A Comissão Económica das Nações Unidas para a Europa traça o diagnóstico sobre habitação acessível e dá pistas para o futuro.
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Oferta de casas acessíveis
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São pelo menos 100 milhões de pessoas que veem os seus rendimentos esmagados pelas despesas com a casa nos 56 estados-membros da Comissão Económica das Nações Unidas para a Europa – UNECE. E é por isso que a oferta de habitação acessível é tão importante para garantir que todas as famílias – sem exceção – tenham acesso a uma casa digna. Há já vários caminhos traçados e políticas desenhadas, inclusive em Portugal. Mas será que chega? No entendimento da UNECE não, já que: “Há uma necessidade urgente em compreender como os países e as cidades podem ter mais casas acessíveis através das suas políticas e práticas”.

No que diz respeito ao acesso a habitação acessível na Europa, há “diferenças significativas e desequilíbrios”, lê-se no mais recente relatório da comissão “#Housing2030: Políticas eficazes para habitação acessível na UNECE”. Há países que possuem cerca de 30% de habitação social face ao total de casas, como é o caso dos Países Baixos. Mas há outros que têm uma oferta escassa, como é o caso da Bulgária (3%), de Portugal (2%) e da Grécia, que quase não tem stock.

Sem oferta de habitação acessível à vista, as famílias acabam por se sujeitar aos preços das casas existentes no mercado, que estão a subir cada vez mais em vários países europeus, como é o caso de Portugal. Hoje, a casa representa uma despesa tal que está a “sobrecarregar” as famílias, já que muitas vezes pesa 40% no rendimento disponível, refere o mesmo relatório. Esta é uma realidade que afeta tanto pessoas da classe média como da classe baixa, desde jovens a idosos, passando por famílias numerosas com filhos.

Casas eficientes e a preços acessíveis
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A agravar ainda mais este cenário está a falta de planeamento urbanístico, o fluxo de investimento em habitação não orientado, as alterações climáticas, a migração, o envelhecimento da população e ainda a pandemia da Covid-19, aponta a comissão no documento. E é por tudo isto que a UNECE considera que os Governos dos vários países “têm a responsabilidade de moldar os sistemas de habitação de forma a garantir casas decentes e bairros baratos, seguros e acessíveis”. E, desta forma, orienta a definição de políticas futuras que vão ao encontro dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) delineados até 2030, que passam pela erradicação da pobreza e pela criação de cidades seguras, inclusivas, sustentáveis e resilientes, que promovem a fixação de famílias.

E como é que tudo isto se faz? A UNECE - que abraça os países da Europa, assim como vários da Ásia e ainda os EUA e o Canadá, num total de 56 estados - dá pistas que visam orientar as políticas futuras a adotar para aumentar a oferta de casas eficientes em termos sustentáveis e acessíveis até 2030, sejam elas habitações sociais de domínio público, casas a rendas acessíveis colocadas no mercado pelo público e privado, ou casas para comprar a preços acessíveis. E é importante também adaptar estas medidas quer ao contexto nacional quer ao contexto local.

Políticas para construir casas acessíveis e sustentáveis
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Qual o papel dos Governo na criação de habitação acessível?

Como é que os Governos podem melhorar os modelos políticos adotados para promover habitação acessível? Segundo a UNECE, uma das medidas a adotar passaria por colocar as pessoas no centro das políticas e programas durante o seu desenvolvimento e implementação. Além disso, os estados poderiam ainda promover o envolvimento das pessoas na hora de refletir e mudar as melhores práticas relacionadas com a regulamentação de habitação acessível.

Os conselhos da UNECE passam também por apoiar modelos de oferta de habitação focados nos residentes e comprometidos com habitação acessível, inclusiva e com emissões zero para o clima. E ainda por assegurar relações equilibradas e justas entre inquilinos e senhorios, passando pela definição de um preço da renda acessível e garantindo padrões de qualidade da casa.

Incentivos à criação de habitação acessível
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Boas políticas para investir em casas acessíveis

O investimento em habitação acessível deve ser estimulado e regulado, segundo a UNECE. E para isso devem ser desenhadas uma série de políticas pelos governos dos diferentes países. Uma delas passará por apoiar e priorizar o investimento no segmento de habitação, criando modelos baseados na acessibilidade, sustentabilidade e satisfação de necessidades, utilizando, para isso, uma gama de regulamentações e financiamentos.

Para promover habitação acessível é fundamental, para comissão, começar por regular os sistemas financeiros nacionais, estabelecer quadros financeiros eficazes, intermediários financeiros públicos e fundos para canalizar o investimento e expandir a oferta de casas a preços acessíveis. Além disso, é também importante que os Governos garantam que os instrumentos de tributação apoiem e promovam a criação de habitação acessível.

Em Portugal, o Governo está a promover uma iniciativa para aumentar o Parque Público de Habitação a Custos Acessíveis. Trata-se de um investimento de 774 milhões de euros que deverá colocar no mercado 6.800 habitações a preços acessíveis com a ajuda do financiamento do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Já no domínio privado, parece não haver incentivos ao investimento. Isto porque, embora reconheçam que há procura para o segmento de habitação acessível, os profissionais da fileira da construção e imobiliário  presentes no SIL Pro 2021, afirmam que “não é possível construir habitação acessível” no país, já que o custo de construção é superior ao de venda. A solução para a questão, acreditam, passa por baixar os impostos, como o IVA de 23% para 6%.

Criar oferta de casas a preços acessíveis
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Mais oferta de habitação passa pela gestão do território

Também são várias as políticas de ordenamento do território que devem ser levadas a cabo pelos Executivos no sentido de promover o aumento da oferta de habitação acessível nos 56 países que compõe a UNECE. Para isso, há que articular o desenvolvimento urbano com a inclusão social e sustentabilidade, por meio de planos estratégicos de longo prazo. E nestes planos de gestão territorial deverão contemplar a criação de um número suficiente de casas a preços acessíveis.

Outro conselho da UNECE neste sentido passa por aumentar o envolvimento dos Governo com os mercados locais de forma a garantir o desenvolvimento de casas acessíveis e sustentáveis, por via de aquisição de terrenos e processos de arrendamento, assim como criando uma forte cooperação com promotores de habitação a preços acessíveis.

Criar oferta de casas sustentáveis e acessíveis
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Investir em casas eficientes

O futuro passará por construir casas eficientes em termos sustentáveis, de forma que o seu desenvolvimento não prejudique o clima. E neste sentido há vários caminhos a seguir, segundo a UNECE.

Um deles passa por estabelecer uma estratégia nacional para promover casas com zero emissões para o clima, sendo ao mesmo tempo inclusivas e acessíveis. Isto pode passar, por exemplo, pela criação de ferramentas financeiras, fiscais e regulamentares neste sentido, assim como apoiar o desenvolvimento e implementação de padrões de construção sustentável, tecnologias, processos e cadeias de abastecimento para promover casas amigas do ambiente.

Alargando esta estratégia às cidades, a UNECE fala mesmo que os Governos deveriam por coordenar um plano de ordenamento de território para promover o desenvolvimento de casas, bairros e cidades eficientes em termos energéticos, criando ao mesmo tempo espaços verdes, zonas socialmente inclusivas e soluções de mobilidade verde.

Como criar mais habitação acessível na Europa
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