Nuno Garcia, diretor-geral da GesConsult, em entrevista ao idealista/news.
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“Imobiliário sempre foi um investimento com bom retorno e agora não será diferente”
Nuno Garcia, diretor-geral da GesConsult GesConsult

Gestão e fiscalização de obras, coordenação de segurança em obra, elaboração de estudos e projetos de construção e avaliação imobiliária. É nestas quatro áreas distintas que a GesConsult atua, revela ao idealista/news Nuno Garcia, diretor-geral da empresa, que nasceu há seis anos. Segundo o responsável, investir em imobiliário será sempre uma boa opção, mesmo em tempos de pandemia de novo coronavírus: “Conhecendo a resiliência no setor, acredito que ultrapassada a pandemia - e caso não exista uma segunda vaga - teremos condições para retomar em força no primeiro trimestre de 2021”, antecipa.

Quando é que a GesConsult começou a operar e o que faz em concreto?

A GesConsult nasceu em março de 2014, com a ambição de ser um novo ator no mercado, capaz de representar o interesse dos clientes de forma exímia e de ser uma pivot de união entre os diferentes intervenientes do setor. Surgiu numa altura em que o país ainda estava em crise financeira e, graças a uma equipa experiente e altamente motivada, tem acompanhado a sua recuperação económica, crescendo ao mesmo ritmo, com o surgimento de muita construção nova e reabilitação, até que surgiu esta crise pandémica. 

Atuamos em quatro áreas distintas, mas que, de certa forma, se complementam: na gestão e fiscalização de obras, acompanhando todo o processo para assegurar que os projetos de construção se desenvolvam da melhor forma, controlando custos, qualidade, prazos e todo o processo administrativo; na coordenação de segurança em obra, orientando toda a documentação técnica e servindo de intermediário entre a entidade executante, o dono da obra e restantes entidades, de forma a ter esta documentação validada; na elaboração de estudos e projetos de construção, que desenvolvemos com parceiros de referência, construindo o projeto lado a lado com os nossos clientes, quando estes procuram um serviço “chave na mão”; e, por fim, na avaliação imobiliária, orientando os clientes para que façam investimentos mais sólidos e justos.

Temos a capacidade de intervir em qualquer fase do ciclo de vida de um empreendimento e, de uma forma geral, independentemente da área contratada, o nosso trabalho é defender a posição do cliente, mantendo, ao mesmo tempo, a porta aberta ao diálogo com todos os parceiros envolvidos.

Que “tipo” de clientes tem a empresa?

Passam por fundos de investimento, promotores imobiliários, clientes institucionais com grandes investimentos de expansão, ou então os clientes particulares, que reconhecem a mais-valia de ter um serviço especializado de defesa dos seus interesses. Para o nosso serviço de gestão de ativos, por exemplo, procuram-nos muitos investidores com vontade de apostar no mercado imobiliário português, que pedem aconselhamento especializado para fazer investimentos sensatos e com menores riscos.

O que mudou na forma de trabalhar da empresa com o início da pandemia?

Também tivemos de nos adaptar a estas novas circunstâncias. Continuamos a garantir aos clientes todo o leque de serviços que prestamos, mas com todas as condições de segurança impostas e necessárias para o bem-estar de todos. Continuamos a visitar as obras, mas agora com a utilização de equipamentos de proteção individual específicos e respeitando as distâncias de segurança. Tentamos também que as visitas sejam feitas em horários em que a presença de trabalhadores é mais reduzida. Já as reuniões com donos de obra, equipas de projeto e entidades licenciadoras passaram a ser feitas por teleconferência. 

"O sentimento geral que se vive é que o setor está a fazer um esfoço enorme para manter alguma normalidade e mitigar os possíveis efeitos desta pandemia"

Temos também parte da equipa em teletrabalho, garantindo a partir de casa todo o trabalho relativo à gestão administrativa das obras, controlos económicos, elaboração de atas, entre outros processos. 

É o momento ideal para refletir e retirar conclusões, nomeadamente de situações a corrigir no futuro? 

Hoje, as empresas estão muito melhor preparadas, mais robustas e capitalizadas para encarar um período de maior dificuldade relativamente à ultima crise vivida em Portugal. Esta experiência está ainda bem presente na memória dos empresários que ainda há tão pouco tempo viviam tempos de grande exigência e que aprenderam a ser bem mais cautelosos na gestão das suas empresas.

É certo que a crise que vivemos nada tem de semelhante com a de 2008. Hoje, vivemos uma crise originada por um inimigo invisível que ninguém previa e afeta a economia de forma global. Esta experiência terá reflexo em diversos aspetos, seja na forma como trabalhamos, como comunicamos e nos serviços que prestamos. Muitas empresas, com a alteração das necessidades do mercado, conseguiram num curto espaço de tempo reinventar-se e oferecerem novos produtos e serviços. Este é o grande desafio para as empresas: é tempo de procurar novas oportunidade, adaptar-se às circunstâncias com medidas de inovação e - muito importante - valorizar os atuais clientes.

Haverá um pré-Covid-19 e um pós-Covid-19 em Portugal no setor da construção e do imobiliário?

Igual não será, uma vez que tivemos de nos adaptar às circunstâncias e em muitos casos forçados a evoluir para conseguirmos continuar. O sentimento geral que se vive é que o setor está a fazer um esfoço enorme para manter alguma normalidade e mitigar os possíveis efeitos desta pandemia, mas não será fácil e teremos sempre repercussões. 

No ano passado e mesmo no início deste ano, sentia-se no setor um forte ambiente de confiança, tanto entre os principais ‘players' nacionais, como dos investidores estrangeiros que procuravam o país para investir nas mais diversas áreas. Agora, a pandemia não só travou esse investimento que vinha de fora, como deixou as empresas nacionais numa posição muito sensível, que será muito difícil ultrapassar. Temos verificado uma quebra na transação de imóveis, elaboração de projetos e licenciamentos, o que levará, inevitavelmente, a uma quebra de obras novas a médio prazo - ou seja, até início do 2021 -, o que terá, evidentemente, efeitos na contratação e na boa saúde empresarial do setor.

"Acredito que ultrapassada a pandemia - e caso não exista uma segunda vaga - teremos condições para retomar em força no primeiro trimestre de 2021"

Contudo, e conhecendo a resiliência no setor, acredito que ultrapassada a pandemia - e caso não exista uma segunda vaga - teremos condições para retomar em força no primeiro trimestre de 2021. Mas para isso é necessário também o empenho das entidades competentes, que devem continuar a criar condições para atrair investimento, nomeadamente facilitando os processos de licenciamento e criando programas de incentivos como os vistos gold. Por outro lado, os investimentos públicos previstos têm também um papel fundamental na alavancagem e regresso à normalidade do setor, pelo que devem avançar o máximo possível. 

Ainda assim, o setor da construção continua a “mexer”, certo?

Continua a atuar, embora num ritmo bem diferente. Parar as obras por completo teria um impacto enormíssimo, pelo que as empresas estão a tentar levá-lo para a frente com os mínimos essenciais, tentando cumprir com as suas obrigações contratuais com promotores, banca e clientes, mas também preservar os postos de trabalho. 

Numa obra, com um elevado número de pessoas a trabalhar, é impossível não existir um certo risco de contágio, pelo que a pandemia exige um esforço extra de todos os envolvidos. Têm sido reforçadas as regras de higiene e segurança, têm sido garantidos equipamentos de proteção individual para os profissionais (luvas, máscara) e reforçada a sensibilização de todos os profissionais, para que tenham os comportamentos mais adequados. 

Acredita que se vai conseguir evitar uma paragem abruta do ritmo crescente de obras que se vinha a verificar?

Já se sente algum abrandamento, porque o ritmo estava francamente acelerado. Mas não parámos e essa é a mensagem mais importante, já que nos vai permitir retomar o ritmo habitual muito mais rapidamente do que se tivéssemos parado na totalidade. O sentimento generalizado é de um certo otimismo prudente e os sinais dados pelos principais promotores privados, que mostram querer continuar a investir em Portugal, fazem com que olhemos para o futuro com confiança.

Deu recentemente algumas dicas/conselhos a seguir em tempos de pandemia para comprar casa? Que conselhos daria aos intervenientes do setor da construção?

As dicas que foram dadas a quem queria comprar casa tinham uma ideia subjacente de olhar para o futuro com confiança e aproveitar as oportunidades que surgem durante esta fase de pandemia. Deixo a mesma mensagem a todos os que fazem parte do setor de construção, sejam eles promotores, arquitetos, projetistas, empreiteiros, fiscalização: o importante será procurar novas oportunidades e adaptarmo-nos ao período que vivemos. 

Como pode o setor sobreviver a esta pandemia?

Vejo dois caminhos essenciais. Por um lado, o empenho de todos os trabalhadores envolvidos nas obras para que seja garantida a segurança de todos, porque é a vida de todos nós que está em jogo. Se todos fizermos a nossa parte, melhor ultrapassaremos esta pandemia.

"Muitos dos apartamentos destinados ao Alojamento Local, pela perspetiva de paragem do turismo, entraram no mercado do arrendamento de longa duração. Desta forma, ao aumentar a oferta, o valor das rendas poderá baixar e sofrer ajustes"

Por outro, é premente que se mantenha a confiança dos investidores oferecendo um trabalho de excelência – por parte de quem está no terreno –, mas também incentivos – fiscais e outras facilidades, por exemplo em obter licenciamentos – para que voltem a apostar no país. 

Vários ‘players” do setor há muito que alertavam para a necessidade de se apostar na construção (residencial) nova, até para aumentar a oferta de casas a preços mais acessíveis. Agora, no pós-pandemia, este cenário irá manter-se?

Esta era uma tendência que se verificava pré-Covid, uma construção vocacionada para a classe média e com preços mais competitivos. Não só acho que se vai manter como será reforçada pela procura que possa surgir nestes produtos. Um dos efeitos de termos ficado isolados em casa será o valor que as pessoas vão dar à área da sua casa, à possibilidade de ter varanda/logradouro, pelo que o mercado fora dos centros urbanos, onde tipicamente se consegue uma melhor relação preço/m2, e até a procura de moradias podem ser reforçados.

O preços das casas e o valor das rendas vão baixar no pós-Covid-19?

Poderá existir um ajustamento de valor, quer seja na compra ou no arrendamento, em especial numa primeira fase de pós-Covid. Sabemos que muitos dos apartamentos destinados ao Alojamento Local, pela perspetiva de paragem do turismo, entraram no mercado do arrendamento de longa duração. Desta forma, ao aumentar a oferta, o valor das rendas poderá baixar e sofrer ajustes.

Por outro lado, quem precisar de ter liquidez por perda de rendimentos ou para dar resposta a outras obrigações, irá inevitavelmente baixar o preço de venda num período de menor procura ou de alguma incerteza. Este cenário pode representar também uma oportunidade de negócio para quem já queria comprar casa ou para quem tem algum dinheiro para investir, encontrando nesta fase a oportunidade de comprar um imóvel a um preço mais acessível. 

A médio prazo, não acredito que os valores de venda ou arrendamento sofram alterações significativas porque o interesse de investidores estrangeiros e a retoma do turismo estabilizará o mercado.

O imobiliário sempre foi um investimento com bom retorno e agora não será diferente. Todas as crises são cíclicas e, apesar de estarmos agora numa fase menos boa, o mercado vai voltar a valorizar e os investimentos feitos agora vão valer mais quando isso acontecer.

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