Taxa de juro média subiu para 2,01% em agosto, a mais alta desde 2016. Já os novos créditos recuaram para 1.205 milhões de euros.
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Juros dos créditos habitação
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As mudanças da política monetária por parte do Banco Central Europeu (BCE) têm agitado as águas do mercado de crédito habitação. Depois de o regulador europeu ter subido as taxas de juro diretoras em 125 pontos base, as taxas Euribor voltaram a dar o salto em setembro. E como em Portugal a taxa variável continua a ser a mais procurada, qualquer flutuação da Euribor reflete-se nas taxas de juro dos novos contratos de crédito habitação, que em agosto atingiu o valor médio de 2,01%, o mais elevado desde maio de 2016, aponta o Banco de Portugal (BdP). Por outro lado, a subida dos juros poderá estar a influenciar o montante concedido em novos créditos habitação, já que caiu 11% entre julho e agosto.

“A taxa de juro média dos novos empréstimos à habitação subiu para 2,01% (1,88% em julho), ultrapassando os 2% pela primeira vez desde maio 2016”, lê-se na nota publicada pelo regulador português esta terça-feira, dia 4 de outubro. O sentido ascendente dos juros não é de agora, tendo dado já os primeiros sinais de subida em fevereiro de 2022, depois de terem passado dez meses estabilizados nos 0,8%.

Então o que está a influenciar a subida dos juros nos novos créditos habitação? O aumento a galope das taxas Euribor, que têm vindo a subir mês após mês e atingiram máximos de 10 anos em setembro. A Euribor a 12 meses já está em 2,233% e a Euribor a 6 meses nos 1,596%. Isto acontece porque as taxas de referência europeias mantêm uma íntima relação com as taxas de juro diretoras do BCE, as quais já subiram de 0% para 1,25% na segunda metade do ano para tentar contrariar a inflação que se faz sentir na Zona Euro (atingiu os 10,0% em setembro). E tudo indica que o regulador europeu irá voltar a subir os juros diretores, dando ainda mais gás à subida da Euribor e, por conseguinte, às taxas de juros nos novos empréstimos para comprar casa. 

Os efeitos da subida de juros nas carteiras das famílias que querem contratar um crédito para comprar casa são vários:

  • Aumentam desde logo as prestações da casa em dezenas e até centenas de euros face aos meses anteriores;
  • Reduzem a capacidade de endividamento: como a taxa de esforço sobe, os bancos são autorizados a emprestar menos dinheiro para comprar casa.

Este duplo efeito poderá estar por detrás da descida do montante de novos empréstimos habitação concedido pelos bancos: passou de 1.348 milhões de euros em julho para 1.205 milhões de euros em agosto, registando assim uma descida de 11% em apenas um mês. Esta foi a terceira vez consecutiva que o montante concedido em novos créditos habitação desceu (a primeira queda foi em junho).

Juros em Portugal aproximam-se das taxas da Zona Euro pela 1ª vez desde 2009

Considerando todos os créditos habitação em pagamento, o regulador liderado por Mário Centeno dá nota que a taxa de juro média fixou-se em 1,32% em agosto, continuando a aproximar-se da média da área do euro (1,67% em agosto). E revela ainda que “desde abril de 2009 que o diferencial entre as taxas de juro médias em Portugal e na área euro não era tão baixo”.

Há uma explicação simples para esta aproximação das taxas de juro dos novos créditos habitação entre Portugal e a Zona Euro: ”Ao contrário do que se verifica na área euro, em Portugal a grande maioria dos empréstimos à habitação têm taxa de juro indexada às taxas Euribor a 6 meses ou a 12 meses, o que implica que as taxas de juro dos contratos de empréstimos são revistas a cada 6 ou 12 meses, respetivamente. Como tal, as variações da Euribor transmitem-se mais rapidamente ao stock de empréstimos à habitação em Portugal do que para a média da área do euro”,  lê-se no documento.

Os dados do BdP espelham bem esta diferença de realidades no mercado de crédito habitação português e europeu:

  • Taxa de juro fixa por menos de 1 ano (ou seja, variável): em Portugal corresponde a 69% dos novos empréstimos concedidos em agosto, enquanto na Área Euro corresponde apenas a 18%;
  • Taxa de juro fixa entre 1 a 5 anos: só 22% dos contratos em Portugal têm este tipo de taxa, contra 9% da Zona Euro;
  • Taxa de juro fixa superior a 5 anos: corresponde a apenas 9% dos novos créditos habitação em Portugal e à esmagadora maioria dos contratos na Zona Euro (73%).

Isto quer dizer que a maioria dos portugueses ficará exposto à flutuações da Euribor durante muito mais tempo, já que optam pela taxa variável ou fixar os juros até 5 anos. Já na Área Euro, observa-se o contrário: as famílias preferem fixar as taxas de juros durante mais anos, o que se traduz numa estabilidade das prestações da casa e dos próprios orçamentos familiares.

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