Estudo do Portal da Construção Sustentável conclui que há um desconhecimento geral da relação entre a construção/materiais e o conforto térmico.
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Pobreza energética: só 12% dos portugueses diz viver numa casa confortável termicamente
Imagem de 政徳 吉田 por Pixabay

A maioria dos portugueses (88%) considera a sua casa desconfortável termicamente e apenas 12% diz viver numa habitação confortável, sendo que, para isso, precisa gastar energia em climatização – 94% dos inquiridos têm um aumento significativo do consumo de energia para climatizar a casa. Esta é uma das conclusões a retirar de um inquérito à população residente em Portugal Continental sobre o conforto térmico existente nas suas casas. 

O estudo em causa, realizado pelo Portal da Construção Sustentável (PCS), acontece na mesma altura em que o Governo avança com uma estratégia nacional para combater a pobreza energética, que entrou em consulta pública e prevê metas de redução gradual desta problemática até 2050. Nesse sentido, o Executivo prevê, por exemplo, atribuir vales/’vouchers’ às famílias mais carenciadas, que serão aplicados diretamente na compra de fogões, aquecedores, equipamentos para arrefecer a casa ou na instalação de painéis solares fotovoltaicos para autoconsumo. E também poderão ser usados em obras de melhoria de eficiência energética em casa.

“Contudo, mais de metade dos inquiridos (55%) neste estudo não recorre apenas a equipamentos, mas também a mais roupa, e explicam porquê, para pouparem dinheiro em aquecimento (74%)”, refere em comunicado o PCS. 

Segundo Aline Guerreiro, CEO do PCS, há uma questão que se coloca: “Como quer o Governo combater a pobreza energética com mais equipamentos que consomem energia, como sendo os aquecedores e os equipamentos para arrefecimento, quando as famílias não conseguem pagar os gastos consumidos e têm de recorrer a outros métodos, como o uso de várias camadas de roupa?”

A entidade faz questão de recordar que cerca de 1,2 milhões de famílias gastam mais de 10% do seu rendimento mensal com a fatura energética e, ainda assim, não conseguem climatizar as respetivas casas. Outra das questões reveladas pelo inquérito – foi realizado pela internet entre os dias 2 de fevereiro e 12 de março de 2021, tendo sido recolhidas 1.433 respostas completas – é a de que há um desconhecimento geral da relação existente entre a construção/materiais e o conforto térmico.

Desconhecimento de apoios existentes

O PCS recorda que, no último trimestre de 2020, foram abertas candidaturas pelo Governo, através do Fundo Ambiental, para atribuição de financiamento para que os portugueses tornassem as suas casas mais sustentáveis, tendo sido dispensados, em quatro meses, 4,5 milhões de euros para as candidaturas aprovadas. O inquérito mostra, no entanto, que 42% dos inquiridos não teve conhecimento desta possibilidade. 

“E aqueles que obtiveram financiamento, que foram apenas 1% dos inquiridos, este foi maioritariamente atribuído à colocação de painéis fotovoltaicos, o que vai conduzir à redução da fatura de eletricidade é certo. Mas pouco ou nada significativos, foram os investimentos realizados em melhorias na construção, que, essas sim, são soluções definitivas, como sendo a substituição de caixilhos e de vidro (janelas) e colocação de isolamento, medidas que melhoram a eficiência energética sem recurso a mais equipamentos”, lê-se na nota enviada às redações.

"É pertinente pensar no combate à pobreza energética através da reabilitação sustentável dos edifícios, de forma a isolá-los convenientemente"
Aline Guerreiro, CEO do PCS

Para Aline Guerreiro, “a energia mais barata é a que não necessitamos de gastar”. “Por isso, é pertinente pensar no combate à pobreza energética através da reabilitação sustentável dos edifícios, de forma a isolá-los convenientemente”, acrescenta a responsável.

O estudo conclui ainda que 44% dos inquiridos dizem viver numa casa sem qualquer tipo de isolamento, havendo 28% que não sabe. De acordo com o PSC, o isolamento térmico insuficiente nos elementos opacos da envolvente pode representar entre 30% a 60% das perdas térmicas, sendo que o baixo desempenho de vãos envidraçados e portas, com caixilharias desadequadas, representam entre 25% a 30% dessas mesmas perdas.

Todos os edifícios deveriam ser desenhados, construídos e reabilitados de forma a pouparem energia, reduzindo as emissões de CO 2 associadas. É urgente a consciência ambiental. Temos de parar de poluir. Seja pela má utilização de recursos, seja pelas emissões poluentes que todos poderíamos evitar”, conclui Aline Guerreiro

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