Nova tendência dos ricos em Portugal: viver em casas com luxos de hotel

Viver num empreendimento residencial inserido um hotel de cinco estrelas, com todas as comodidades e serviços que isso significa, não está ao alcance do comum dos mortais. Mas este é um fenómeno imobiliário, importado dos EUA, que está a ganhar expressão em Portugal (e na Europa). Falamos das branded residences, imóveis residenciais ou de turismo residencial associados a uma marca. “É uma espécie de sonho utópico em que podemos habitar, e a que nos podemos facilmente habituar”, sintetiza Pedro Fontainhas, Diretor-Executivo da Associação Portuguesa do Turismo Residencial e Resorts (APR). Estará Portugal na rota destes negócios imobiliários e a atrair investidores neste nicho de mercado? Sim, respondem os especialistas consultados pelo idealista/news.

Quando surgiram as branded residences?

Vamos por partes. Fazendo uma breve reflexão sobre as branded residences, Jorge Costa, COO da Quintela e Penalva | Knight Frank, conta que a história deste modelo de negócio começa em 1927 no hotel Sherry-Netherland, em Manhattan (Nova Iorque/EUA). No entanto, destaca, “foi nos anos 80 do século XX que este modelo vingou definitivamente no mercado imobiliário, quando a cadeia hoteleira Four Seasons lançou um condomínio em estreita ligação com a sua unidade hoteleira em Boston (EUA)”. “Tal como nos anos 20, os anos 80 estão associados com um período de prosperidade económico, defendendo as vozes deste setor que o modelo das branded residences é, claramente, dirigido às classes económicas com elevado poder de compra, cujos investimentos no imobiliário obedecem a vários ‘drives’ que vão muito além do valor do imóvel”, explica.

Apoiando-se em estudos da própria Knight Frank, o responsável assegura que, atualmente, o conceito de branded residences está presente em mais de 60 países, nomeadamente em Portugal. “E conta com mais de 400 projetos, a maior parte deles debaixo da marca de cadeias de hotéis”, acrescenta. 

Há cerca de um ano escrevemos, a propósito deste tema e tendo por base um estudo da Savills, que havia mais de 690 projetos deste formato concluídos em todo o mundo, perspetivando-se que poderiam chegar ao mercado mais 600 até 2030.

O luxo de viver numa das 65 Viceroy Residences Ombria Algarve

O que são branded residences e como é viver numa?

Mas o que distingue, afinal, uma branded residence de um apartamento tradicional inserido num condomínio de luxo? Por definição, são imóveis residenciais de alto standing desenvolvidos e comercializados em colaboração com uma marca muito conhecida, normalmente um hotel de luxo, um resort ou uma marca de moda.

“Quem não gostaria de viver numa casa onde o serviço de concierge está disponível 24 horas por dia, o ginásio está sempre limpo e arrumado, o uso do spa à distância de um telefonema e o pequeno-almoço ou outra refeição gourmet entregue à porta? É como viver eternamente de férias. Ou para quem quer trabalhar, a prestação de serviços de escritório personalizados. E claro, há mais: piscinas interiores e exteriores (…), restaurantes e bares com menus cuidadosamente elaborados por chefs conceituados, a manutenção da propriedade, que é cuidada até ao mais ínfimo detalhe, e segurança total de bens e pessoas 24 horas por dia. É uma espécie de sonho utópico em que podemos habitar, e a que nos podemos facilmente habituar”, comenta Pedro Fontainhas.

"Quem não gostaria de viver numa casa onde o serviço de concierge está disponível 24 horas por dia, o ginásio está sempre limpo e arrumado, o spa à distância de um telefonema e o pequeno-almoço gourmet pode ser entregue à porta? É como viver num eterno feriado de luxo. (...)  É uma espécie de sonho utópico em que podemos habitar, e a que nos podemos facilmente habituar"
Pedro Fontainhas, Diretor-Executivo da APR

Salientando que o mercado das branded residences teve um crescimento significativo a nível nacional nos últimos anos, o diretor-executivo da APR considera que “este modelo de negócio, que combina as vantagens de residências privadas de luxo com os serviços e o prestígio de grandes marcas hoteleiras, tem sucesso tanto entre investidores como entre compradores”.  

“Para muitos, trata-se de poder desfrutar do melhor dos dois mundos: uma casa de luxo e, simultaneamente, o tipo de serviço que normalmente só encontraríamos num hotel de cinco estrelas. A crescente procura por este tipo de propriedades reflete as expetativas de compradores mais sofisticados, que valorizam o serviço tanto quanto o produto em si”, sustenta. 

"[É] um conceito vencedor e com capacidade que vai muito mais além que proporcionar uma residência. Estamos, eventualmente, perante um modelo com capacidade de alterar a perceção de uma zona e mesmo da oferta que Portugal pode proporcionar a um público internacional que procura fazer do país a sua nova casa"
Jorge Costa, COO da Quintela e Penalva | Knight Frank

Uma opinião partilhada por Jorge Costa, que faz questão de frisar que se trata de “um conceito vencedor e com capacidade que vai muito mais além que proporcionar uma residência”. “Estamos, eventualmente, perante um modelo com capacidade de alterar a perceção de uma zona e mesmo da oferta que Portugal pode proporcionar a um público internacional que procura fazer do país a sua nova casa. Mas também com um impacto relevante sobre o público nacional, este constituído, principalmente, por investidores que procuram rentabilizar capital, mas também por indivíduos que procuram novas soluções de habitação que proporcionem vivências e um ‘life-style’ diferenciador”, assegura. 

"Exclusividade, comodidade, conforto e um serviço de excelência"

Também Pedro Barreto, Head of Residential Development of Castelhana – a Dils company, considera que este é um segmento do imobiliário que está a crescer a nível global e nacional. "Embora Portugal ainda seja um mercado emergente neste modelo, começa a assistir-se ao surgimento de cada vez mais projetos que associam marcas de prestígio ao desenvolvimento imobiliário. Estes projetos têm como alvo um segmento que valoriza exclusividade, comodidade, conforto e um serviço de excelência. Não sendo um produto residencial puro, estão tipicamente associados a uma utilização temporária das casas", diz. 

De acordo com o responsável da Dils – grupo italiano que entrou recentemente em Portugal com a compra da Castelhana –, estão em causa imóveis que tendem a ser muito peculiares: "Se a 'brand' for uma marca hoteleira e se o ativo tiver uma licença turística, poderá significar a oferta de serviços hoteleiros a uma residência bem como o acesso às comodidades da unidade".

"Estes projetos têm como alvo um segmento que valoriza exclusividade, comodidade, conforto e um serviço de excelência. Não sendo um produto residencial puro, estão tipicamente associados a uma utilização temporária das casas"
Pedro Barreto, Head of Residential Development of Castelhana – a Dils company

"Não havendo modelos standard e dependendo muito da marca associada, podem-se esperar tipicamente como comodidades a existência de piscinas (tanto interiores como exteriores), espaços verdes, ginásios equipados, serviço de quarto, concierge, além de serviços de limpeza e manutenção entre outros, assegurando a praticidade no dia a dia. Algumas destas residências permitem até usufruir de cozinheiros privados, proporcionando uma experiência gastronómica personalizada. Os residentes podem ter acesso a restaurantes e bares, bem como a salas de reunião e espaços para eventos, o que enriquece também a experiência de viver num ambiente exclusivo", acrescenta Pedro Barreto.

Há portugueses a investir em branded residences?

Segundo Pedro Fontainhas, apesar de haver investidores portugueses com interesse neste tipo de imóveis, este é um segmento de negócio “amplamente alimentado por compradores estrangeiros”. 

O responsável sublinha, ainda, que Portugal tem conseguido atrair muitos investidores internacionais que procuram “um produto diferenciado que combine a compra de uma casa com a experiência de um estilo de vida requintado”. “Há um número crescente de portugueses com um perfil de alto poder de compra que também se está a interessar por este tipo de ativo. Mas o apelo para o público estrangeiro ainda é mais forte”, afirma. 

Pedro Barreto, da Dils, frisa a este propósito que se trata de um produto que está a atrair quer estrangeiros quer nacionais. "Termos uma marca que assegura uma gestão hoteleira eficaz e promete entregar uma determinada rentabilidade, consegue atrair muitos investidores seja qual for a nacionalidade. Termos uma marca que assegura um padrão alto de serviço, assegurando uma experiência de habitação diferenciada, também colhe interesse de diferentes públicos. Em qualquer dos casos, a existência de uma marca introduz uma segurança extra de que o ativo poderá valorizar com o tempo. Os portugueses são, em qualquer segmento, o mercado que mais compra imobiliário. Este tipo de produto não é excepção", afirma.

Viceroy Residences integram o resort de luxo Ombria Algarve Ombria Algarve

A experiência de viver num resort no Algarve

São já vários os projetos de branded residences existentes ou em desenvolvimento em Portugal, localizados sobretudo em Lisboa, Porto e Algarve. É o caso, por exemplo, das Viceroy Residences at Ombria Algarve, que beneficiam de todas as comodidades existentes no Viceroy at Ombria Algarve, o primeiro hotel da marca norte-americana Viceroy Hotels & Resorts no Sul da Europa – abriu portas dia 1 de outubro de 2024. 

“São apartamentos de tipologia T1 e T2 que estão integrados neste hotel de 5 estrelas e que são completamente mobilados e equipados de acordo com os standards de 5 estrelas da Viceroy Hotels & Resorts. Alguns apartamentos possuem jardins e piscinas privadas, e todos contam com grandes terraços com vista para o campo de golfe”, revela ao idealista/news João Richard Costa, CCO do Ombria Algarve.

"Os proprietários das Viceroy Residences podem utilizar os apartamentos até 70 dias por ano. Sempre que não estiver ocupado, estará disponível para ser arrendado a hóspedes do hotel. Os proprietários destas branded residences beneficiam de acesso ao campo de golfe de 18 buracos do Ombria, a todas as instalações e serviços do hotel, bem como manutenção, gestão e exploração turística"
João Richard Costa, CCO do Ombria Algarve

“Os proprietários das Viceroy Residences podem utilizar os apartamentos até 70 dias por ano. Sempre que não estiver ocupado, estará disponível para ser arrendado a hóspedes do hotel. Os proprietários destas branded residences beneficiam de acesso ao campo de golfe de 18 buracos do Ombria, a todas as instalações e serviços do hotel, bem como manutenção, gestão e exploração turística. A gestão dos arrendamentos e da manutenção dos apartamentos estará a cargo da Viceroy Hotels & Resorts, que assegura assim que o proprietário irá receber um elevado retorno do seu investimento através do rendimento de exploração turística”, acrescenta. 

Em causa estão 65 branded residences inseridas no resort Ombria Algarve, sendo que os preços destes imóveis começam nos 780.000 euros (T1) e nos 1,1 milhões de euros (T2).

E será que estão a ter muita procura? “Sim. Temos muito poucos apartamentos disponíveis”, adianta João Richard Costa, sublinhando que entre os compradores/investidores estão cidadãos holandeses, britânicos, belgas, franceses, suíços e portugueses.

Assim será o Savoy Residence | D’Ávila, o primeiro empreendimento da marca em Portugal Continental AFA Real Estate

A experiência de viver numa branded residence em Lisboa

Também na capital portuguesa há cada vez mais projetos de branded residences a sair do papel. É o caso, por exemplo, do Savoy Residence | D’Ávila, o primeiro empreendimento da marca em Portugal Continental, sendo que já tem três no Funchal (ilha da Madeira).

“Os empreendimentos Savoy Residence pertencem ao portefólio da AFA Real Estate e distinguem-se por oferecerem uma habitação com a experiência de luxo que remete à atmosfera de um hotel, seja para residência ou arrendamento. Além das suas características físicas, estes empreendimentos oferecem, opcionalmente, acesso a um conjunto de infraestruturas e serviços dos hotéis da coleção Savoy Signature, reconhecida pela sua excelência e referência na hospitalidade”, explica Victor de Sousa, Diretor Geral da AFA Real Estate. 

Em causa estão, no total dos quatro empreendimentos, 279 luxuosos apartamentos, com design de interiores exclusivo e áreas que variam entre 50 e 300 metros quadrados (m2), sendo que podem chegar aos 400 m2 contabilizando varandas, jardins e terraços.

“Os apartamentos estão completamente equipados, todos os quartos são suíte e existe um estacionamento, normalmente em box, por cada quarto. Rooftop, solário, piscinas (comuns e privativas), ginásio e uma receção com serviço de segurança e concierge 24 horas asseguram a comodidade e conforto dos clientes com o toque de hotel que caracteriza o conceito”, acrescenta o responsável. Os preços variam entre 400.000 euros e 3,6 milhões de euros. 

Victor de Sousa diz não ter dúvidas, de resto, que este é um segmento que está a ter muita procura em Portugal, visto que “as pessoas procuram cada vez mais diferenciação e qualidade, tanto nos acabamentos como na localização, focando-se não só na sua comodidade, mas também na perspetiva de valorização do investimento”. 

“As pessoas procuram cada vez mais diferenciação e qualidade, tanto nos acabamentos como na localização, focando-se não só na sua comodidade, mas também na perspetiva de valorização do investimento”
 Victor de Sousa, Diretor Geral da AFA Real Estate

Uma visão partilhada por João Richard Costa, CCO do Ombria Algarve: “Há cada vez mais procura por branded residences, pois são imóveis geridos por uma marca de luxo forte que garante serviços de topo e gestão de propriedades. Também há cada vez mais marcas de luxo que se juntam a projetos imobiliários, não só marcas de hotelaria, como, cada vez mais, marcas de luxo de outros setores – automóvel, moda… Num mercado muito competitivo, um projeto assinado por uma marca de luxo é um fator diferenciador, que permite captar compradores dispostos a pagar a exclusividade da marca com perspetiva de valorização do imóvel”. 

Savoy Residence | D’Ávila está a ser construído em Lisboa AFA Real Estate

Há mais projetos de branded residences na calha

Estes são apenas dois dos projetos onde existem branded residences em Portugal, sendo que a maioria "está associada a marcas hoteleiras", reforça Pedro Barreto, adiantado que o Algarve tem-se destacado como a região onde este tipo de produtos mais tem aparecido. Além das Viceroy Residences no Ombria Algarve, o responsável enumera o Pine Cliffs, o W Residences, o Wyndham Grand Residences, o Palmares Resort Residences e o Dom Pedro Residences. "Outros exemplos noutras zonas do país incluem o Hyatt Residences em Belém (Lisboa), o Intercontinental Cascais Estoril Hotel Apartments, o Tivoli Avenida Liberdade Residences, o Sheraton Cascais e o Vila Galé Sintra".   

"Quanto ao futuro, prevê-se uma expansão deste mercado, com o surgimento de novos empreendimentos, como o Hilton Cascais Residences em Carcavelos, as unidades Ando Living e uma nova unidade com a marca Karl Lagerfeld, todos localizados em Lisboa", antecipa o Head of Residential Development of Castelhana – a Dils company,

“Um bilhete vitalício para uma vida de luxo e conforto”

Pedro Fontainhas reforça, de resto, que estes investidores não estão apenas a adquirir uma casa. Compram, sim, “uma experiência completa, quase como um bilhete vitalício para uma vida de luxo e conforto, sem nunca precisar de se preocuparem com os detalhes mundanos do dia a dia”. 

“Para muitos, este tipo de propriedade é um investimento tanto financeiro como emocional. Há algo de inegavelmente atraente na ideia de ser proprietário de uma residência que vem com o selo de uma marca de renome internacional, garantindo não só qualidade, mas também uma espécie de prestígio que não é fácil de quantificar”, remata o Diretor-Executivo da APR.