uma queda de 5% face ao mesmo período de 2022. Já no Grande Porto registou-se uma absorção total de cerca de 80.000 m2 no mesmo período, atingindo o “melhor resultado dos últimos 5 anos” (+61% face ao período homólogo). Desde a Savills, indicam que continua a haver a necessidade de serem construídos mais espaços de logística no país. E os investidores continuam com apetite para desenvolver e as empresas para ocupar estes espaços;
  • Retalho: em Lisboa foram registadas 80 novas aberturas de lojas no verão de 2023, enquanto a cidade do Porto acolheu 18 novas lojas. “O mercado mantém-se resiliente, com os setores de F&B [restauração] e de distribuição alimentar a liderar a procura”, muito impulsionada pelo turismo, destaca José Galvão, Head of Retail da Savills;
  • Turismo: durante o verão de 2023, 41 novos hotéis abriram as suas portas em Portugal e espera-se que ocorram ainda 26 novas aberturas de hotéis durante a reta final do ano, oferecendo cerca de 2.300 quartos em todo o país. Foi em Lisboa onde abriram mais hotéis (20 unidades), seguido do Alentejo, da região Norte e da cidade do Porto. Esta maior oferta vai ao encontro da maior procura turística sentida no país (+9% de dormidas entre janeiro e setembro de 2023 face ao mesmo período de 2019), sobretudo por parte dos cidadãos britânicos, alemães e espanhóis. “2023 está a ser um ano marcado pelo sucesso e números recorde, com uma previsão de recuperação total dos números de turismo que ultrapassam os dados do período pré-pandémico”, conclui Luís Clara, Capital Markets Associate Director da Savills.

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