Miguel Alegria, CEO da Engexpor, fala, em entrevista ao idealista/news, sobre os projetos da empresa e o futuro do setor da construção em Portugal.
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“Continua a fazer todo o sentido desenvolver habitação para a classe média portuguesa”
Produção na construção a cair Engexpor

“Continua a fazer todo o sentido desenvolver habitação para a classe média portuguesa, uma vez que continua a haver escassez deste tipo de produto no nosso país e será necessário responder à procura”. A garantia é dada ao idealista/news por Miguel Alegria, CEO da Engexpor, empresa especializada na gestão de projetos e gestão da construção que está no mercado há mais de 35 anos, estando envolvida em várias obras no país, como por exemplo o Bayview, em Cascais, e o Martinhal Residences, no Parque das Nações.

Antecipa o responsável que, com a pandemia da Covid-19 “o mercado do imobiliário e da construção vai evoluir tecnologicamente”, destacando que o “setor da construção, até ao momento, não foi tão afetado como outros e a grande maioria dos projetos e das obras não pararam mesmo em fase de confinamento”. Uma resiliência que se deve “muito ao facto das empresas de promoção imobiliária que estão mais ativas no mercado serem organizações sólidas, muito profissionais e preparadas para enfrentar situações desta natureza”, argumenta. Sobre o impacto do novo confinamento para o setor, considera que "não trará grandes implicações para as obras em curso, além de perturbações logísticas". Poderá, sim, "atrasar algumas operações de aquisição de imóveis, bem como adiar a tomada de decisão por parte dos investidores".

Miguel Alegria adianta que a Engexpor tem em curso mais de 40 projetos em Portugal “em fases distintas de desenvolvimento, desde a pré-construção à construção, incluindo alguns em fase de conclusão”. A maioria são relativos a imóveis residenciais, conta, revelando muitos outros podem “’sair do papel’ e avançar a qualquer momento”. 

Outro dos temas abordados na entrevista foi a metodologia BIM (Building Information Modelling), uma prática que chegou a Portugal recentemente e que é “o eixo central da digitalização na construção, favorecendo uma maior eficácia, eficiência e sustentabilidade não só ao nível dos projetos, mas também das organizações e da indústria”. “O futuro da construção passa incontornavelmente por aqui”, frisa o gestor.

“Continua a fazer todo o sentido desenvolver habitação para a classe média portuguesa”
Engexpor está a realizar a gestão de obra do empreendimento Bayview, em Cascais Engexpor

A Engexpor acompanhou (e continua a acompanhar) várias obras emblemáticas. Fale-nos um pouco sobre a atividade da empresa nos últimos anos?

A Engexpor presta serviços em vários países, sendo que os principais são Portugal, Brasil, Angola e Moçambique. Esta dispersão permite-nos manter um crescimento sólido e sustentável no nosso grupo, ainda que cada região contribua de forma diferente em função do próprio desenvolvimento económico local.

Especificamente em Portugal, e após a grande crise que se viveu entre 2010 e 2014, temos registado nos últimos cinco anos um forte crescimento na nossa atividade, em linha com a evolução que o país tem observado a nível da economia e do mercado imobiliário. Temos acompanhado vários projetos de diferentes dimensões e características, com maior incidência nas regiões de Lisboa, Porto e Algarve.

"(...) Assistimos em alguns casos [em 2020] ao adiamento na tomada de decisão dos promotores imobiliários para o arranque de novos projetos, o que é perfeitamente razoável e compreensível face ao cenário de incerteza"

No Brasil estamos a crescer desde 2011, sendo o segundo mercado da Engexpor em termos de faturação com uma atividade muito dinâmica em todos os setores e com obras de grande escala em praticamente todo o território.

Atualmente, a Engexpor está mais direcionada para o setor residencial?

Depende muito da região em que operamos. Em cada ano estaremos a acompanhar mais projetos de determinados setores em função do que o “país pede”, ou seja, dos setores com mais atividade em determinado momento. Em Portugal temos tido, por isso, uma forte atuação no setor residencial nos últimos anos, em resultado do ‘boom’ de investidores profissionais neste setor, mas estamos igualmente muito dinâmicos no segmento de escritórios, no qual destaco a participação em mais de 150.000 m2 de área. Na hotelaria estamos a acompanhar diversos projetos de gamas muito diferentes e também no setor de saúde temos participado em projetos de grande complexidade.

O ano de 2019 foi, em Portugal, o melhor ano da Engexpor desde 2009, certo? E 2020 prometia voltar a ser um ano de recordes, mas... surgiu a pandemia. Que impacto teve no volume de negócios e na faturação da empresa?

A pandemia teve um impacto significativo nos nossos objetivos para 2020 quando olhamos para as diversas regiões onde estamos presentes. No caso de Portugal crescemos comparativamente com 2019, mas ficámos aquém da previsão do início de ano. O impacto deu-se essencialmente a três níveis. Em primeiro lugar porque tomámos a decisão de reduzir os nossos honorários nos contratos em curso e em fase de obra na altura mais crítica da pandemia, uma vez que por estarmos a trabalhar de modo remoto não poderíamos acompanhar fisicamente as obras da mesma forma. Em segundo lugar porque foi suspenso o maior projeto que tínhamos em Portugal e que consistia na gestão do projeto e da obra da nova fábrica de jipes da Ineos Automotive, em Estarreja, uma decisão que, infelizmente, teve também impactos negativos na região e no país, pois iria criar muitos postos de trabalho. Por último, porque assistimos em alguns casos ao adiamento na tomada de decisão dos promotores imobiliários para o arranque de novos projetos, o que é perfeitamente razoável e compreensível face ao cenário de incerteza.

"Foi suspenso [em 2020] o maior projeto que tínhamos em Portugal e que consistia na gestão do projeto e da obra da nova fábrica de jipes da Ineos Automotive, em Estarreja" 

Pode afirmar-se que vai haver um pré-pandemia e um pós-pandemia no setor da construção, que foi, ainda assim, um dos mais resilientes durante a crise pandémica?

Com esta pandemia o mercado do imobiliário e da construção vai evoluir tecnologicamente. Felizmente, o setor da construção não foi tão afetado como outros e a grande maioria dos projetos e das obras não pararam mesmo em fase de confinamento. O nosso setor tem um peso muito significativo na economia, envolvendo um universo muito diversificado de empresas no que respeita à sua dimensão, sendo muito positivo para o país e para o setor que se mantenha como um dos mais resilientes. 

E isso deve-se muito ao facto de as empresas de promoção imobiliária que estão mais ativas no mercado serem organizações sólidas, muito profissionais e preparadas para enfrentar situações desta natureza. Por outro lado, considero que se mantêm os pressupostos de base, ou seja, continua a existir falta de habitação, de escritórios e de novas áreas de logística, além de que Portugal continuará a ser um país muito atrativo para o turismo e para o investimento estrangeiro fruto da imagem muito positiva que criou lá fora nos últimos anos. 

Disse, no início de 2020, que desde meados de 2018 se assiste cada vez com mais frequência ao lançamento de projetos novos de grande dimensão no país, sendo isso um sinal de que o mercado ainda estava em fase de crescimento. Este é um mercado que continua em fase de crescimento?

Esse crescente desenvolvimento de projetos de grande dimensão continua a verificar-se e temos expetativa de que irá manter-se em vários setores, como é o caso da habitação para o mercado nacional, escritórios ou até mesmo na hotelaria. A área da saúde também continuará a crescer com vários projetos, não apenas de hospitais, mas também de residências sénior. Além disso, têm sido anunciados vários investimentos em projetos e obras públicas de grande dimensão, que terão um impacto positivo nas zonas envolventes, originando o desenvolvimento de outros projetos.

Quantos projetos tem atualmente a Engexpor em carteira e em que setores? 

A Engexpor tem em curso 41 projetos em Portugal em fases distintas de desenvolvimento, desde a pré-construção à construção, incluindo alguns em fase de conclusão. Estes projetos decorrem essencialmente nos setores de escritórios (cinco), habitação (21), hotelaria (oito) e também na área da saúde (três).

"Temos um grande número de projetos que 'poderão sair do papel' e avançar a qualquer momento, na medida em que temos boas perspetivas que nos sejam adjudicados"

E quantos projetos estão em ‘pipeline’ e podem “sair do papel” a qualquer momento?

Temos um grande número de projetos que “poderão sair do papel” e avançar a qualquer momento, na medida em que temos boas perspetivas que nos sejam adjudicados. Esses projetos serão desenvolvidos essencialmente nos setores residencial, hotelaria e saúde, além de alguns no segmento industrial, que está a ressurgir no mercado português com projetos muitos interessantes, alguns dos quais iremos acompanhar.

“Continua a fazer todo o sentido desenvolver habitação para a classe média portuguesa”
Modulação 3D do Martinhal Residences. em Lisboa, cuja gestão de obra está a cargo da Engexpor Engexpor

Disse, em janeiro de 2020, que ainda havia espaço para muita habitação no país, sobretudo produto para portugueses. Mantém a mesma opinião? Este é o caminho a seguir? 

Sim, continua a fazer todo o sentido desenvolver habitação para a classe média portuguesa, uma vez que continua a haver escassez deste tipo de produto no nosso país e será necessário responder à procura. A Engexpor tem atualmente uma forte atividade neste mercado quer em termos de projetos em curso bem como de projetos futuros em ‘pipeline’.

A construção tem evoluído muito nos últimos anos? 

A evolução foi, de facto, muito significativa, quer em termos de novas técnicas quer em termos dos materiais usados. Contudo, em vez de sermos exaustivos na sua enumeração, poderá ser mais importante referir que essas técnicas e materiais fazem mais sentido quando são usados para melhorar continuamente a qualidade na construção, desde a fase de elaboração dos projetos até à entrega da obra. A qualidade será cada vez mais um fator distintivo das empresas que participam no desenvolvimento imobiliário, até porque sentimos que os ocupantes e utilizadores dos empreendimentos de qualquer setor são hoje muito mais exigentes. 

“Continua a fazer todo o sentido desenvolver habitação para a classe média portuguesa”
Gestão da obra do Porto Office Park (POP) teve a "mão" da Enhexpor Engexpor

Fale-nos um pouco sobre a metodologia BIM (Building Information Modelling). O que traz de novo para o setor? 

O BIM é fundamentalmente uma abordagem melhorada à conceção, construção, operação e gestão, utilizando um modelo digital 3D único e normalizado para cada obra, nova ou antiga, e que contém toda a informação criada ou reunida sobre essa obra num formato legível por todos os intervenientes ao longo do seu ciclo de vida. 

Surge assim como uma solução que promove a integração da indústria da construção por meio da colaboração, normalização e desmaterialização de processos.

Esta metodologia assume-se como o eixo central da digitalização na construção, favorecendo uma maior eficácia, eficiência e sustentabilidade não só ao nível dos projetos, mas também das organizações e da indústria, que tradicionalmente requer melhorias ao nível da produtividade e qualidade. 

"A metodologia BIM assume-se como o eixo central da digitalização na construção (...). O futuro da construção passa incontornavelmente por aqui"

A Engexpor tem participado em projetos com integração BIM nos vários setores de atividade imobiliária, totalizando mais de 15 projetos. O exemplo mais recente em que a Engexpor assume a Gestão e Coordenação BIM, que inclui desde a consulta e contratação à monitorização e controlo do projeto, é o Hotel Meliã Lisboa, junto ao Marquês de Pombal. Tem sido um processo desafiante e acima de tudo enriquecedor, dado que todas as disciplinas (cerca de 14) e entidades (cerca de 10) do projeto estão envolvidas no processo BIM. 

É uma prática que tem ganho destaque a nível internacional e que está a ganhar espaço em Portugal? O futuro da construção passa também por aqui?

O BIM tem vindo a tornar-se uma realidade a nível global, destacando-se na Europa países como Alemanha, Espanha, França e Reino Unido, que já tomaram medidas de incentivo à adoção desta metodologia a nível nacional, incluindo o desenvolvimento de legislação e normas. Casos como os do Reino Unido, Noruega e Finlândia foram ainda mais longe, ao tornar a implementação BIM obrigatória para projetos públicos.

Esta prática chegou a Portugal mais recentemente e têm vindo a existir diversas iniciativas de disseminação promovidas por entidades como a Comissão Técnica de Normalização BIM, da qual a Engexpor é parceira e onde colabora ativamente, tendo já desenvolvido documentos como o Guia de Contratação BIM e o Plano de Execução BIM para o caso português.

O futuro da construção passa incontornavelmente por aqui.

Lê-se no site da Engexpor que esta é o parceiro ideal na gestão dos projetos de uma empresa. Porquê?

A nossa experiência e extenso ‘track record’ em todos os setores do imobiliário e da construção dizem muito da confiança que os nossos clientes têm no nosso trabalho, mas acredito que só foi possível fazer este percurso de mais de 35 anos e chegar onde estamos hoje porque investimos nas nossas pessoas. Temos equipas seniores e sólidas a quem damos formação contínua e que partilham os valores e princípios da empresa, atuando sempre com sentido ético, total transparência e isenção. 

Além disso, temos feito grandes investimentos em tecnologia, inovação e modernização da nossa organização e formas de trabalho, apostando na produtividade e eficiência dos colaboradores e na qualidade do serviço que prestamos aos clientes. Todos estes fatores nos qualificam para trabalhar com qualquer empresa, nacional ou internacional, e em qualquer projeto, independentemente do seu setor ou dimensão. 

O que distingue a Engexpor das restantes empresas que atuam no setor?

Apostamos muito nos valores da empresa e nas equipas. Reconhecemos e valorizamos muito a atividade dos engenheiros, arquitetos e técnicos e criamos boas condições de trabalho. Apostamos na formação das equipas e investimos em tecnologia, não apenas ligada à atividade de projeto e construção, mas também para criar boas condições de trabalho e prestar um serviço otimizado aos nossos clientes. O ciclo de desenvolvimento imobiliário é muito longo e é fundamental que as equipas se mantenham estáveis ao longo dos projetos e também que evoluam de um projeto para outro. O facto de termos uma dimensão média permite-nos ter capacidade para fazer os necessários investimentos em tecnologia e melhoria da nossa operação, e ao mesmo tempo manter uma ligação muito próxima com os clientes.

"O bom momento que se vive no imobiliário em Portugal impulsionou o aparecimento de muitas empresas de serviços de engenharia, algumas com estruturas muito pequenas e com baixos honorários, e a maioria apenas a aproveitar esta oportunidade do mercado, ao invés de criarem organizações profissionais e que perdurem por vários anos" 

Ao longo dos anos a Engexpor tem promovido uma saudável evolução de vários colaboradores para posições de maior responsabilidade, sendo a direção da empresa constituída por uma equipa de pessoas com idades e antiguidades diferentes, o que nos tem permitido evoluir significativamente a nível tecnológico e de organização de processos, mantendo a cultura e os pilares que estão na base da fundação da Engexpor.

Por outro lado, o bom momento que se vive no imobiliário em Portugal impulsionou o aparecimento de muitas empresas de serviços de engenharia, algumas com estruturas muito pequenas e com baixos honorários, e a maioria apenas a aproveitar esta oportunidade do mercado, ao invés de criarem organizações profissionais e que perdurem por vários anos. As suas práticas de baixos honorários têm um efeito de desvalorização da atividade dos engenheiros e arquitetos, que têm muita importância num mercado imobiliário e de construção cada vez mais profissional e exigente. No panorama internacional a imagem que deixam do nosso setor não é a mais positiva.

Que efeitos pode ter este novo confinamento para o setor?

Ainda não foram anunciadas as medidas concretas que irão estar em vigor no novo confinamento geral que o Governo pretende implementar, no entanto, a informação que tem vindo a público é no sentido de ser um confinamento similar ao que ocorreu em março de 2020. A indústria da construção não parou no confinamento de março, pelo que acredito que o novo confinamento não trará grandes implicações para as obras em curso, além de perturbações logísticas. O confinamento geral poderá atrasar algumas operações de aquisição de imóveis, bem como adiar a tomada de decisão por parte dos investidores.

“Continua a fazer todo o sentido desenvolver habitação para a classe média portuguesa”
Gestão da obra do novo hospital CUF Tejo esteve a cargo da Engexpor Engexpor

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