Procura por este tipo escritórios está a crescer em Portugal e a taxa de ocupação é elevada. O idealista/news foi perceber porquê.
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Gonçalo Lopes
Gonçalo Lopes

As pessoas circulam pelos corredores prestes a entrar numa reunião de trabalho virtual, que muitas vezes acaba por acontecer numa ‘phone booth’ ou numa sala de reuniões que foi marcada através de uma app. Salas essas que podem fazer alusão a temas específicos, como filmes. E sim, também existem salas de cinema. Há ainda espaços lounge, muita luz natural, terraços com vistas desafogadas para Lisboa, amplas zonas de copa. E tudo flui sempre de forma informal e descontraída. Há trabalhadores independentes (freelance) de diferentes áreas de atividade, há pequenas e médias empresas e também organizações já com muitos trabalhadores. E há eventos ao final do dia que promovem o networking e oferecem momentos de lazer. Tudo em prol do work-life balance. A “magia” dos escritórios flexíveis vai além do “tradicional” coworking e parece estar, definitivamente, a ganhar espaço no segmento de escritórios em Portugal.

O idealista/news foi sentir o pulso ao mercado dos chamados flex offices, um segmento – o do trabalho flexível – que está a atrair cada vez mais ocupantes/arrendatários, quer sejam pessoas singulares ou empresas. Empreendedorismo e networking convivem lado a lado nestes espaços, que têm como missão, segundo os seus gestores, “fazer as pessoas felizes no trabalho”. Com muitos ou poucos sorrisos, a verdade é que a procura por este tipo escritórios está a acelerar, sendo a taxa de ocupação (e a lista de espera) elevada.

IDEA Spaces Saldanha
IDEA Spaces Saldanha Créditos: IDEA Spaces

“Um espaço que faz com que não nos sintamos sozinhos”

O IDEA Spaces Saldanha é a primeira paragem da equipa do idealista/news. Um espaço que nasce em plena pandemia (em 2020) e onde existe, logo à entrada, um mural de homenagem à “resistência” vivida nesse período, sendo o terceiro a ser inaugurado pela empresa – os outros encontram-se também em Lisboa, no Parque das Nações, no Palácio Sotto Mayor, na zona de Picoas, e em São Sebastião. É ali, numa das muitas salas de reuniões do edifício com 10 andares onde se instalou o IDEA Spaces, que conhecemos Rui Simões, sócio-gerente na PixelStudio, que faz serviços de multimédia e live streaming de eventos.

“A PixelStudio já existia em 2015, quando entrámos para o IDEA Spaces. Na altura estava a procurar um espaço onde pudesse receber clientes, principalmente, porque trabalhava a partir de casa. Fiz uma visita ao IDEA Spaces do Parque das Nações, que era o que existia na altura, e gostei bastante. Do espaço, do acesso à sala de reuniões e a todas as infraestruturas e serviços existentes, como internet e fotocopiadoras. E mesmo das pessoas que trabalham no IDEA: percebi que ia ficar bem entregue”, conta.

Rui Simões, sócio-gerente na PixelStudio
Rui Simões, sócio-gerente na PixelStudio Créditos: Gonçalo Lopes | idealista/news

Enaltecendo o facto de os custos serem inferiores aos praticados num escritório tradicional, Rui Simões toca noutro ponto que considera essencial: “Estar num espaço como este faz com que não nos sintamos sozinhos. Hoje fala-se muito na questão da saúde mental e do isolamento das pessoas. Este espaço também vem combater um bocadinho essa questão. Nunca me senti sozinho, ou seja, ali é como se fossemos todos da mesma empresa, acabamos por criar uma relação de proximidade uns com os outros”.

E acrescenta: “Só o facto de ir à copa beber um café é o suficiente para falar cinco minutos com alguém e perceber que temos ali, se calhar, uma oportunidade de parceria de negócio. Isto acontece diariamente, com bastante facilidade, o que é excelente para qualquer empresa que está num espaço como este. Há imensas oportunidades de negócio”.

O responsável destaca ainda a mais-valia que é poder usufruir dos quatro IDEA Spaces existentes, ou seja, apesar de ter uma secretária fixa no Parque das Nações pode, por exemplo, reunir com clientes nos restantes espaços. E tudo de forma simples e rápida, através de uma app. Elogia, também, o recrutamento que é feito por parte da equipa do IDEA Spaces. “Sentimo-nos em casa. Qualquer problema é resolvido na hora e com muita dedicação. É evidente que há uma preocupação em estarmos bem”, salienta.

Rui Simões aponta, de resto, à continuidade da PixelStudio no espaço, mesmo que haja um crescimento do negócio. “A empresa tem feito boas parcerias aqui, acredito que não teria crescido da mesma maneira se tivesse fechado num escritório tradicional. Foi claramente uma mais-valia para a empresa estar aqui”.

Telmo Monteiro, sócio-gerente na 2DO Insurance
Telmo Monteiro, sócio-gerente na 2DO Insurance Créditos: Gonçalo Lopes | idealista/news

“Um espaço excelente para fazer crescer uma empresa”

Telmo Monteiro, sócio-gerente na 2DO Insurance, empresa de mediação de seguros e de intermediação de crédito – tem cinco colaboradores e duas lojas físicas –, também se desfaz em elogios ao IDEA Palácio Sottomayor, onde se encontra há oito anos, tendo passado antes pelo IDEA Parque das Nações.

"Além de ter clientes que vêm daqui, também tenho fornecedores que vêm do IDEA. [Há essa vantagem] é poder chegar ao IDEA e falar com a empresa que me faz as redes sociais, com o informático que me ajuda, com o contabilista, etc. Isso faz com que as pessoas escolham este espaço porque têm vários serviços num mesmo espaço. É confortável"
Telmo Monteiro, sócio-gerente na 2DO Insurance

“É um espaço de networking puro, onde o custo na relação preço-qualidade ou preço-condições é relativamente competitivo. Posso dizer claramente que ao longo destes oito anos cresci muito como empresa por estar no IDEA”, conta.

Para Telmo Monteiro não há dúvidas, trata-se de um “excelente espaço para fazer crescer uma empresa, porque tem condições fantásticas e a própria comunidade é interessante”. “Além de ter clientes que vêm daqui, também tenho fornecedores que vêm do IDEA. [Há essa vantagem] é poder chegar ao IDEA e falar com a empresa que me faz as redes sociais, com o informático que me ajuda, com o contabilista, etc. Isso faz com que as pessoas escolham este espaço porque têm vários serviços num mesmo espaço. É confortável”, sustenta, considerando que o modelo de escritórios tradicional está a perder terreno, porque as empresas procuram cada vez mais conforto, inovação e serviços. “Ir a um escritório a um segundo andar de um prédio já não é muito habitual”, remata.

SITIO Guimarães
SITIO Guimarães Créditos: SITIO

“Momentos de contacto com pessoas diferentes”

O SITIO Fintech House, na Avenida Duque de Loulé, em Lisboa, uma das 12 unidades da rede SITIO a nível nacional, é o segundo espaço visitado pela nossa reportagem. Trata-se de um edifício de dez andares que nasce na sequência de uma parceria entre a rede de espaços de trabalho flexível SITIO e a Associação Portugal Fintech, acolhendo várias startups da área e prestando apoio a profissionais e inovadores do setor.

A conversa com dois dos ocupantes/utilizadores do SITIO Fintech House acontece na zona do auditório do edifício, onde no dia anterior se tinha realizado um evento dedicado ao empreendedorismo.

Henrique Brás, co-founder & CSO da Relive
Henrique Brás, co-founder & CSO da Relive Créditos: Gonçalo Lopes | idealista/news

“Faz quase dois anos que nos mudámos para o SITIO Fintech House. Anteriormente estávamos num escritório normal, onde tínhamos uma zona de copa, etc., mas concluímos que não só não era pratico como também não tinha o conceito de comunidade, a envolvência com outras empresas, o que muitas vezes é importante, principalmente numa empresa jovem, numa startup”, começa por explicar Henrique Brás, co-founder & CSO da Relive, definindo a organização como uma imobiliária digital para a nova geração de consultores imobiliários

“Sentimos que um espaço de coworking dava-nos essa dinâmica que é super importante. E depois também foi algo que vimos que é muito comum nos EUA, onde há cerca de três anos passámos a operar. Vimos vários espaços em Lisboa e acabámos por ficar conquistados com este, pelas instalações, pela dinâmica e por aquilo que a equipa do SITIO Fintech House tem desenvolvido”, explica.

A criação de eventuais sinergias e o potencial do networking também são fatores a ter em conta, aponta Henrique Brás. “No mercado imobiliário estamos sempre dependentes de relações humanas, e na Relive motivamos muito os consultores, porque é assim que desenvolvem o seu negócio, é conhecendo novas pessoas todos os dias, desenvolvendo essas relações. O bom de estar num espaço de coworking é justamente isso, porque dá-te esses momentos de contacto com pessoas diferentes. Essa dinâmica é muito boa”, sustenta, reforçando a ideia de que alguém que se conhece hoje pode ser cliente amanhã.

"Estamos a contratar colaboradores e, possivelmente, vamos precisar de um espaço maior em breve, daí a vantagem de estarmos num espaço como este, onde podemos facilmente trocar para uma zona que tenha mais espaço para receber novos colaboradores"
Henrique Brás, co-founder & CSO da Relive

A possibilidade de ver o negócio crescer e poder, de forma rápida e simples, aumentar a dimensão do escritório é outras das vantagens que Henrique Brás encontra neste modelo de trabalho de flex office, sendo flexibilidade palavra-chave: “Temos metade da equipa aqui no SITIO Fintech House e a outra metade está em diferentes cidades dos EUA, no Texas, Austin, Dallas e Huston. Portanto, temos a equipa separada, digamos assim, entre dois países. Estamos a contratar colaboradores e, possivelmente, vamos precisar de um espaço maior em breve, daí a vantagem de estarmos num espaço como este, onde podemos facilmente trocar para uma zona que tenha mais espaço para receber novos colaboradores”.

Nuno Pereira, fundador e CEO da Paynest
Nuno Pereira, fundador e CEO da Paynest Créditos: Gonçalo Lopes | idealista/news

A importância da partilha de aprendizagens

É também neste imponente edifício de dez andares que se encontra a trabalhar Nuno Pereira, fundador e CEO da Paynest, empresa que, segundo diz, simplifica tudo o que é pagamentos entre empresa e colaboradores, desde salários, subsídios etc.

“Criei empresa há dois anos e meio e estamos aqui no SITIO desde o início. Comecei sozinho e agora somos uma equipa muito maior, 20 pessoas, mas diariamente aqui somos cerca de dez. Comecei aqui no hot desk e depois crescemos e fomos para um local [escritório privado] maior”, começa por explicar.

Entre as vantagens de trabalhar num espaço como o SITIO enumeradas por Nuno Pereira estão a flexibilidade e o networking, sendo possível fazer negócios quando menos se espera. “Há aqui muitas startups e founders e é um trabalho, às vezes, um pouco isolado, este de criar uma empresa sozinho. E haver outras pessoas que estão a passar pelas mesmas dores é muito bom para a partilha de aprendizagens, até para não se cometerem os mesmos erros. E temos, depois, várias empresas aqui que são clientes nossas, ou seja, também ajuda nesse aspeto”.

LACS Conde d'Óbidos
LACS Conde d'Óbidos Créditos: LACS

“Negócios completamente diversos que coabitam o espaço”

O LACS Conde d'Óbidos, junto ao rio Tejo, é o terceiro e último espaço de flex office visitado pelo idealista/news. Um antigo balneário dos estivadores do Porto de Lisboa que ganhou nova vida como quartel-general de empresas relacionadas com indústrias criativas, startups e pequenas incubadoras de empresas multinacionais que já estavam em Portugal. Contemplar o pôr do sol desde o terraço é um dos momentos mais esperados do dia para muitos dos ocupantes.

É no escritório da empresa no LACS Conde d'Óbidos que conversamos com Roberta Medina, vice-presidente do Rock in Rio, que durante anos se concentrou num escritório tradicional na Avenida da Liberdade. “A localização era incrível, mas era um escritório em que éramos nós com nós mesmos. [Entretanto] o conceito de coworks começou a ganhar alguma dimensão, o que fez muito sentido para nós, que somos uma empresa de criatividade focada nas pessoas. Queríamos ser invadidos pela criatividade dos outros, e acabou por acontecer”, explica.

 Roberta Medina, vice-presidente do Rock in Rio
Roberta Medina, vice-presidente do Rock in Rio Créditos: Gonçalo Lopes | idealista/news

No LACS Conde d'Óbidos, Roberta Medina encanta-se, por exemplo, com uma simples ida à copa, onde um encontro ocasional e inesperado a entusiasma. “Ganho o dia cada vez que vou ao café e está lá um ‘gringo’ que não se sabe explicar muito bem em português. Essa diversidade é das coisas mais gostosas, ter contacto com pessoas de diferentes culturas. Não têm um padrão de roupas, de forma de estar. São negócios completamente diversos que coabitam o espaço”, analisa.

"Ganho o dia cada vez que vou ao café e está lá um ‘gringo’ que não se sabe explicar muito bem em português. Essa diversidade é das coisas mais gostosas, ter contacto com pessoas de diferentes culturas. Não têm um padrão de roupas, de forma de estar. São negócios completamente diversos que coabitam o espaço"
Roberta Medina, vice-presidente do Rock in Rio

Sublinhando que a empresa está numa fase de expansão internacional em termos de comunicação – “Não queremos levar o festival para fora, mas sim que Europa venha para o festival –, a empresária considera que “o ambiente de trabalho tem de ser feliz, leve e agradável” e que os espaços físicos continuam a ser essenciais.

“Para empresas médias e pequenas, espaços como o LACS são fantásticos porque abrem a cabeça das pessoas. Se a pessoa se isolar num canto a vida é mais difícil, porque tens de resolver tudo sozinho e sempre no esforço. Aqui a vida vem até ti. Acredito muito nestes espaços, mas óbvio que depende do perfil da empresa”, remata.

João Freitas, CEO da OnCorporate
João Freitas, CEO da OnCorporate Créditos: Gonçalo Lopes | idealista/news

Privacidade, luz natural e vista para o Tejo

Uma opinião, de certa forma, partilhada por João Freitas, CEO da OnCorporate, que assentou arraiais no LACS Santos em agosto de 2024. Trata-se de uma empresa de consultoria fiscal e contabilidade que já existe há 30 anos, tendo começado na Zona Franca da Madeira. “Estávamos [num escritório] no Saldanha, num lugar um bocadinho pesado, dentro de um edifício lindo, mas um edifício pesado e escuro. Há dois anos, quando entrei na empresa efetivamente como um dos diretores, tentei fazer algumas mudanças, e nesse âmbito comecei a ver espaços com mais luz, com mais vida”, revela.

Porquê a escolha do LACS? “Vimos outros espaços, como o Second Home, no Cais do Sodré. Mas o que nos dá o LACS de Santos, especificamente, é um bocadinho mais de privacidade. Trabalhamos com assuntos um pouco mais delicados, são informações pessoais, muito particulares, e temos um espaço de 24 pessoas que é nosso, e é muito bonito, com uma vista rio maravilhosa”, justifica. 

Segundo João Freias, são várias as vantagens que uma empresa – e os respetivos funcionários – tem por se encontrar num espaço de trabalho flexível, nomeadamente financeiros, havendo uma redução de custos, com serviços como água, luz, internet, etc. “Não tenho de me preocupar com outros provedores de serviço: tinha dez e agora tenho um e qualquer problema, desde a falta de papel higiénico até ao WiFi, fica resolvido. Isso facilita o dia a dia da empresa, e assim focamo-nos exatamente onde temos de nos focar e não na gestão do dia a dia”.

O empresário não tem dúvidas, posto isto, de que o segmento de escritórios está a atravessar um “momento muito importante de mudança” a nível nacional, sendo crucial as empresas reinventarem-se um pouco para não ficaram para trás, como é o caso da OnCorporate, “que está a tentar ser uma empresa jovem”. “Temos de perceber que não somos independentes. A coisa mais importante da vida é a ajuda, e se consigo pedir ajuda a outro provedor que presta um serviço impecável… isso já facilita muito mais o crescimento da minha empresa”, remata. 

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