
Inflação a subir, taxas de juros a escalar e custos de construção a disparar. Tudo isto, entre outros fatores, a acontecer num inesperado contexto de guerra e após uma pandemia que teima em não dar tréguas. Luís Marques Mendes, membro do Conselho Consultivo da Abreu Advogados, considera, no entanto, que há indicadores positivos a ressalvar, nomeadamente direcionados para o setor imobiliário. Um deles é o facto de haver agora, com o eclodir do conflito armado entre Rússia e Ucrânia, (ainda) mais investidores e empresas a piscar o olho a Portugal. “Neste momento está a ocorrer um fenómeno de deslocalização de empresas para a Europa. Portugal pode ter aqui uma boa oportunidade”, adiantou.
Segundo o ex-ministro, que falava numa conferência realizada esta terça-feira (7 de junho de 2022) em Lisboa, na sede da Abreu Advogados, “há boas oportunidades para o setor imobiliário” nacional em tempos de guerra. Uma delas é o turismo, que pode funcionar como alavanca da recuperação económica a nível nacional, sendo “importantíssimo para o país”.
“Há também vantagens a explorar e a aprofundar no futuro, como a segurança [que existe em Portugal], que é uma mais-valia ainda mais reforçada. Do ponto de vista energético, assiste-se a uma revolução na Europa, com a crise da dependência da Rússia. Creio que [neste aspeto] Sines vai ter uma importância ainda maior. E até maior que a Base das Lages”, salientou.
"Neste quadro que vivemos, o que seria hoje se houvesse um Governo minoritário ou com geringonça? Imagine-se esse governo no quadro atual. Era acrescentar mais um problema aos que existem"
Outro aspeto a ter em conta, e que Luís Marques Mendes fez questão de enaltecer, é o facto de Portugal ter atualmente estabilidade, nomeadamente em termos políticos: “A única coisa positiva que aconteceu em Portugal nos últimos meses foi o país ter um Governo de maioria absoluta. Não há comparação possível do ponto de vista de eficácia, de estabilidade. Apesar dos inconvenientes é vantajoso. (…) Neste quadro que vivemos, o que seria hoje se houvesse um Governo minoritário ou com geringonça? Imagine-se esse governo no quadro atual. Era acrescentar mais um problema aos que existem. (…) Se em Portugal não houvesse um mínimo de estabilidade tudo era muito pior”.
“Task force” para qualificar a mão de obra na construção
Luís Marques Mendes frisou que o setor imobiliário português é “forte e bem estruturado”, mas lembrou que são vários os riscos que existem atualmente, destacando, além dos já referidos – a subida da inflação, dos juros e dos custos de construção –, a “imprevisibilidade relativamente aos preços e a falta de mão de obra qualificada”. Sobre esta lacuna, deixou uma sugestão: “É importante tentar criar uma ‘task force’, um programa de formação especificamente para esta área”.
De uma coisa não tem, no entanto, dúvidas. “O investidor estrangeiro que pensa em turismo pensa em Portugal e o investidor estrangeiro que pensa em imobiliário pensa em Portugal”, concluiu.
Para poder comentar deves entrar na tua conta