Novo êxodo urbano é uma oportunidade para os municípios, diz o sócio da Bloom Consulting Portugal em entrevista ao idealista/news.
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Viver com qualidade de vida
E-D: Lisboa (1º), Porto (2º), Cascais (3º), Braga (4º) Deensel, CC BY 2.0 / Jose A, CC BY 2.0 / pedrik, CC BY 2.0 / José Gonçalves CC BY 3.0

Os grandes centros urbanos continuam no top das preferências dos portugueses para viver, mas pela primeira vez em décadas o campo voltou a chamar a atenção. Com a pandemia, muitas famílias decidiram, ou estão a ponderar, trocar a vida nas grandes cidades pelo meio rural. E no coração desta mudança está a procura por uma melhor qualidade de vida. Esta é uma das conclusões do estudo Bloom Consulting Portugal City Brand Ranking 2021, que o idealista/news passou a pente fino e explica todas as conclusões.

Quais são os melhores municípios para viver, visitar e fazer negócios em Portugal? Mesmo em tempos de Covid-19, Lisboa arrecada a medalha de primeiro lugar. E em segundo está o Porto, seguido de Cascais, Braga e Coimbra. Este é o top5 da Bloom Consulting PCB Ranking, que permanece, aliás, “intocável”, face à última edição, em 2019. 

Mas nem tudo ficou igual, já que dos 25 concelhos com melhores classificações, 18 viram os seus lugares alterados em comparação com os resultados pré-pandémicos. Houve municípios que se afirmaram, como Vila Nova de Gaia (+4 posições), Aveiro (+3) e Leiria (+6), e outros que, pelo contrário, caíram neste ranking, como o Funchal (-3), Setúbal (-4) e Ponta Delgada (-5).

 

Apesar dos avanços e recuos, “as marcas municipais conseguiram ser resilientes e  continuar a atrair, embora de formas diferentes”, sublinhou Filipe Roquette, sócio e diretor-geral da Bloom Consulting em Portugal, em entrevista por telefone ao idealista/news.

A verdade é que a pandemia da Covid-19 “impactou completamente” na forma de viver, trabalhar e fazer negócios no país e, por isso, o responsável considera que “nada vai ser igual”. E estas mudanças vão “espelhar-se em muita coisa e, em concreto, nas oportunidades que as marcas municipais têm de se afirmar, de apresentar alternativas, de captar pessoas e investimento”, sublinha ainda.

 

Qualidade de vida nas cidades
Foto de Agung Pandit Wiguna no Pexels

Trocar a cidade pelo campo: uma nova tendência?

Entre os melhores municípios para viver está Lisboa, Porto, Coimbra, Braga e Viseu, que lideram o top5 da Bloom Consulting PCB Ranking nesta dimensão. Mas o que este estudo também mostra é que, hoje, assistimos a um ponto de viragem: depois de décadas marcadas pelo êxodo rural, agora verifica-se uma tendência em sentido contrário, com uma maior vontade de sair dos grandes centros urbanos para o campo. Isto porque cerca de 29% dos portugueses que atualmente vivem na cidade, mostram-se disponíveis para mudar para o meio rural, segundo o estudo. Por outro lado, apenas 10% da população portuguesa tem vontade de mudar do campo para a cidade.

As razões que justificam esta vontade de mudar da vida citadina para o meio rural são muitas: desde a procura pela calma e tranquilidade do campo à insatisfação com a casa ou município onde residem, seja pela falta de espaço seja pelo custo de vida excessivo. O foco parece estar na procura por uma maior qualidade de vida próxima da natureza, refere o estudo. A verdade é que cerca de 17% das pessoas que hoje vivem no campo dizem estar felizes e não querem mudar. Mas note-se que cerca 44% dos portugueses que vivem nas cidades também não pensam alterar a morada, segundo mostra o mesmo estudo.

 

Viver na cidade ou no campo? Portugueses agora querem qualidade de vida
Viver no campo Imagem de _Alicja_ por Pixabay

Neste cenário de potenciais mudanças, as pesquisas dos portugueses voltaram-se, sobretudo, para um tema: a habitação. “A procura por habitação e outros temas ligados à qualidade de vida passou a ter uma preponderância muito especial nesta edição do Bloom Consulting Portugal City Brand Ranking”, lê-se no estudo. Esta tendência mostra “alguma vontade de mudança e que há a procura proativa por casas nos 308 municípios”, o que pode refletir que as pessoas estão “insatisfeitas com a casa ou com o município onde vivem”, assume Filipe Roquette.

A disposição de mudar da cidade para o campo é “muita significativa e é uma enorme oportunidade para alguns municípios se afirmarem enquanto lugares alternativos para viver e trabalhar remota ou localmente”, acredita o diretor-geral da Bloom Consulting Portugal.

 

Viver na natureza
Madeira Imagem de Free-Photos por Pixabay

Uma oportunidade para os municípios

Esta mudança de paradigma pode mesmo ser uma oportunidade para os municípios. “Abriram-se algumas portas para o posicionamento das marcas dos municípios perante estas mudanças de comportamento. É muito importante entender que havendo vontade, investimento e dedicação dos municípios, há uma oportunidade de conseguir atrair. Ou seja, criando condições e afirmando o posicionamento de espaços alternativos para trabalhar e viver, existe a porta aberta de muita gente que não está satisfeita neste momento com o lugar onde reside”, explica Filipe Roquette na mesma entrevista.

Um exemplo disso é Idanha-a-Nova (Castelo Branco), que tem vindo a posicionar-se há cinco anos como um município alternativo para a vida junto ao campo. “A verdade é que tem funcionado muito bem e tem recebido muitas famílias neste sentido. Tudo depende do trabalho que o município faz para conseguir criar condições”, avança o sócio da empresa que desenvolveu o estudo. Nas regiões, destaca-se o Alentejo que foi a que cresceu mais na procura, muito devido ao facto de apresentar espaços mais apropriados para estes tempos de pandemia, onde facilmente há distância social e segurança.

 

Viver no Alentejo
Alentejo Foto de craveiro_ pics no Pexels

Trabalhar as marcas municipais é, portanto, a solução para atrair mais pessoas para viver, trabalhar e visitar os concelhos. Isto é, trabalhar o seu posicionamento e estratégia de forma a “criar uma marca clara, para que as pessoas entendam o que quer dizer exatamente aquele espaço, o que é que ele pode proporcionar, que condições poderá dar”, explica ainda o diretor da empresa. A ideia passa por mostrar às pessoas – através de programas e projetos - que naquele município existe “uma oportunidade que lhes vai dar melhores condições de vida do que no sítio onde residem atualmente”, acrescenta.

Mas para atrair mais pessoas para viver, “é preciso que tudo isto se concretize, só a vontade das pessoas saírem da cidade não é suficiente, tem de haver alternativas para encontrar um espaço que gostem que lhes compense financeiramente”, sublinha Filipe Roquette. Esta mudança rumo ao campo, pode ser também o ponto de partida para haver mais construção e investimento nestas zonas do país, considera ainda o autor do estudo.

 

Teletrabalho
Foto de ThisIsEngineering no Pexels

Negócios: o que muda?

O furação da pandemia não só mudou a forma das pessoas sentirem as suas casas e as cidades onde moram. Este cenário também mudou a forma de trabalhar, colocando milhares de portugues em teletrabalho.

Na dimensão dos negócios, Lisboa, Porto, Cascais, Vila Nova de Gaia e Coimbra são os municípios que apresentam as melhores classificações no Bloom Consulting PCB Ranking. Mas, com a modalidade de teletrabalho a tornar-se a regra durante a pandemia, no futuro “89% dos trabalhadores portugueses mostram-se disponíveis para trabalhar remotamente a partir de um município diferente daquele em que vivem agora, caso a oportunidade surgisse e encontrassem as condições ideais nesse local”, conclui o estudo.

 

Teletrabalho no futuro
Foto de Ketut Subiyanto no Pexels

O que a publicação da Bloom Consulting mostra também é que a pandemia teve um “impacto profundo” na forma como os portugueses se veem a trabalhar no futuro. “O estudo reflete que quase ninguém vai querer voltar ao normal. Toda a gente vai querer uma oportunidade híbrida de trabalho”, acredita Filipe Roquette. Os dados mostram que 73% da população portuguesa afirma que quer trabalhar 100% desde casa ou num modelo híbrido, enquanto apenas 31% afirma querer voltar ao trabalho 100% presencial.

 

Teletrabalho no futuro
Foto de Andrew Neel no Pexels

Natureza atraí turistas

E quais são os municípios em destaque para visitar? Lisboa, Porto, Funchal, Cascais e Portimão são os que ocupam os cinco primeiros lugares do ranking nesta dimensão. O impacto da pandemia no turismo fez-se sentir um pouco por todos os municípios portugueses, até porque a pesquisa por hotéis e atividades turísticas abrandou e muito, dadas as restrições de circulação impostas.

Este ano, verificou-se que “as zonas de turismo mais urbanas perderam um pouco e as regiões mais alternativas acabaram por se afirmar um pouco mais a nível nacional”, refere Filipe Roquette, destacando que agora há muito mais procura por destinos de natureza. Um exemplo disso é o município da Lousã (Coimbra), onde as pesquisas sobre praias, atrações turísticas e maravilhas naturais dispararam e tornaram-no numa “afirmação rural”.

 

Destinos de Natureza
Foto de Kampus Production no Pexels

O turismo transformou-se e há novas oportunidades de investimento imobiliário para receber turistas, sobretudo, nestes destinos de natureza. “Destinos comos os Açores e a Madeira - que tiveram poucos casos – que apresentam uma oferta muito ligada à natureza, saíram reforçados da pandemia. Isto indica que se um destino se souber afirmar como destino de natureza será um sucesso enorme já nos próximos anos com certeza”, acredita o diretor-geral da Bloom Consulting Portugal. Já os “destinos que apresentam uma oferta mais massificada e menos diferenciada, passaram a ser uma segunda escolha neste momento, porque não oferecem tanta segurança”, afirma.

Embora, segundo o estudo, quase 60% dos portugueses tenha escolhido tirar as suas próximas férias em território nacional, “a tendência é que as pessoas voltem a viajar assim que este cenário se tornar endémico”, considera ainda o autor deste estudo.

 

Destinos de Natureza
Açores Foto de Tom Swinnen no Pexels
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