Com o preço das casas a subir em flecha, em que casas e condições vivem portugueses? E os outros europeus? Dados da CE respondem.
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Viver em Portugal e na Europa
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Viver em Portugal e na Europa já foi mais barato. Hoje, só os custos com a habitação podem sufocar os rendimentos das famílias. A verdade é que o preço das casas, quer para comprar quer para arrendar, continua a subir na maioria dos 27 países da União Europeia (UE) – Portugal incluído – e os salários não conseguem acompanhar este ritmo. Mas como é que os preços das casas evoluíram nos últimos dez anos? E como vivem hoje os portugueses e os europeus? Qual é a qualidade das casas onde hoje habitam? O Eurostat analisa estes e outros dados a pente fino, desenhando o estado da habitação no espaço europeu.

Comecemos esta viagem analisando um dos indicadores que mais impacto tem no mercado habitacional: o preço das casas. Em tendência ascendente desde 2013 – e com aumentos particularmente acentuados entre 2015 e 2020 -, o preço das casas na UE aumentou cerca de 26% em dez anos, destaca o gabinete de estatística europeu na sua aplicação interativa sobre o tema publicada na passada sexta-feira, dia 17 de dezembro de 2021.

Contam-se 23 estados-membros que registaram subidas nos preços das casas para comprar entre 2010 e 2020. E as maiores foram verificadas na Estónia (+108%), Hungria (+91%), Luxemburgo (+89%), Letónia (+81%) e Áustria (+77%). Portugal faz parte deste grupo, já que os preços das habitações subiram 42,8% em dez anos (+16,8% que a média europeia). Mas também se registaram descidas nos preços em três países durante este período: Itália (-15%), Espanha (-5%) e Chipre (-4%). Note-se que Grécia não foi considerada nesta análise por não ter dados disponíveis, informa o gabinete.

E como está, agora, o custo da habitação na Europa? Segundo o índice dos preços das casas do Eurostat, em 2020 a Hungria apresentou os valores mais altos, ficando em primeiro lugar. Logo a seguir ficou a Turquia, a Islândia e a República Checa. Nesta lista, Portugal foi mesmo o quinto país com o índice do preço das casas mais elevado. Já no fundo da tabela está a Itália, acompanhada pela Finlândia e pelo Chipre.

Como evoluíram as rendas na europa?

A evolução dos preços das casas para comprar não foi linear ao longo de dez anos - sofreram correções negativas entre 2011 e 2013 devido à crise financeira global. Já no caso das rendas das casas a realidade é outra: “registou-se um aumento constante das rendas na UE entre 2010 e 2020”. Contas feitas, de lá para cá as rendas no espaço europeu aumentaram uma média de 14%.

Esta foi a tendência registada em quase todos os estados-membros (25 em 27). Os maiores aumentos foram observados na Estónia (+145%), Lituânia (+107%) e Irlanda (+63%). Mas também foram verificadas quedas nas rendas das habitações: na Grécia (-25%) e no Chipre (-5%), revela ainda o documento.

Em Portugal, a evolução das rendas das casas não foi tão linear. Entre 2010 e 2013, o valor das rendas no país luso era mesmo inferior à média europeia e só em 2016 conseguiu superá-la. A evolução foi de tal ordem que o valor das rendas em Portugal subiu 21,6% em dez anos e em 2020 supeou a média europeia em quase 4%.

Evolução dos preços das casas em Portugal
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Comprar ou arrendar casa?

Com os preços das casas para comprar e arrendar em alta, qual tem sido a escolha dos europeus? Em 2020, mais de dois terços das pessoas viviam em agregados que possuem casa própria. Isto é, 70% da população vivia num seio familiar com casa própria, enquanto 30% vivia em casas arrendadas.

A maioria da população em todos os países da UE prefere viver numa casa própria. Mas há variações significativas no que toca ao mercado de arrendamento. Por exemplo, na Alemanha os mercados estão equilibrados: cerca de 50,4% das pessoas são proprietários das habitações e outros 49,6% escolheu viver numa casa arrendada. Já na Roménia viver numa casa própria é a escolha de 96,1% da população e só 3,9% recorreu ao mercado de arrendamento. Em Portugal, em cada quatro pessoas, três vive numa casa própria e apenas uma vive numa casa arrendada.

E em que tipo de casas vivem os europeus? No geral, 52,9% da população da UE escolhe viver numa moradia, enquanto 46,2% vive num apartamento. Em Portugal, a realidade é similar. A verdade é que tudo muda da cidade para o campo. Nas cidades, 71,7% dos europeus e 66,4% dos portugueses moram em apartamentos. E no campo, 82,4% dos europeus e 86,7% dos portugueses vivem em moradias.

Arrendar casa na europa está mais caro
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A qualidade das casas dos europeus - ou a falta dela

“Os aumentos nos preços das casas em relação aos rendimentos tornam uma habitação inacessível para muitos segmentos da população”, referiu recentemente o Fundo Monetário Internacional (FMI). E também a OCDE concluiu que "um aumento geral nos preços das casas e das rendas está a piorar o acesso à habitação, especialmente para as famílias mais pobres” e ainda que este cenário "ameaça aumentar as desigualdades pré-existentes”. Isto porque esta realidade impede muitas famílias de comprar casa, de mudar para outra habitação com melhores condições ou de investir em obras para melhorar a sua casa.

A verdade é que ainda há famílias a viver em casas de baixa qualidade nos vários países europeus. Cerca de 14% da população europeia que vive em uma casa com roturas no telhado, 8,2% que não consegue manter a casa aquecida nos dias mais frios do inverno e 1,5% ainda tem falta de condições na casa de banho, como falta de sanita, base de duche ou banheira, mostram os dados do Eurostat.

A qualidade da construção das casas importa, sobretudo, nas épocas mais frias e mais quentes do ano. No que diz respeito a roturas no telhado, que deixam a água entrar, o Chipre é mesmo o caso mais grave com 39,1% da população a sofrer deste problema. Em segundo lugar está mesmo Portugal, com 25,2% da população a viver ainda numa casa com problemas na cobertura.

A dificuldade em manter a casa quente de forma adequada também é sentida um pouco por toda a europa. A Bulgária é o país da UE que tem mais pessoas nesta situação - cerca de 27,5%. Logo a seguir está a Lituânia (23,1%) e o Chipre (20,9%). E Portugal aparece em quarto lugar nesta matéria: em território luso ainda 17,5% das famílias não conseguiram aquecer as suas casas nos meses mais frios de 2020.

A falta de condições na casa de banho é gritante em quatro países: Roménia (21,2%), Bulgária (7%), Letónia (7%) e Lituânia (6,4%). Mas na maioria dos países do espaço europeu é quase residual. Em Portugal, apenas 0,4% das famílias têm falta de condições nesta divisão. 

Casas com falta de qualidade
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Viver em casas com espaço a mais ou a menos?

A qualidade das casas não é a única variável que impacta a qualidade de vida das famílias. O número de pessoas que moram numa casa também tem um peso importante neste ponto. Os dados mostram que em 2020 havia 1,6 quartos por pessoa em média na UE. E esta realidade é diferentes nos diferentes países. O maior número foi registado em Malta (2,3 quartos por pessoa) e o menor na Roménia (1,1 quartos). Portugal está a meio da tabela com 1,7 quartos por pessoa.

Este é um indicador importante para perceber quantas famílias há a viver em casas sobrelotadas, o que compromete a qualidade da habitação. Em 2020, ainda cerca de 18% da população da UE vive em casas superlotadas – ainda assim é menos 1,3% do registado em 2010. As taxas de sobrelotação mais elevadas foram observadas na Roménia (45,1%), Letónia (42,5%) e Bulgária (39,5%), e as mais baixas em Chipre (2,5%) e Malta (4,2%). Em Portugal, 9% da população vive nestas condições, mostram os dados.

Mas o oposto também existe. Há famílias a viver em casas demasiado grandes para as suas necessidades reais. “O motivo clássico da subocupação são as pessoas mais velhas ou casais que permanecem em suas casas depois de os filhos crescerem e sairem de casa”, explica o gabinete de estatística europeu. Quase um terço da população europeia (32,5%) vivia em casas subocupados no ano passado, uma proporção que tem se mantido quase estável desde 2010. Em território nacional, 36,3% da população portuguesa vive em casas demasiado grandes para o seu agregado familiar.

Espaço nas casas
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A inflação e as despesas com a habitação

Como tem evoluído os preços dos bens e serviços? E os custos com a casa? Entre 2010 e 2020, a inflação subiu 14% na UE e cerca de 11% em Portugal. Atingiu todos os estados-membros e houve mesmo casos em que se registaram subidas da inflação superiores a 20%, como é o caso da Hungria e Roménia (ambos com +26%), explica o Eurostat.

Hoje, este é um tema que tem vindo a ser seguido com atenção pelos vários países europeus, até porque os preços da energia, combustíveis e matérias-primas estão a subir e os cidadãos já sentem os seus efeitos na carteira. A verdade é que em outubro a taxa de inflação subiu 4% em outubro na UE, segundo os dados do Eurostat publicados em novembro. E Portugal neste campo está na cauda da Europa registando o segundo menor aumento (1,8%).

Mas quais os efeitos da inflação nas despesas da casa? O aumento dos preços da água, eletricidade, gás e outros combustíveis faz subir as despesas que as famílias têm mensalmente com a casa. E sobre este ponto, o gabinete de estatística europeu concluí que “os custos com a habitação, em comparação com a média da UE, variam significativamente entre os estados-membros”.

Comparando com a média europeia, os custos de habitação mais elevados em 2020 foram registados na Irlanda (84% acima da média da UE), Dinamarca (66% acima) e Luxemburgo (64% acima). Em Portugal, as despesas com a casa estão abaixo da média europeia em quase 20%. E não é o único: os custos mais baixos foram observados na Bulgária (65% abaixo da média da UE) e na Polónia (61% abaixo).

Qualidade das casas na europa
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