
Comprar casa em Portugal parece ser uma tarefa cada vez mais complicada, sobretudo para a chamada classe média, visto que os preços não pararam de subir nos últimos anos. Numa década, o preço médio de uma habitação mais que duplicou, tendo disparado 106%. Se um imóvel em 2013 valia em média 102.000 euros, em 2023 o mesmo ativo está avaliado em 212.000 euros, segundo dados divulgados esta terça-feira (15 de outubro de 2024) pela CBRE.
Segundo a consultora, observa-se uma tendência de crescimento no segmento residencial, tendo sido realizadas 37 mil transações no primeiro semestre de 2024, mais que as 33 mil registadas no período homólogo.
“O valor total das transações acumuladas atingiu 14.600 milhões de euros, em comparação com os 13.700 milhões de euros do ano passado. Este aumento nas transações reflete uma elevada dinâmica do mercado”, apesar do aumento das taxas de juro, nomeadamente da Euribor, que tem impacto direto nas prestações pagar ao banco pelo crédito habitação, lê-se na nota.
Citado no documento, Francisco Horta e Costa, CEO da CBRE, adianta que, em 2022, “cerca de 90% dos empréstimos imobiliários ativos tinham taxas de juro variáveis, tornando os proprietários particularmente vulneráveis à subida dos juros”.
"(...) Os preços das habitações mantiveram uma trajetória ascendente vincada pela falta de oferta, uma tendência que se mantém desde 2013, quando se verificou uma diminuição generalizada na construção de novos imóveis. Esta escassez de oferta continua a sustentar o aumento dos preços, mesmo num cenário de maior incerteza económica"
Francisco Horta e Costa, CEO da CBRE
“Como consequência, o valor das transações de imóveis residenciais desceu de um máximo histórico de 31.000 milhões de euros em 2022 para 28.000 milhões de euros em 2023. No entanto, apesar desta retração no volume de transações, os preços das habitações mantiveram uma trajetória ascendente vincada pela falta de oferta, uma tendência que se mantém desde 2013, quando se verificou uma diminuição generalizada na construção de novos imóveis. Esta escassez de oferta continua a sustentar o aumento dos preços, mesmo num cenário de maior incerteza económica”, explica.
No que diz respeito ao mercado de arrendamento, a CBRE conclui que está “também em ascensão”, tendo o valor médio em Portugal se fixado em cerca de 8 euros por metro quadrado (€/m2). “Comparando com o ano anterior, Lisboa viu os preços aumentarem de 14,54 €/m2 para 16 €/m2, enquanto o Porto teve uma subida de 11,95 €/m2 para 12,85 €/m2. No entanto, esta tendência crescente não se restringe às grandes capitais, e tem sido transversal um pouco por todo o país”, indica a CBRE.

“Estamos a entrar numa fase de recuperação”
Em jeito de balanço, Francisco Horta e Costa frisa, a propósito da crise na habitação que existe no país e das medidas implementadas pelo Governo para facilitar a compra de casa, como por exemplo a Isenção de IMT e de Imposto de Selo e a garanta pública no crédito habitação, que o país está “a entrar numa fase de recuperação”. “Mas é fundamental que a oferta de novas habitações acompanhe a crescente procura”, comenta.
E deixa outro alerta: “A pressão sobre os preços pode agravar-se se não houver um aumento significativo na construção. Os jovens estão a ter mais oportunidades de adquirir a sua casa, mas enfrentamos um problema estrutural relacionado com a escassez de oferta. Sem um reforço da construção nova, corremos o risco de ver os preços a subir ainda mais”.
Investimento em imobiliário comercial em alta
No que diz respeito ao setor imobiliário comercial (não residencial), continua a dar sinais de recuperação em Portugal, tendo o terceiro trimestre de 2024 revelado um dinamismo crescente, sobretudo nos segmentos de retalho e hotelaria, indica a CBRE. “Durante este período foi captado um investimento de 342 milhões de euros, num total acumulado, até 30 de setembro, de 1.014 milhões de euros, resultados que estão em linha com o mesmo período do ano passado”, refere a consultora.
“A expectativa é que, em 2024, o desempenho do setor imobiliário comercial termine entre os 2.100 milhões de euros a 2.300 milhões de euros, o que representa um crescimento expressivo face ao ano de 2023, no qual o valor foi de cerca de 1.600 milhões de euros”, lê-se na nota.
Francisco Horta e Costa adianta que os setores de retalho e hotelaria têm estado em destaque no panorama imobiliário, beneficiando do ‘boom’ turístico que Portugal tem vivido. “A hotelaria continua a atrair um investimento significativo e o retalho tem acompanhado esta tendência, com expectativas de que seja o setor com maior volume transacionado até ao final deste ano. Estes setores demonstram uma forte resiliência e capacidade de adaptação, confirmando o seu papel central no dinamismo do mercado imobiliário em 2024", conclui o CEO da CBRE.
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