
A LovelyStay, empresa portuguesa especializada na gestão de Alojamento Local (AL) e empreendimentos turísticos – está integrada no Ando Living Group, um grupo nacional e europeu com forte presença na hospitalidade e investimento imobiliário –, celebrou recentemente uma década de operação, tendo sido fundada em 2015. Em entrevista ao idealista/news, Miguel Marinho Soares faz uma viagem ao passado e presente da empresa, e do mercado. Sobre o futuro, o Head of Portugal da LovelyStay destaca: “O setor está vivo e com procura, mas exige cada vez mais profissionalismo”.
A LovelyStay, recorde-se, posiciona-se como operador para investidores, promotores e proprietários que procuram transformar ativos em produtos turísticos premium, sustentáveis e rentáveis, tendo reforçado, nos últimos anos, a atuação em segmentos premium, com especial destaque para a gestão integral de edifícios turísticos e villas de luxo em zonas como a exclusiva Quinta do Lago, no Algarve. “Trabalhamos com vários perfis e várias gamas, mas o segmento premium é central na nossa estratégia. (…) O objetivo não é apenas rentabilizar ativos, é criar experiências consistentes e diferenciadas com retorno sustentado”, explica Miguel Marinho Soares.

A LovelyStay celebra 10 anos. Fale-nos um pouco sobre o nascimento da empresa e que balanço de atividade faz?
A LovelyStay foi fundada com um posicionamento claro: trazer tecnologia, dados e profissionalismo ao setor do AL. Começámos com poucos imóveis, mas desde o início tínhamos uma infraestrutura tecnológica própria e uma abordagem analítica que nos distinguia. Hoje, gerimos centenas de unidades com operações locais em todo o país. O balanço é muito positivo – crescemos com estrutura, elevámos a qualidade da operação e construímos uma empresa feita de pessoas que gostam do que fazem e se orgulham do que entregam. Somos muito melhores hoje do que quando geríamos meia dúzia de imóveis.
São mais de 135 milhões de euros em receitas brutas geradas para proprietários e investidores, 725 mil hóspedes recebidos e 270 mil check-ins realizados desde a sua fundação, em 2015, certo? Os números superam as expectativas?
Sim, os resultados têm sido consistentes e superam o que prevíamos numa fase inicial. Mas o foco sempre foi mais estrutural que circunstancial. Investimos em equipas, processos, ‘reporting’ e automação, o que nos permite escalar com qualidade. Até ao final do ano, queremos consolidar a operação nacional, reforçar a presença da marca Ando Living a nível internacional e continuar a identificar ativos estratégicos para aquisição ou arrendamento, sobretudo prédios com potencial para desenvolver operações de média-longa duração.
Trata-se de uma empresa portuguesa especializada na gestão de AL e empreendimentos turísticos, correto? É possível concluir, face aos resultados, que o negócio da hospitalidade está de boa saúde em Portugal?
Sim. E sim, o setor está vivo e com procura, mas exige cada vez mais profissionalismo. Os bons resultados não vêm só da procura turística, vêm da capacidade de organizar bem a operação, tomar decisões com base em dados e construir relações de longo prazo com hóspedes e proprietários. A qualidade da execução é o fator crítico.

O que distingue a LovelyStay da concorrência, das outras empresas a atuar no setor?
A base tecnológica, a operação nacional integrada e o investimento real nas pessoas. Somos operadores, com controle direto sobre limpeza, manutenção, ‘reporting’, ‘pricing’ e apoio ao cliente. Temos tecnologia própria e equipas locais em todos os destinos. Mas o que mais nos distingue é a cultura: gostamos de trabalhar e gostamos das pessoas com quem trabalhamos – e isso reflete-se nos resultados.
Em que segmento se posicionam? O luxo faz parte da vossa estratégia?
Sim. Trabalhamos com vários perfis e várias gamas, mas o segmento premium é central na nossa estratégia. Operamos moradias e vilas de alto padrão, incluindo na Madeira, na Quinta do Lago e na Aroeira, e gerimos edifícios com design e curadoria próprios sob a marca Ando Living. O objetivo não é apenas rentabilizar ativos, é criar experiências consistentes e diferenciadas com retorno sustentado.
Em que zonas do país é que a LovelyStay opera, além de Lisboa, Porto, Algarve e Madeira? Está prevista a chegada a outras regiões do país? E fora de Portugal, onde atua e qual é o plano de expansão previsto?
Além das quatro principais regiões, temos operação completa em zonas como Costa da Caparica, Figueira da Foz, Douro, Costa da Prata, Setúbal, Póvoa do Varzim, entre outras. Temos também uma oferta de gestão digital que cobre todo o território nacional – incluindo zonas do interior e ilhas – e estamos a preparar a entrada nos Açores. A nível internacional, estamos a expandir a marca Ando Living, que já conta com imóveis em Istambul (Turquia). Inglaterra e Espanha serão os próximos mercados. A expansão será seletiva, focada em ativos urbanos ou turísticos com forte potencial de marca e operação direta.

A tecnologia e a IA estão a ganhar cada vez mais espaço no setor imobiliário? É algo que também está a acontecer na atividade da empresa? O que está a mudar?
Sim, faz parte da nossa base. Usamos IA para organizar dados, automatizar processos, ajustar preços e otimizar rotinas operacionais. Isto permite aumentar a eficiência, reduzir erros e libertar tempo às equipas para se focarem no que realmente importa: a relação com os hóspedes e a gestão próxima com os proprietários. A tecnologia não substitui a dimensão humana, mas torna-a mais eficaz.
"Gerimos uma carteira diversificada: desde apartamentos urbanos até villas de luxo e edifícios inteiros. Também operamos empreendimentos turísticos. (...) Procuramos imóveis com boa localização, capacidade de valorização e perfil para estadias curtas ou médias de qualidade"
Que tipo de ativos/imóveis tem a empresa sob gestão? São mais apartamentos, moradias ou empreendimentos turísticos?
Gerimos uma carteira diversificada: desde apartamentos urbanos até villas de luxo e edifícios inteiros. Também operamos empreendimentos turísticos. O que interessa é o potencial de cada ativo e a sua adequação ao modelo de operação – procuramos imóveis com boa localização, capacidade de valorização e perfil para estadias curtas ou médias de qualidade.
Quem são os principais proprietários dos imóveis geridos pela LovelyStay? São particulares portugueses ou investidores (nacionais ou internacionais)?
Ambos. Temos desde pequenos proprietários que acompanham o projeto há anos até investidores institucionais e ‘family offices’ internacionais. O perfil está a evoluir: cada vez mais trabalhamos com investidores profissionais ou individuais, mas que exigem dados, ‘reporting’ e performance. A relação de confiança é construída na transparência dos resultados.

E os clientes/hóspedes são sobretudo nacionais ou estrangeiros?
As percentagens estão sempre a mudar, mas a maioria são estrangeiros – sobretudo americanos (10,67%), espanhóis (10,63%), franceses (9,03%) e britânicos (7,01%). Também temos assistido a um crescimento de estadias médias, ligadas à mobilidade profissional e ao trabalho remoto. A exigência aumentou, e é isso que nos obriga a manter um padrão operacional elevado.
Este foi um negócio que cresceu muito nos últimos anos à boleia do turismo, certo? Acredita que Portugal continuará na mira dos turistas e também dos investidores imobiliários?
Sim, mas o crescimento fácil já passou. Agora é preciso saber operar, manter margens e entregar experiência. Portugal continua a ser um destino atrativo, pela segurança, qualidade de vida, beleza e estabilidade, mas o setor vai exigir mais profissionalismo, e é isso que procuramos garantir todos os dias.
O AL tem gerado bastante polémica em Portugal, nomeadamente por alegadamente afetar a oferta de habitação. Qual a sua opinião sobre o tema? Devia o Governo intervir de alguma forma neste setor? Como?
A discussão sobre o AL é legítima, mas o enquadramento legal atual está profundamente desequilibrado. As medidas recentes penalizam operadores sérios e profissionais, sem atacar as causas estruturais da crise da habitação – que continuam a ser a escassa oferta, o desinvestimento na construção e reabilitação e a ausência de uma política fiscal estável e coerente.
Há um erro de fundo em gerir o país inteiro como se fosse Lisboa. O impacto do AL em muitas regiões do país é positivo: reabilita imóveis devolutos, atrai turismo de qualidade, gera emprego local e ativa economias urbanas e rurais. Grande parte dos imóveis que hoje operamos estavam abandonados ou sem qualquer uso – e não teriam sido recuperados para habitação permanente, nem por privados, nem pelo Estado.
"(...) Só nos centros históricos de Lisboa e Porto é que o AL ultrapassa os 6% do parque habitacional. Então porque é que não se consegue comprar casa em Massamá ou em Coimbra? O problema não é o AL, é a falta de investimento sério em habitação acessível"
Mesmo nas grandes cidades, a narrativa dominante omite dados essenciais: só nos centros históricos de Lisboa e Porto é que o AL ultrapassa os 6% do parque habitacional. Então porque é que não se consegue comprar casa em Massamá ou em Coimbra? O problema não é o AL, é a falta de investimento sério em habitação acessível.
Somos a favor de limites e de crescimento sustentável. Defendemos regulação clara, proporcional, com fiscalização eficaz. Mas não podemos aceitar medidas populistas que tentam desviar atenções da ausência de soluções reais. O país precisa de políticas públicas responsáveis, e o setor precisa de previsibilidade para continuar a atrair investimento responsável e criar valor.

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