
O Grupo Ageas Portugal estreou, no ano passado, dois novos edifícios sede no país: o Ageas Tejo, em Lisboa, e o ICON Douro, no Porto. A seguradora, com sede em Bruxelas (Bélgica), continua a ter Portugal na mira e a estar atenta a possíveis negócios imobiliários, tendo já investido “mais de 300 milhões de euros no país”, revela ao idealista/news Sylvie Vanhoenackere, nova responsável pela área imobiliária do Grupo Ageas Portugal. “Vamos continuar a investir”, adianta.
Vinda de Bruxelas, Sylvie Vanhoenackere mudou-se para Lisboa recentemente com a família – assumiu o cargo que era ocupado por Gilles Emond no início do ano – e diz estar ainda a ambientar-se à cidade, mas pronta para novos desafios. Durante a conversa com o idealista/news, realizada no 12º piso do Ageas Tejo – um edifício novo localizado no Parque das Nações e com vistas para o rio Tejo –, a nova responsável pela área de Real Estate da seguradora deixa a garantia de que mesmo em tempos economicamente conturbados, marcados por alta inflação e taxas de juro a subir, por exemplo, Portugal ainda “é visto de forma positiva” na Europa. “É definitivamente um país e um mercado mais maduro”, conta, antecipando que além dos edifícios de escritórios têm interesse em investir em ativos como residências de estudantes, supermercados e outros.

“Aterrou” em Portugal em janeiro, certo? Como está a correr a adaptação?
Sim, comecei em janeiro. Há dois “lados”, o profissional e o pessoal, porque é uma grande mudança. Mudei-me com a família, por isso, de uma perspetiva privada, é mesmo uma grande mudança. É um novo ambiente, um novo país. Mas está a correr muito bem, estamos ainda a adaptar-nos. E, claro, vinda da Bélgica, posso dizer que o clima aqui é muito interessante [risos].
O mais importante é que as pessoas estejam felizes e gostem de vir ao escritório.
Já conhecia Portugal?
Sim. Venho da AG Real Estate, que é uma subsidiária do Grupo Ageas na Bélgica, onde trabalhei durante nove anos, e em 2017/18, em conjunto com o Gilles Emond, assessorámos a Ageas Portugal em alguns negócios imobiliários. Nessa altura vinha a Lisboa com alguma regularidade, por isso já conheço um pouco os mercados e também a atividade da Ageas Portugal.
O Grupo Ageas Portugal tem dois novos edifícios sede no país, em Lisboa e no Porto. Como decorreu a mudança para os novos escritórios?
O mais importante é que as pessoas estejam felizes e gostem de vir ao escritório, esse sempre foi realmente um dos nossos principais objetivos. Conseguimos, em Lisboa, ter um edifício que promove a criatividade e a interação entre colegas. Estamos muito contentes, porque o projeto como um todo foi um sucesso. O mesmo vale para o Porto, porque basicamente temos o mesmo ‘fit out’, bem como o mesmo espaço para promover a colaboração/interação e criatividade. Isso acontece nos dois escritórios.
Foi o momento certo para a empresa se mudar para um novo edifício, depois do súbito aparecimento da pandemia?
Sem dúvida, mas não previmos a pandemia quando começámos com este projeto. A verdade é que o timing acabou por ser, nesse sentido, muito bom, porque depois da pandemia todos nós podemos vir para este novo edifício e, de certa forma, recomeçar.

Houve alguma alteração ao projeto pensado inicialmente, devido à pandemia?
Sim e não. Basicamente, quando lançámos o projeto, antes da pandemia, já estávamos muito focados naquilo que são as novas formas de trabalhar. Também “contratámos” uma empresa externa para nos aconselhar nesse processo. Então, a ideia de trabalhar remotamente combinada com a ideia de trabalhar no escritório, e de criar “open spaces” para promover a interação já existia antes da pandemia. Houve algumas mudanças, talvez, mas na verdade são pequenas.
A sustentabilidade no imobiliário, nomeadamente no setor da construção, é algo que não está a passar ao lado dos vários players do setor. Quão importante é também para a Ageas?
Muito. Neste edifício temos certificação BREEAM, por exemplo, que é excelente. No Porto pode vir a acontecer o mesmo, é o nosso objetivo, mas ainda não chegámos lá. Mas sem dúvida que a sustentabilidade é muito importante. Aqui, neste edifício, todos os materiais vêm de empresas sustentáveis, essa foi uma escolha muito consciente por parte da Ageas e é um reflexo da estratégia global da empresa, que está muito focada na sustentabilidade e também na integração social. A sustentabilidade tem sido muito importante e será ainda mais importante no futuro.
"A sustentabilidade tem sido muito importante e será ainda mais importante no futuro. Estou convencida de que edifícios com características menos sustentáveis se tornarão menos líquidos e também menos valiosos em termos de valor de mercado"
Estou convencida de que edifícios com características menos sustentáveis se tornarão menos líquidos e também menos valiosos em termos de valor de mercado. Nós, quando fazemos investimentos, olhamos ativamente para a sustentabilidade, e também estamos a olhar para o nosso portefólio, estamos a focar-nos na criação de valor, aumentando as medidas de sustentabilidade nos nossos edifícios. Estamos, por exemplo, a colocar painéis solares onde podemos, nem sempre é possível, porque às vezes o telhado já está a ser usado, mas onde podemos fazemo-lo. Estamos também a tentar instalar carregadores para carros elétricos, a trocar a iluminação por lâmpadas LED onde ainda não foi feita esta troca. Ou seja, também estamos a atualizar o nosso portefólio existente para que seja cada vez mais sustentável.
Sobre o portefólio da AGEAS em Portugal. Quantos edifícios detém a empresa no país?
Temos nove grandes edifícios de escritórios. O nosso portefólio principal são edifícios de escritórios e já investimos um pouco mais de 300 milhões de euros em imóveis neste segmento. E temos, depois, edifícios próprios, este em Lisboa e o do Porto [ao todo, o Grupo Ageas Portugal já investiu em 11 imóveis, como é possível constatar em baixo]. E aqui no Parque das Nações temos outros imóveis de escritórios, como o edifício Lisboa, a Expo Tower e o Cais Office. O resto do portefólio está localizado na zona CBD de Lisboa e no Porto.
E para o futuro quais são as perspetivas de investimento imobiliário da Ageas?
Vamos continuar basicamente a fazer o que fizemos nos últimos anos. Nos últimos anos, criámos um portefólio muito interessante. Para o futuro vamos focar-nos um pouco mais na diversificação, ou seja, também podemos olhar para outras classes de ativos além dos escritórios. Mas diria que não mudámos as nossas estratégias core, por isso vamos continuar a investir. Embora o mercado hoje esteja um pouco mais hesitante, pensamos no imobiliário a longo prazo.. E sim, com um pouco mais de diversificação. E além disso sempre a pensar em edifícios prime, porque somos uma seguradora, por isso gostamos de ativos em zonas nobres e que ofereçam estabilidade.
Quando fala em diversificação, a que tipo de imóveis se refere? Passa por apostar não apenas no segmento de escritórios?
Sim, temos um projeto de residências de estudantes, também adquirimos supermercados. Nos dois casos com arrendamentos de longo prazo, o que está em linha com nossa estratégia.
"Nos últimos anos, criámos um portefólio muito interessante. Para o futuro vamos focar-nos um pouco mais na diversificação, ou seja, também podemos olhar para outras classes de ativos além dos escritórios. Mas diria que não mudámos as nossas estratégias core, por isso vamos continuar a investir. Embora o mercado hoje esteja um pouco mais hesitante, pensamos no imobiliário a longo prazo"
Há algum projeto novo que esteja na calha?
Não posso, quando estivermos perto de fechar algum projeto informaremos [risos]. Mas é como disse, supermercados, residências de estudantes, outros ativos que ofereçam alguma diversificação e que, ao mesmo tempo, tenham um rácio de retorno de risco muito atraente.

O coliving, por exemplo, poderá ser também uma aposta da Ageas em Portugal?
Na Bélgica, temos uma participação numa startup, pelo menos quando entrámos era uma startup, mas nos últimos anos desenvolveu-se e é um dos grandes players do mercado no país e também no exterior. É algo que sabemos como funciona, mas também sabemos que é muito importante olhar para a legislação e ter em conta os aspetos legais para que as coisas possam funcionar. É um mercado delicado. O mercado em Portugal tem de estar maduro para podermos agarrar essa oportunidade.
Há muitas diferenças, por exemplo, entre o mercado imobiliário em Portugal e na Bélgica?
Na Bélgica, eu estava mais ativa no setor das residências seniores, das casas de repouso, que é um mercado muito maduro. A AG Real Estate entrou nesse mercado em 2012, penso, e muitos outros grandes players na Bélgica estão ativos nesse mercado, que está muito maduro. Enquanto aqui, em Portugal, ainda é um mercado que está numa fase muito inicial. É um exemplo de como os mercados podem ser muito diferentes. Estou convencida que também este segmento de mercado pode amadurecer cada vez em Portugal, porque é percetível que há muito dinheiro internacional a querer entrar nesse segmento.
No caso dos escritórios é também diferente, porque na Bélgica há muitas entidades públicas e entidades europeias, então o mercado de arrendamento é muito diferente. Em Portugal há também muitos inquilinos internacionais, mas com um perfil diferente. Sem dúvida que os mercados são diferentes, mas é isso que os torna interessante.
E o segmento residencial em Portugal é uma aposta da Ageas?
Não estamos ativos nesse mercado, mas claro que também vemos o que está a acontecer no mercado, também percebemos que viver no centro da cidade de Lisboa provavelmente não é acessível para todos. Nesse sentido, apoiamos o Governo na tentativa de aumentar a oferta e, se houver algum tipo de iniciativa que possa ser do nosso interesse, seremos os primeiros a mostrar interesse.
Acredita que o interesse estrangeiro por Portugal por parte dos investidores imobiliários vai continuar em alta, apesar do contexto atual?
Quando se compara o crescimento de Portugal com o resto da Europa, embora seja bastante limitado face a outros países europeus, está acima da média. Acho que é o terceiro país em termos de crescimento, depois provavelmente da Irlanda e da Espanha. Embora todos os mercados estejam a sentir que há um menor crescimento, Portugal ainda está bem posicionado nos rankings, isso deve continuar a atrair empresas estrangeiras.
"Continuo a achar que ainda há algumas coisas interessantes que Portugal tem a oferecer em comparação com outros países. (...) É definitivamente um país e um mercado mais maduro"
Continuo a achar que ainda há algumas coisas interessantes que Portugal tem para oferecer em comparação com outros países. E no mercado de arrendamento de escritórios vê-se que ainda há muita dinâmica de inquilinos, o que também deve ter um impacto favorável no mercado de capitais.
Na Bélgica, a ver pelos contactos que mantem, Portugal continua a ser visto como um país atrativo?
Sim, é realmente visto de forma positiva no resto da Europa, pelo menos quando comparado com o passado, com os últimos anos. É definitivamente um país e um mercado mais maduro, diria.
Anda relativamente ao investimento por parte da Ageas no imobiliário em Portugal nos próximos anos, há algum número/ e/ou masterplan definido?
Claro que temos um masterplan [risos]. Diria que nós, nos últimos anos, construímos um portefólio que está direcionado para o longo prazo, mas depois há também a gestão ativa do portefólio, e nesse sentido talvez possa haver alguma rotação no mesmo. Mas não vamos dobrar ou triplicar o nosso investimento nos próximos dois anos.
A experiência de investir em imobiliário em Portugal está a ser positiva para a Ageas?
Sem dúvida, o que foi feito no passado foi bastante bem-sucedido. Quando olhamos para o portefólio atual constatamos que quase não temos espaços livres, o que também mostra que selecionámos bons imóveis para investir e que a gestão está a correr muito bem.
O portefólio imobiliário detido pela Ageas concentra-se sobretudo em Lisboa. Essa continuará a ser a tendência? O interior ou o Algarve são hipóteses?
Depende do segmento e do tipo de ativos. Não vamos investir em escritórios no Algarve, por exemplo, isso não está no nosso alvo. Mas quando olhamos para outros tipos de ativos, também podemos olhar para outras áreas. Por exemplo, no caso das residências de estudantes, Coimbra pode ser uma hipótese. É preciso sempre combinar o tipo de ativos com a localização dos mesmos. Ou seja, se optarmos por outras classes de ativos também podemos ir para outras localidades, mas não iremos para as pequenas aldeias de Portugal, seguramente.

Os 11 imóveis em que o Grupo Ageas Portugal investiu:
- Ageas Tejo – edifício sede da empresa no Parque das Nações, em Lisboa;
- Icon Douro – edifício sede da empresa no Porto;
- ExpoTower – edifício de escritórios no Parque das Nações, em Lisboa (tem como inquilinos a Choupana e a Medicapilar);
- Cais Office – edifício de escritórios e comércio no Parque das Nações, em Lisboa (tem como inquilino a Teleperformance);
- Bloom – edifício de escritórios e comércio na Rua de Campolide, em Lisboa (tem como inquilino o Crédito Agrícola);
- Castilho – Edifício de escritórios na Rua Castilho, em Lisboa (tem como inquilino a Apple e a Leonteq);
- Classique – edifício de escritórios na Rua Alexandre Herculano, em Lisboa (tem como inquilinos a Nutribalance e a APED);
- Entrecampos 28 – edifício de escritórios na Rua de Entrecampos, em Lisboa (tem como inquilinos a Inetum e a Sky);
- Alfredo Guisado – edifício de escritóriosna Rua Alfredo Guisado, em Lisboa (tem como inquilino a Advance Care);
- Go Cravel – edifício de comércio na Rua Fernando Lopes Vieira, nº 388, em Vila Nova de Gaia (tem como inquilino o Pingo Doce);
- Edifício Lisboa – edifício de escritórios e comércio no Parque das Nações, em Lisboa (foi comprado pelo Fundo de Pensões do BCP e tem como inquilinos o McDonald’s e Chimarrão);
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