Com a vida mais cara, devido à subida da inflação e taxas de juros, as famílias com estudantes têm este ano letivo desafios extra.
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Quartos para arrendar para estudantes
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Inicia-se um novo ciclo na vida dos novos estudantes universitários com o arranque do ano letivo 2022/23. Só na primeira fase do Concurso Nacional de Acesso ao Ensino Superior foram colocados 49.806 novos alunos. E para muitos ir para universidade significa mudar de vida: sair da casa dos pais rumo a uma outra cidade onde ainda ninguém conhecem. Um dos primeiros passos a dar nesta volta de 360 graus passa por procurar quarto para arrendar, o que se tem revelado um desafio cada vez mais difícil e dispendioso. Em Portugal, a oferta de quartos para arrendar em setembro de 2022 caiu 80% face ao ano passado, mostram os dados mais recentes do Observatório de Alojamento Estudantil. E este desequilíbrio fez subir os preços dos quartos para arrendar em 10%. O idealista/news analisou estes dados à lupa e mostra-te como variou a oferta e os preços dos quartos para arrendar em Portugal.

Depois de terem superado a primeira prova de fogo e entrado no ensino superior, os novos estudantes universitários têm, agora, outros retos pela frente. E um deles passa mesmo por arrendar um quarto numa casa partilhada a um preço que as famílias consigam suportar. Isto é especialmente importante num contexto em que a inflação – que atingiu os 8,9% em agosto - tem pressionado os orçamentos familiares em diversas frentes: desde a subida dos preços dos alimentos, da energia e dos combustíveis ao aumento das prestações da casa para quem paga hoje créditos habitação com taxa variável e indexada à Euribor.

Para ajudar as famílias a enfrentar a inflação, o Governo desenhou um conjunto de medidas que ainda precisam de passar ainda pelo crivo do Parlamento. E, entre elas, destaca-se o cheque de 125 euros e o apoio de 50 euros por filho, que podem ajudar os agregados a suportar os custos associados ao ensino superior, nomeadamente ajudar a pagar a renda do quarto em outubro. Por outro lado, existem despesas escolares que podem ser dedutíveis no IRS, tal como explicamos neste artigo.

 

Oferta de quartos para estudantes
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Os dados mais recentes do Observatório do Alojamento Estudantil, que é publicado pela Direcção-Geral do Ensino Superior (DGES), não trazem boas notícias para os alunos do ensino superior: os quartos para arrendar em Portugal são cada vez menos e estão mais caros. A oferta privada de alojamento para estudantes passou de 9.884 quartos em setembro de 2021 para apenas 1.973 unidades disponíveis em setembro de 2022, o que representa uma queda na oferta na ordem dos 80%. Também o preço médio dos quartos para arrendar em Portugal subiu 10% entre estes dois momentos, fixando-se em 294 euros em setembro deste ano.

 

“Há menos quartos disponíveis no mercado e uma tendência de aumento dos preços do que ainda existe”, resumia João Machado, presidente da Federação Académica de Lisboa ao jornal Correio da Manhã. E, por isso, o responsável concluiu depois que “este ano vai ser ainda mais difícil para um estudante encontrar casa”, em declarações ao Público.

Quartos para arrendar: onde é que a oferta mais desceu?

A falta de quartos para estudantes é uma realidade nacional: a oferta caiu nas 20 cidades analisadas pelo observatório, sem exceção. A maior queda de todas foi registada em Lisboa: o número de alojamento privado disponível passou de 3.706 unidades em setembro de 2021 para apenas 764 unidades em setembro deste ano. Isto quer dizer que, agora, há menos 79% quartos para arrendar na capital portuguesa do que havia no ano passado.  

Entre as maiores quedas na oferta de quartos para arrendar estão as cidades de Aveiro (-75%), Faro e Portalegre (ambos a registarem uma descida de 73%). E as cidades onde o número de quartos disponível menos caiu foi em Coimbra (-17%), em Beja (-20%) e na Guarda (-23%), mostram a mesma publicação.

 

Quartos para arrendar em Portugal
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  • E onde há mais quartos para arrendar em Portugal?

Apesar do tombo na oferta de 79%, Lisboa continua a ser a cidade que apresenta maior stock de quartos disponíveis para arrendar a estudantes: 764 unidades em setembro. Logo a seguir está Coimbra com 343 quartos, seguida do Porto com 337 unidades.

Por outro lado, as cidades onde vai ser mais difícil encontrar quartos para estudantes são Portalegre (12 quartos) Funchal e Ponta Delgada, onde há apenas 14 unidades vagas em cada cidade, mostram os dados do Observatório de Alojamento Estudantil, que tem por base de fontes públicas, como é o caso de portais imobiliários, monitorizando mais de 100 mil anúncios de quartos/apartamentos destinados a estudantes.

 

Preços dos quartos para arrendar: onde mais sobem?

Dado o desequilíbrio entre a oferta da procura, os preços dos quartos para estudantes estão a subir em 18 das 20 cidades analisadas. Entre as subidas mais expressivas destaca-se o caso do Porto: um quarto para arrendar custa, em média, 324 euros, enquanto há um ano custava 250 euros. Ou seja, os novos alunos do ensino superior do Porto vão pagar mais 74 euros (+30%), em média, para viver e estudar na cidade Invicta.

Esta é uma realidade que tem sido bem sentida pelas famílias que procuram quartos para arrendar no Porto: “Todos os dias temos tido contactos de famílias que não estão a conseguir encontrar casa ou, quando conseguem, têm preços demasiado altos”, partilha Ana Gabriela Cabilhas, presidente da Federação Académica do Porto (FAP) citada pelo Público.

Também em Braga os estudantes vão pagar mais 50 euros: os preços médios dos alojamentos para estudantes passaram de 200 euros para 250 euros (+25%) entre setembro do ano passado e do ano corrente. No Funchal, o custo dos quartos para arrendar também subiu 25% entre estes dois momentos, passando um estudante a pagar 287 euros de renda em setembro de 2022.

Por outro lado, na Guarda e em Portalegre, os preços dos quartos para arrendar mantiveram-se estáveis nos 125 euros e 147 euros por mês, respetivamente.

 

  • Em que cidades estão os quartos para arrendar mais caros? E mais baratos?

Lisboa continua a ser a cidade onde é mais caro arrendar um quarto para estudantes, sendo preciso desembolsar, em média, 381 euros por mês (+17% que há um ano). Mas note-se que, segundo o observatório, as famílias podem deparar-se com preços entre os 595 euros e os 246 euros pelo arrendamento de um quarto na capital.

Sem segundo lugar no ranking dos quartos mais caros para arrendar a estudantes está o Porto apresentado um custo médio de 324 euros por mês em setembro. Aqui os preços dos alojamentos podem variar entre 609 euros e 195 euros, mostram os dados. Na terceira posição encontra-se Setúbal, onde um estudante do ensino superior terá de desembolsar, em média, 295 euros por mês para poder viver nesta cidade. Nesta cidade da margem sul do Tejo, a renda dos quartos pode variar entre o máximo de 420 euros e o mínimo de 213 euros.

No fundo da tabela está a Guarda com um preço médio por quarto de 125 euros, seguida de Portalegre (147 euros) e Bragança (150 euros), mostram os dados.

 

Porque é que a oferta de quartos para arrendar está a descer e os preços a subir?

Os quartos para arrendar já não são procurados só por estudantes. Dado os elevados preços das casas para comprar e para arrendar no país, há pessoas que vêm no arrendamento de um quarto a única opção para ter um teto. Um estudo do idealista, publicado em agosto, revelou o perfil de quem procura quartos para arrendar no país: são as pessoas com uma média de 33 anos, que vivem no centro de grandes cidades e não fumam (apesar de tolerantes com quem fuma).

Estes dados surgerem que arrendar quartos é, hoje, uma opção, além dos estudantes, para as pessoas que procuram alternativas aos elevados custos das casas para comprar e para arrendar, como é o caso de:

  • jovens profissionais;
  • solteiros;
  • divorciados;
  • desempregados;
  • pessoas com salários baixos.

 

Jovens procuram quartos para arrendar
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Mas não só. João Machado, da Federação Académica de Lisboa, acredita que os quartos para estudantes estão a ir “provavelmente para o Alojamento Local (AL)”. Isto porque “com o aumento do turismo, muitos proprietários terão decidido que fica mais vantajoso arrendar a turistas. Esta dificuldade levará muitos estudantes a nem sequer ingressarem na universidade ou a terem de abandonar os estudos”, afirma João Machado ao CM. Desde a Federação Académica do Porto, Ana Cabilhas assume também que “os preços elevados mantêm-se” e que o “número de quartos disponíveis está a diminuir com a retoma do turismo”, cita o Público.

Esta versão é corroborada no lado dos proprietários: Diana Ralha, diretora da Associação Lisbonense de Proprietários, afirma que os quartos que estavam disponíveis para universitários “ou vão para os nómadas digitais ou para o Alojamento Local”, disse ao mesmo jornal. E não são apenas os lucros do negócio turístico que motivam os proprietários a mudar: o mercado de AL é mais flexível em termos contratuais e, além disso, os proprietários estão cansados das “constantes alterações legislativas no setor”, sustenta, apontando o recente travão à subida das rendas de 2% em 2023 como a gota de água.

Contudo, o presidente da Associação do Alojamento Local em Portugal (ALEP), Eduardo Miranda, rejeita a ideia de que o AL tenha culpa na queda da oferta de quartos para arrendar aos estudantes, sublinhando que são “segmentos diferentes”. “Onde há mais dificuldade em encontrar camas [para estudantes] é em Lisboa e é precisamente em Lisboa onde a oferta de alojamento local mais diminuiu”, explicou ao ECO. Pelas contas do responsável, o setor perdeu mais de 4.000 casas em Lisboa e no Porto durante o último ano.

Portanto, a falta de oferta de casas é uma questão tranversal a outros segmentos do mercado residencial português. “Aquilo a que assistimos no último ano é a uma carência cada vez maior do número de quartos e alojamentos disponíveis, afectando não apenas o alojamento estudantil, mas, também, todo o alojamento. A oferta por organismos públicos é escassa, o que, a par das dificuldades de licenciamento e dos crescentes custos de construção, torna o volume de oferta insuficiente”, disse Beatriz Rubio, presidente executiva da Remax, ao Público.

 

Quanto custa arrendar um quarto em Portugal
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Plano Nacional de Alojamento Estudantil: como vai aumentar a oferta de camas?

Além das camas disponíveis para os estudantes em Portugal oferecida por privados, existe uma oferta pública de 15 mil camas. Mas esta oferta é ainda baixa para a elevada procura. E para resolver esta questão de falta de oferta de quartos para arrendar, o mercado conta com uma resposta conjunta.

Do lado dos privados, há anúncios recentes de novas residências de estudantes a abrir em Portugal. O mercado está mais dinâmico com vários projetos no pipeline em diferentes zonas do país. Só nos próximos três anos deverão entrar no mercado mais 8.000 camas para estudantes em Lisboa e no Porto, segundo estima a Cushman & Wakefield. Mas este número está bem abaixo das 20.000 camas necessárias para satisfazer as necessiades do país.

Há questões de base a ter em conta neste tipo de investimentos que condicionam a criação de mais oferta no país. Os alojamentos para estudantes “são produtos que demoram algum tempo a ser desenvolvidos, desde a compra do terreno, ao licenciamento e até à construção”, tal como explica Ana Gomes, Ana Gomes, head of development & living da Cushman&Wakefield, ao ECO. A isto soma-se ainda as questões atuais que vive o mercado: a falta de mão de obra e a subida dos custos da construção.

 

Preço dos quartos para arrendar
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Do lado do público está em marcha o Plano Nacional de Alojamento Estudantil (PNAES), que disponibiliza 375 milhões de euros do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) para criar mais 15 mil camas em alojamentos para estudantes do Ensino Superior até ao primeiro trimestre de 2026, duplicando, assim a atual oferta de camas para estudantes no setor público.

Além de disponibilizar as 15 mil camas, este plano pretende também “assegurar que os valores pagos pelos estudantes do Ensino Superior são inferiores aos valores de mercado, não podendo exceder, mensalmente, 50% a 65% do Indexante de Apoios Sociais (IAS)”, lê-se na página oficial do programa.

Este é um plano que já recebeu as candidaturas de promotores (sobretudo de vínculo público). E já há 119 projetos de residências de estudantes que obtiveram luz verde do Governo durante esta semana.  Estes projetos, que têm verbas garantidas, abrangem 51 municípios, dos quais 23 são relativos a edifícios que serão construídos de raiz, totalizando 9.356 novas camas.

"Estamos perante uma mobilização geral da sociedade portuguesa para assegurar um objetivo fundamental: termos alojamento estudantil a preço acessível para eliminar uma das maiores barreiras de acesso ao Ensino Superior", declarou o primeiro-ministro, António Costa, na cerimónia em que foram assinados os projetos.

A maioria das camas para estudantes serão criadas na região Norte (Porto e Braga), mas também em Lisboa e Vale do Tejo, segundo adiantou a ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior Elvira Fortunato, em declarações à Renascença.

  • Alojamento estudantil público será reforçado

As necessidades de alojamento de estudandes fizeram com que o número de projetos aprovados ultrapassasse a dotação montante e essa situação levou o executivo a reforçar com mais 72 milhões de euros este programa. "Brevemente teremos outra cerimónia para contratualizar com mais entidades", adiantou António Costa.

Este é "o maior investimento de sempre em residências para estudantes do ensino superior", disse a ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior Elvira Fortunato.

"Face ao reforço que foi possível efetuar no PRR será possível passar para a totalidade dos 134 projetos aprovados, o que irá envolver mais três concelhos, além dos 51 municípios já abrangidos. Teremos uma maior cobertura nacional, em especial na região dos Açores", disse.

No total, o executivo, afirma ter financiamento do PRR garantido para novas 15.800 camas, projetos que serão concretizados até 2026, o que irá duplicar a oferta pública de alojamento estudantil.

Em linhas gerais, o Governo reforça agora o financiamento do Plano Nacional de Alojamento Estudantil (PNAES), para o qual já tinham sido destinados 375 milhões de euros do PRR. Em causa estão cerca de 2.500 camas novas do total das 12 mil anunciadas em julho pelo Governo. O Governo salienta ainda que estão garantidos 9.400 lugares em residências que serão construídas ao longo dos próximos quatro anos.

*Com Lusa

**Notícia atualizada às 13h20, de dia 16 de setembro, com mais informação sobre o reforço de investimento no PNAES

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1 Comentários:

Carlos Fernandes
16 Setembro 2022, 12:59

Onde estão os dados da UBI ( universidade da beira interior) localizada na cidade da Covilhã?

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