Inflação, altas taxas de juros e subida dos preços das casas podem ajudar a explicar este arrefecimento da venda de casas no país.
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Venda de casas a cair
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O negócio das casas segue de vento em popa. No nosso país foram vendidas 43.607 casas só no segundo trimestre de 2022, mais 4,5% do que no mesmo período do ano passado. E esta dinâmica resultou no maior aumento de sempre dos preços das casas (+13,2%). Mas olhando para os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) à lupa, salta à vista que houve um arrefecimento da venda das casas em junho. A alta inflação e subida dos juros nos créditos habitação poderá ajudar a explicar esta descida dos negócios.

Os dados avançados pelo gabinete de estatística português na quinta-feira, dia 22 de setembro, revelam que continua a haver apetite para comprar casa no país - só as famílias foram responsáveis por 87,6% do total de transações. As vendas de casas correram bem em abril e em maio deste ano, apresentando aumentos homólogos no número de transações de 11,3% e 12,7%, respetivamente.

Compra de casas aumenta 4,5% entre abril e junho de 2022

procura de casas para comprar continua alta. E os dados do INE também espalham esta realidade: só entre abril e junho deste ano foram transacionadas 43.607 habitações, traduzindo-se num crescimento de 4,5% face ao mesmo período 2021.

E no segundo trimestre de 2022 houve uma maior procura de casas novas para comprar do que casas usadas:

  • Casas novas: foram transacionadas 7.865 unidades, mais 18,9% que no trimestre homólogo;
  • Casas usadas: 35.742 habitações mudaram de proprietário, correspondendo a um aumento homólogo de 1,8%.

Já comparando o número de casas compradas entre o primeiro e o segundo trimestre do ano, o INE da conta que houve uma evolução de apenas 0,1% (-5,1%, no trimestre anterior). “O crescimento no número de transações foi observado unicamente no caso das habitações novas (3,4%), sendo que nas habitações existentes se registou uma taxa de variação de -0,6%”, explica ainda.

Até aqui tudo bem. Acontece que o INE deu conta que “em junho, pela primeira vez desde fevereiro de 2021, registou-se um decréscimo do número de transações (7,6%)”, lê-se na publicação. Há vários motivos que podem ajudar a explicar esta desaceleração da venda de casas em junho, que estão relacionados com o atual contexto económico marcado pela guerra:

  • Inflação em alta

A subida generalizada dos preços está a sentir-se desde o início do ano, tendo-se intensificado depois de eclodir a guerra da Ucrânia. Desde março, o movimento ascendente da inflação tem vindo a acelerar, pressionando cada vez mais os bolsos das famílias, que, por sua vez, começam a fazer contas à vida e a refletir sobre os investimentos a médio e longo prazo. Em agosto, a inflação fixou-se nos 8,9%, estando nos níveis mais altos dos últimos 30 anos, refletindo-se num menor poder de compra.

  • Preços das casas em máximos históricos

Com os preços das casas a subir trimestre após trimestre, torna-se mais difícil para as famílias comprar casa à medida das suas necessidades e, sobretudo, do seu orçamento. Note-se que no segundo trimestre, as casas ficaram 13,2% mais caras, sendo este o maior aumento alguma vez registado pelo INE.

  • Juros do crédito habitação a subir a pique

São muitas as famílias – especialmente as portuguesas – que recorrem a crédito habitação para comprar casa. E agora deparam-se com a subida dos juros à boleia da Euribor (tanto taxas variáveis como fixas). Deparando-se com prestações da casa mais elevadas que há um ano (quando a Euribor ainda estava em terreno negativo), as famílias passam a ponderar muito bem se este é o momento para comprar casa com recurso a financiamento bancário.

Com a subida da Euribor para todos os prazos, a taxa de juro implícita nos créditos habitação está a ficar mais elevada há cinco meses consecutivos, tendo atingido os 1,011% em agosto, segundo os dados mais recentes do INE.

  • Incerteza num contexto de guerra

O conflito na Ucrânia está para durar depois de Vladimir Putin ter assumido que iria usar “todos os sistemas de armamento disponíveis” para proteger a “integridade territorial”, assim como a “independência e a liberdade” da Rússia. Não se sabe até onde a guerra poderá escalar ao ponto de serem usadas armas nucleares. E este contexto de insegurança e incerteza na Europa poderá fazer muitas famílias preferir poupar para uma emergência a investir num bem imóvel.

De acordo com os dados do Banco de Portugal, o valor dos depósitos dos particulares têm estado a subir mês após mês, tendo atingido os 182,7 mil milhões de euros em julho. E esta pode ser a forma mais segura de guardar o dinheiro em tempos de guerra, até porque com a subida das taxas de juro diretoras pelo Banco Central Europeu, os economistas sugerem que os depósitos a prazo passarão a dar um maior rendimento. De notar ainda que há outras formas de proteger as poupanças neste contexto de alta inflação, tal como explicamos aqui.

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