
A história da Fintech House começou a ser escrita há dois anos, em 2020. Nasceu da colaboração entre a associação sem fins lucrativos Portugal Fintech e a maior rede de espaços cowork em Portugal, Sítio, e ganhou vida “pela necessidade de juntar num único sítio todo o ecossistema fintech”, começa por dizer ao idealista/news Mariana Gorjão Henriques, Head of the Fintech House, salientado que “Portugal é um destino de eleição" para as startups internacionais. A verdade é que agora, dois anos depois, a incubadora de startups amadureceu e sentiu necessidade de se expandir. Deixou o Palácio das Varandas, na Praça da Alegria, e mudou-se para um edifício de escritórios com 10 pisos e 2.500 metros quadrados (m2) na Avenida Duque de Loulé, também em Lisboa. Fica a saber tudo sobre o novo espaço desta verdadeira fábrica de startups.
“A visão da Fintech House é ser um dos principais hubs na Europa para desenvolver startups fintech”, revela a responsável pelo hub tecnológico, que terá 400 postos de trabalho disponíveis. “A mudança está em curso até ao final de outubro, estando o espaço já operacional e a funcionar parcialmente”, conta numa entrevista concedida por escrito ao idealista/news.
Entre os vários temas abordados está o facto de Portugal ser cada vez mais visto como um país de empreendedorismo e repleto de empreendedores. Mariana Gorjão Henriques não tem dúvidas de que “o país vive uma fase positiva no que toca ao empreendedorismo e à iniciativa individual”, mas deixa um alerta: “Devemos também reconhecer que o percurso é longo, e Portugal pode ainda fazer muito pelos seus empreendedores. Na Fintech House, e em geral no trabalho da Portugal Fintech, procuramos contribuir para um ecossistema mais propenso a investimento e à iniciativa, para que estes empreendedores possam arriscar e inovar mais e melhor”.

A Fintech House, o primeiro hub e cowork de fintech em Portugal, foi inaugurada no início de 2020, encontrando-se atualmente instalada na Praça da Alegria. Que balanço faz destes mais de dois anos de atividade?
O balanço é extremamente positivo. A Fintech House é uma iniciativa da associação sem fins lucrativos Portugal Fintech e da maior rede de coworks nacional, Sitio, que nasceu pela necessidade de juntar num único sítio todo o ecossistema fintech. No primeiro ano, chegámos a 15 startups, ainda durante o período de pandemia, no segundo aumentámos para 40 e este ano temos mais de 80 startups, de todos os níveis de maturidade, o que demonstra a procura e o crescimento do setor fintech em Portugal.
Fomos também o palco de inúmeros eventos, um deles o Ethereum Lisbon Hackathon, que aconteceu em Lisboa no ano passado, e de várias conferências do setor financeiro, debatendo-se temas como o euro digital, open banking, ESG.
O propósito para o qual foi criada efetiva-se no dia a dia. Atualmente, somos o ponto de encontro do ecossistema fintech, juntando reguladores, bancos, empreendedores, especialistas, prestadores de serviços, investidores, estudantes e media. Conseguimos oferecer serviços a startups em todas as frentes e áreas de desenvolvimento e essa era a real missão a que nos propusemos.
Fale-nos um pouco da origem da Fintech House. O que é? Como atua? Com que objetivo foi criada?
Mais que um espaço de escritório, procuramos dar suporte às startups desde o acesso a capital, conexão a talento, proximidade a bancos, seguradoras e outros players maduros e reguladores. A Fintech House surgiu como o ponto de encontro para todo o ecossistema especializado em tecnologia financeira, agregando startups da área da banca (fintechs), seguros (insurtechs), regulação (regtechs), cibersegurança, cripto e blockchain, em todas as fases de maturidade.
"Atualmente, somos o ponto de encontro do ecossistema fintech, juntando reguladores, bancos, empreendedores, especialistas, prestadores de serviços, investidores, estudantes e media"
A Fintech House conta também seis parceiros oficiais que apostam continuamente na inovação e tecnologia, trabalhando de forma próxima no apoio destas startups, com reuniões mensais de mentoria, conferências e workshops que promovem um diálogo aberto e partilha de conhecimento. São eles o BPI, Fidelidade, INCM, KPMG, Morais Leitão e VISA.
Quantas startups estão alojadas atualmente na Fintech House?
Atualmente, a Fintech House conta com 80 startups de quase todas as partes do mundo, como por exemplo Brasil, Ucrânia, Espanha, França, Suíça e Reino Unido.
Quais as áreas em que atuam estas empresas/startups?
A Fintech House agrega startups da área da banca (fintechs), seguros (insurtechs), regulação (regtechs), cibersegurança, cripto e blockchain, em todas as fases de maturidade.

Que interesse tem despertado o setor do imobiliário entre as novas startups? Há um antes e um depois da pandemia?
A pandemia teve sem dúvida impacto na forma como as nossas startups criam os seus escritórios, o que nos fez reinventar também a Fintech House. No pós-pandemia as startups dimensionam escritórios considerando o teletrabalho, fazendo do escritório um ponto de encontro e colaboração. Além disso, as equipas estão em várias geografias, sendo neste caso Portugal um destino de eleição por diversos motivos.
Do nosso lado, tivemos de desenvolver um escritório mais preparado para esta realidade, com, por exemplo mais salas de reuniões para vídeo conferências ou phone booths (espaço para uma pessoa estar numa reunião).
"No pós-pandemia as startups dimensionam escritórios considerando o teletrabalho, fazendo do escritório um ponto de encontro e colaboração"
Do lado dos colaboradores, procura-se cada vez mais escritórios com espaços sociais e que incluam uma dimensão de comunidade e de partilha de experiências, de forma a que seja cada vez mais atrativo vir ao escritório.
A Fintech House vai agora mudar de “casa”, de escritório. A que se deve esta mudança?
A Fintech House procurava um espaço para crescer e onde pudéssemos albergar mais startups. A nova sede, na Avenida Duque de Loulé, vem responder exatamente a essa necessidade, é um moderno edifício de 10 pisos, com 2.500 m2 e com 400 postos de trabalho disponíveis.
São várias as áreas desenhadas a pensar na colaboração:
- O piso 7 com lounge, copa e rooftop, para socialização entre as várias empresas;
- As salas de reunião disponíveis para receber investidores e parceiros;
- O auditório e sala de workshops que irão permitir que a Fintech House se mantenha o palco de eventos relevantes no setor.
No entanto, o espaço não servirá apenas a comunidade, sendo o piso 0 aberto com cafetaria, business lounge e open space, o local de trabalho ideal para conseguirmos receber mais nómadas digitais.
Quando acontecerá a mudança oficialmente? É um espaço arrendado ou foi comprado? Estamos a falar num investimento de que ordem de valores?
A mudança está em curso até ao final de outubro, estando o espaço já operacional e a funcionar parcialmente. É um espaço arrendado e gerido pela maior rede nacional de coworks, o Sitio, e que contou com um investimento na reconversão do espaço de quase um milhão de euros.

Está prevista a expansão para outras zonas do país, como por exemplo para o Porto?
A visão da Fintech House é ser um dos principais hubs na Europa para desenvolver startups fintech, e isso poderá passar por ter várias localizações da Fintech House, dentro ou fora do país. Dentro do país as empresas e o talento não se focam só em Lisboa, sendo importante quebrar esse mito e expandir para outras cidades, começando pela ligação às universidades. Neste momento, já apoiamos algumas startups à distância, mas a longo prazo temos o objetivo de expandir para outras zonas do país de forma a estarmos mais próximos de mais empresas. Contudo, ainda não temos previsões para abertura de uma nova Fintech House.
"A visão da Fintech House é ser um dos principais hubs na Europa para desenvolver startups fintech, e isso poderá passar por ter várias localizações da Fintech House, dentro ou fora do país"
O que distingue a Fintech House de outros espaços de cowork?
A Fintech House é dos únicos espaços de cowork verticalizados e especializado unicamente em soluções de tecnologia financeira, o que permite juntar o ecossistema todo num único lugar e ser a porta de entrada para startups Fintech na Europa. Este é um ponto fundamental na nossa proposta de valor para o ecossistema empreendedor. Ao estarmos especializados, somos simultaneamente a porta de entrada e o ponto de encontro para o ecossistema fintech português. Da mesma forma permite-nos especializar os serviços que prestamos, desde parceiros, a eventos e comunicação para alavancar o impacto das startups do nosso ecossistema.
Em suma, mais que um espaço de cowork somos uma one stop shop para startups Fintech.
"Mais que um espaço de cowork somos uma one stop shop para startups Fintech"
São várias as empresas (multinacionais, startups etc.) que estão a optar por instalar-se em Portugal, nomeadamente em Lisboa. A que se deve este “fenómeno”?
Portugal tem sido visto cada vez mais como um centro de inovação fintech e um mercado atrativo para projetos internacionais, a prova disso é que este ano tivemos mais de quatro unicórnios [empresas avaliadas em mais de mil milhões de dólares] fintech internacionais a expandirem-se para Portugal.
Há vários fatores chaves que explicam este fenómeno, como a qualidade do talento do ensino superior em áreas tecnológicas e digitais com aptidão para línguas e o crescente número de talento altamente qualificado. Aliado, claro, a fatores cruciais como a qualidade de vida, segurança e clima.
Portugal é cada vez mais visto como uma porta de ligação à Europa, e a porta de entrada para os países de língua oficial portuguesa. Como país geograficamente pequeno, permite também que uma fintech consegua testar o seu produto rapidamente e perceber se tem tração no mercado.

Portugal começa a ser visto, cada vez mais, como um país de empreendedorismo e repleto de empreendedores. Partilha desta visão?
O país vive uma fase positiva no que toca ao empreendedorismo e à iniciativa individual. Todos os dias vemos casos de sucesso de portugueses, cá ou noutras geografias, a ter sucesso e apresentar novos projetos. Atualmente temos sete unicórnios com ADN português, o que nos afirma cada vez mais no cenário europeu de startups.
"Na Fintech House sentimos que as empresas já voltaram aos escritórios. Neste momento estamos praticamente sem nenhum escritório livre, o que mostra a vontade das empresas de ter um espaço físico"
Porém, devemos também reconhecer que o percurso é longo, e Portugal pode ainda fazer muito pelos seus empreendedores. Na Fintech House, e em geral no trabalho da Portugal Fintech, procuramos contribuir para um ecossistema mais propenso a investimento e à iniciativa, para que estes empreendedores possam arriscar e inovar mais e melhor.
Sente que agora, num cenário de pós-pandemia (esperemos), o teletrabalho poderá perder preponderância, estando as empresas a voltar em força aos escritórios? O cenário ideal será o trabalho híbrido?
Na Fintech House sentimos que as empresas já voltaram aos escritórios. Neste momento estamos praticamente sem nenhum escritório livre, o que mostra a vontade das empresas de ter um espaço físico. Contudo, o cenário ideal para quase todas estas empresas continua a ser o modelo híbrido, continuarem com um escritório, mas com metade da capacidade, dando ao colaborador a liberdade de decidir quando vão ao escritório. É a forma de conjugar as vantagens do trabalho remoto e presencial, permitindo aos colaboradores a capacidade de equilibrar a vida pessoal com a profissional.


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