
A pandemia da Covid-19 “obrigou” as pessoas a ficarem em casa, em teletrabalho, e desde então continua a haver muitas no regime de trabalho híbrido, em que uns dias da semana ficam em casa e nos outros vão ao escritório. Irá esta tendência manter-se? Jorge Bota, presidente da Associação de Empresas de Consultoria e Avaliação Imobiliária (ACAI), considera que não, havendo “claramente uma pressão muito grande por parte das empresas para fazer regressar as pessoas ao escritório”. Porquê? Porque “a produtividade, afinal, ressentiu-se” e porque “o espírito de equipa, de camaradagem, de colaboração dos empregados das empresas foi seriamente afetado”, diz em entrevista ao idealista/news.
“Há diretores gerais de empresas que dizem que têm colaboradores que nunca viram, que não conhecem. Isto não pode ser visto como o novo normal”, acrescenta, salientando que “os escritórios continuam a ser um ativo muito interessante em Portugal e na Europa”. “No Reino Unido e nos EUA há, sim, algumas situações em que o setor tem tido dificuldade, porque são empresas de grande dimensão e não conseguem trazer de volta os trabalhadores e estão a reduzir espaço”, conta.
Quando questionado sobre se no segmento de escritórios continua a haver muito interesse e falta de espaços para dar resposta à procura, o presidente da ACAI – que é também managing partner da consultora B. Prime –, responde que sim, apesar de confirmar que houve um abrandamento na atividade relativamente a 2022: “Começa a sentir-se, desde o terceiro trimestre, uma reativação do mercado. Já se nota essa retoma. Temos conhecimento, por exemplo, de uma proposta de uma empresa internacional acima do preço de arrendamento pedido, só para agarrar o espaço, porque há uma outra proposta”.
"Se alguém está à procura de 4.000 metros quadrados (m2) de escritórios, que nem sequer é uma coisa transcendental, não há”
Jorge Bota garante, de resto, que as consultoras imobiliárias associadas da ACAI – B. Prime, CBRE, Cushman & Wakefield, JLL, Savills e Worx – recebem contactos todas as semanas de novas empresas a querer entrar em Portugal, o que é um bom indicador. “Há sempre soluções, desde que as empresas tenham flexibilidade para se ajustar à oferta. Para os grandes ocupantes sim, é muito difícil. Se alguém está à procura de 4.000 metros quadrados (m2) de escritórios, que nem sequer é uma coisa transcendental, não há”, frisa.

Logística: “Procura manteve-se idêntica”
No caso do segmento da logística, e em jeito de balanço de atividade em 2023 face a 2022, o especialista confirma que “a procura se manteve idêntica” e que “o problema continua a ser a oferta, que é muito limitada de produto de qualidade”.
“Os operadores, e muitos são internacionais, estão bastante preocupados com as questões ESG (Environmental, Social e Governance) e é muito difícil encontrar soluções disponíveis no mercado. Há novos projetos em construção, mas quase totalmente tomados. É um mercado que tem espaço para angariar novo produto, nova promoção. A tendência é que nos próximos anos haja uma necessidade de reposicionamento de muitas empresas, que não vão continuar a poder ocupar determinados armazéns que não cumprem as regras que as casas-mãe lhes indicam em termos de sustentabilidade”, antevê Jorge Bota.

Retalho? “É um segmento mais maduro”
Relativamente ao segmento de retalho, está “mais maduro”, indica o presidente da ACAI, salientando que os “centros comerciais atingiram o limite”, havendo apenas espaço para reposicionamentos, remodelações etc.”, e que no comércio de rua “há um grande dinamismo, principalmente nas zonas mais atrativas”, havendo sempre novas marcas a procurar entrar no mercado.
Sobre o e-commerce, que cresceu à boleia da pandemia, é perentório: “Acabou por não ser tão impactante como se tinha previsto. Houve um crescimento muito acentuado durante a Covid-19, mas parou. E o que nos vão dizendo os retalhistas é que até houve alguma regressão, sendo que as lojas passaram a funcionar não só como pontos de venda, mas também como pontos de distribuição de alguns dos produtos vendidos digitalmente. É um mercado que está num processo de recomposição e que ainda não consolidou a solução que irá ser o novo normal, ainda está à procura de qual o formato ideal, mas mantém-se muito dinâmico”.
"[O e-commerce] acabou por não ser tão impactante como se tinha previsto. Houve um crescimento muito acentuado durante a Covid-19, mas parou. E o que nos vão dizendo os retalhistas é que até houve alguma regressão, sendo que as lojas passaram a funcionar não só como pontos de venda, mas também como pontos de distribuição de alguns dos produtos vendidos digitalmente"
Hotelaria com altos níveis de rentabilidade
Já o segmento hoteleiro “reflete a situação do mercado do turismo em Portugal”, com “níveis de rentabilidade que não teve nos últimos anos”. “Os preços da diária de um quarto de hotel aumentaram bastante e a taxa de ocupação está ainda mais elevada face ao passado”, sublinha.
Jorge Bota considera, em resumo, que o turismo está numa situação muito positiva – “Penso que vai continuar a haver novos projetos quer nas cidades quer nos destinos sol e praia” –, mas deixa um aviso: “O risco que vejo é que provavelmente estamos a atingir o pico dos preços. A partir dessa altura, ou se reduz a procura ou podemos chegar ao limite de Portugal deixar de estar no mapa como um destino normal, standard, e passar a ser um destino de nichos de mercado, que acho que não é o que se pretende para o país”.

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