Auditoria do Tribunal de Contas diz que apenas foram gastos 16% dos 63,5 milhões previstos pelo Governo para apoios à habitação.
Comentários: 0
Apoios à habitação foram insuficientes
Foto de Andrea Piacquadio en Pexels

Foram várias as medidas extraordinárias desenhadas para minimizar o impacto da pandemia no setor da habitação. Mas será que chegaram? Não. Segundo a auditoria do Tribunal de Contas (TdC), o grau de execução e de eficácia destas medidas revelou-se "insuficiente". E diz ainda que as famílias que pediram apoios para pagar as rendas ao Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU) apresentaram uma quebra média de rendimentos na ordem dos 70%.

As conclusões foram apresentadas no relatório de auditoria do TdC, divulgado esta sexta-feira, dia 19 de novembro de 2021, que avaliou a reação ao impacto adverso da pandemia no setor da habitação em 2020.

Em foco estão as cinco medidas extraordinárias tomadas e geridas pelo IHRU, como é o caso das medidas de conservação e reabilitação do parque habitacional (CRPH), da proteção do arrendamento habitacional (PAH), a criação de parque habitacional público de habitação a custos acessíveis (PHPHCA), apoio à reconversão dos fogos afetos ao alojamento local (RAL) e os mecanismos de redução, suspensão e isenção de rendas devidas a Entidades Públicas (MRSIREP).

Apoios às rendas na pandemia
Foto de Tatiana Syrikova en Pexels

Sobre estas medidas, o TdC não tem dúvidas: “Até 31/12/2020, a reação resumia-se a cinco medidas, com grau de execução insuficiente e incipiente”. E explicou ainda que duas das medidas “não apresentavam resultados, só uma tinha meta definida, sem a ter atingido, e nenhuma se revelava eficaz para alcançar o seu objetivo nem para recuperar a situação inicial (anterior ao impacto adverso da pandemia)”, lê-se no relatório.

Relativamente à execução financeira destas medidas em 2020, o TdC salienta que dos 63,5 milhões de euros previstos foram gastos 10 milhões de euros, o que “correspondeu apenas a 16% do orçamentado”.

A par da fraca execução, o TdC conclui ainda pela “desadequação e ineficácia” das medidas extraordinárias, pela “desarticulação" entre a sua implementação e a prossecução do interesse público". E diz ainda que a informação prestada sobre estas medidas “não foi completa, nem suficiente, não tendo promovido a responsabilização, a transparência e o escrutínio públicos, quanto à eficácia dessas medidas em atingir os seus objetivos e assegurar recuperação do impacto adverso da pandemia no setor da habitação”.

Apoios do governo na pandemia
Foto de energepic.com en Pexels

Apoio ao arrendamento: só 29% foi utilizado

No que diz respeito à proteção do arrendamento habitacional (PAH), a taxa de execução foi de 29%, tendo sido gastos 1,16 milhões de euros dos 4 milhões orçamentados. Recorde-se que através desta medida, o IHRU concede um apoio financeiro a arrendatários habitacionais com uma quebra de rendimentos igual ou superior a 20% e com uma taxa de esforço para pagamento da renda superior a 35%. E também a senhorios em situação de carência económica por falta de pagamento de rendas.

Os valores são concedidos por via de empréstimos sem juros, parcialmente convertíveis em apoios a fundo perdido até 1,5 milhões de euros. Para o TdC, esta medida “não assegura o combate à pobreza”, porque os inquilinos terão de pagar os empréstimos concedidos, salvo a parcela convertida a fundo perdido.

Para o TdC, “a eficácia desta medida (cumprir o seu objetivo) é insuscetível de avaliação direta”, uma vez que não foi delineado o número de empréstimos concedidos a atingir. Em contraditório o Ministério das Infraestruturas referiu que, perante uma crise pandémica, não é “possível nem consistente” antecipar, através da fixação de metas, o número de situações a abranger.

apoio ao pagamento das rendas do IHRU
Foto de MART PRODUCTION en Pexels

Na verdade, as famílias que pediram apoios às rendas ao IHRU apresentaram uma quebra média de rendimento na ordem dos 70%, revelou ainda o TdC. E os dados agora reportados pelo TdC apontam para perdas médias três vezes mais elevadas do que os mínimos exigidos para esta medida.

Segundo o relatório, foram submetidos ao IHRU 3.069 pedidos de apoio, dos quais foram aprovados 748 (24,4%), correspondendo a 6.008 beneficiários. A esmagadora maioria (5.967) a corresponderem a inquilinos, um a fiador, 22 a estudantes com contrato de arrendamento de habitação e 18 a senhorios.

O IHRU justifica os resultados indicando que muitas famílias optaram por recorrer à moratória legal – diferindo o pagamento da renda - ou a outro tipo de medidas estabelecidas ao nível municipal. Além disso, refere ainda a impossibilidade de “aprovação de muitos dos pedidos por incumprimento dos requisitos de acesso ao apoio ou por falta de entrega dos comprovativos de cumprimento”.

Avaliação dos apoios públicos na habitação
Foto de cottonbro en Pexels

Análise medida a medida

A medida destinada à conservação e reabilitação do parque habitacional do IHRU – que era anterior à pandemia – foi a que teve uma taxa de execução mais elevada, já que dos sete milhões de euros orçamentados, foram absorvidos 5,49 milhões de euros (79%), segundo revela a informação enviada pelo Ministério das Infraestruturas e da Habitação e pelo IHRU ao Tribunal de Contas. Esta medida em concreto atingiu quase o seu objetivo, já que número de fogos reabilitados representar 98% da meta anual.

“Para apoiar a criação de um parque público de habitação acessível, através de construção nova e da reabilitação de património imobiliário do Estado, devoluto e desocupado, foram previstos 48 milhões de euros e gastos 3,3 milhões de euros (7%), sem ter sido disponibilizado qualquer fogo”, refere o relatório relativamente à medida PHPHCA.

Criar habitação acessível em Portugal
Foto de cottonbro en Pexels

Já no que diz respeito ao programa de reconversão do alojamento local em arrendamento acessível (RAL), o TdC assinala que, apesar dos investimento anual de 4,5 milhões de euros previsto, “a medida não foi implementada em 2020”, concluindo pela sua ineficácia quanto ao seu objetivo – colocar mais imóveis no mercado e acudir dificuldades dos proprietários do AL, dada a quebra registada no turismo.

Em contraditório o ministério tutelado por Pedro Nuno Santos afirma que a execução desta medida “está dependente do grau de adesão dos potenciais interessados (proprietários de unidades de AL), não sendo, portanto, possível estabelecer à partida uma meta para a sua execução”.

Converter alojamneto local em arrendamento
Foto de Andrea Piacquadio en Pexels

Relativamente aos mecanismos de redução, suspensão e isenção de rendas por entidade pública, aplicável a rendas vencidas desde 1 de abril de 2020 com o objetivo de apoiar as famílias com necessidades habitacionais graves e/ou urgentes, através do IHRU, o TdC refere também aqui não ser possível fazer uma avaliação direta da eficácia da medida, uma vez que não existe uma meta do número de pedidos. Porém, conclui a auditoria, tanto a execução física da medida (os 30 pedidos aprovados) como a execução financeira (28 mil euros) “são muito reduzidas”.

*Com Lusa

Ver comentários (0) / Comentar

Para poder comentar deves entrar na tua conta