
De um lado uma empresa portuguesa, o Grupo Optylon, do outro uma empresa turca, a Krea Real Estate. Desta união de forças resultou, em 2019, uma ‘joint venture’. “A OptylonKrea é uma promotora imobiliária e uma gestora de investimentos. Trabalhamos com pessoas com um elevado património e ‘family offices’ que querem investir o seu capital em empreendimentos imobiliários em Portugal”, conta ao idealista/news William Tonnard, fundador e COO da OptylonKrea. São vários os projetos imobiliários que a empresa tem em carteira em Portugal, um país no qual prevê continuar a investir. Até porque, conforme comenta, por outro lado, Frederico Almeida de Carvalho, Business Development Manager da OptylonKrea, “Portugal é uma referência no setor imobiliário internacional".
Segundo William Tonnard, até à data, a OptylonKrea geriu mais de 500 milhões de euros em projetos imobiliários em Portugal, tendo, ao todo, “20 projetos desenvolvidos ou em desenvolvimento”. “Nos próximos dois anos, serão investidos mais de 300 milhões de euros no mercado imobiliário português. O objetivo é continuar a aumentar o investimento de forma gradual e sustentada ao longo dos próximos anos, mantendo o foco no core business da empresa, no setor do turismo e do retalho”, acrescenta.
Na mesma entrevista ao idealista/news, Frederico Almeida de Carvalho adianta que a empresa não está particularmente ativa no segmento puramente residencial, mas sim no segmento turístico, onde atua como promotor imobiliário e como operador. “Temos um plano de expansão ambicioso, que almeja 25 novas aberturas num futuro próximo, não só em Lisboa, mas também no Porto, Algarve e Comporta. (…) Estamos também muito compradores de ativos comerciais, em particular no segmento de ‘high-street retail’, onde estamos a construir um portfolio composto por lojas nos principais eixos comerciais de Lisboa e Porto”, revela, apontando a mira ao retalho de rua e ao negócio das 'branded residences'.

A OptylonKrea foi criada através da 'joint-venture' entre os sócios fundadores do Grupo Optylon Capital (Portugal) e da Krea Real Estate, sediada em Istambul (Turquia), em 2019. Como se deu essa parceria e porquê a escolha de Portugal por parte da Krea Real Estate?
William Tonnard (WT): A Optylon Capital foi criada em 2016, em Lisboa, porque considerámos que o mercado imobiliário tinha um grande potencial graças a alguns indicadores chave como a estabilidade política, os programas dos vistos gold e dos Residentes Não Habituais, a facilidade de acesso ao financiamento bancário por parte da população e a liberalização de curto prazo. Em 2017, a Optylon Capital estava prestes a lançar dois empreendimentos imobiliários na zona histórica de Lisboa quando nos reunimos com a Krea e, como partilhávamos dos mesmos valores e visão sobre o potencial do mercado imobiliário em Portugal, decidimos trabalhar juntos nos dois lançamentos. A procura de investidores turcos era elevada e graças à excelente imagem da marca e histórico local conseguimos vender metade das unidades em apenas uma noite. Após alguns anos de estreita colaboração, em 2019 decidimos juntar forças oficialmente e lançar a OptylonKrea.
Como definiria a Optylonkrea?
WT: A OptylonKrea é uma promotora imobiliária e uma gestora de investimentos. Trabalhamos com pessoas com um elevado património e family offices que querem investir o seu capital em empreendimentos imobiliários em Portugal. Além disso, fomos uma das primeiras empresas em Portugal, em 2017, a aconselhar fundos de capital de risco para investidores de vistos gold. Até hoje, ajudámos mais de 400 famílias de todo o mundo a investir para obterem um visto gold. Também acreditamos fortemente no segmento de ‘high street retail’ e estamos a investir mais de 120 milhões de euros nesta classe de ativos só em Portugal.
"Nos próximos dois anos, serão investidos mais de 300 milhões de euros no mercado imobiliário português"
Willliam Tonnard
Quanto é que a Optylonkrea já investiu em imobiliário em Portugal até à data e quanto prevê investir este ano?
WT: De 2016 até à data, a OptylonKrea geriu mais de 500 milhões de euros em projetos imobiliários em Portugal. No total, temos um histórico de 20 projetos desenvolvidos ou em desenvolvimento, aos quais correspondem mais de 100.000 m2 de área de construção. Nos próximos dois anos, serão investidos mais de 300 milhões de euros no mercado imobiliário português. O objetivo é continuar a aumentar o investimento de forma gradual e sustentada ao longo dos próximos anos, mantendo o foco no core business da empresa, no setor do turismo e do retalho. De referir que o investimento total da OptylonKrea na Europa soma cerca de 38 projetos, totalizando transações avaliadas em cerca de 1,7 mil milhões de euros, correspondentes a cerca de 1.000.000 m2 de construção.
O que distingue a Optylonkrea de outros players do mercado? Porquê?
Frederico Almeida de Carvalho (FAC): Enquanto promotor imobiliário o principal fator distintivo da OptylonKrea em relação é o facto de oferecer um produto integrado aos clientes/investidores. O facto de operarmos todos os apartamentos que promovemos obriga-nos a uma abordagem ao mercado cautelosa, que permita aos compradores das frações obterem os retornos esperados.
Que projetos está atualmente a desenvolver a Opylon Krea em Portugal?
FAC: A OptylonKrea está a concluir um empreendimento na Rua dos Douradores, no centro da cidade Lisboa, com uma localização de excelência. Este ano esperamos iniciar a construção do empreendimento na Rua Alexandre Herculano, em Lisboa, muito próximo da Avenida da Liberdade. Este empreendimento consiste na reabilitação de um edifício dos finais do século XIX para ser transformado num edifício de Branded Residence. Ambos os projetos de arquitetura foram concebidos pelo prestigiado arquiteto Frederico Valsassina.

Iremos também dar início durante este ano à construção do nosso edifício comercial Flagship, localizado mesmo ao lado do Santa Justa Elevator, que será arrendado por uma marca internacional. Este projeto, situado na Rua do Ouro, numa das melhores ruas comerciais de Lisboa, é da autoria do conceituado arquiteto Samuel Torres de Carvalho.
Estão atentos a outros segmentos/nichos de mercado? Quais?
FAC: Não estamos particularmente ativos no segmento puramente residencial, mas sim no segmento turístico, onde atuamos como promotor imobiliário e como operador. Temos um plano de expansão ambicioso, que almeja 25 novas aberturas num futuro próximo, não só em Lisboa, mas também no Porto, Algarve e Comporta. Adicionalmente procuramos também expandir para outras cidades do Sul da Europa.
"Estamos também muito compradores de ativos comerciais, em particular no segmento de ‘high-street retail’, onde estamos a construir um portfolio composto por lojas nos principais eixos comerciais de Lisboa e Porto"
Frederico Almeida de Carvalho
Estamos também muito compradores de ativos comerciais, em particular no segmento de ‘high-street retail’, onde estamos a construir um portfolio composto por lojas nos principais eixos comerciais de Lisboa e Porto. E estamos atentos a oportunidades em Espanha, nomeadamente em Madrid.
Pouco tempo depois da Optylonkrea iniciar atividade em Portugal surgiu a pandemia. Que impacto está a ter na atividade da empresa?
WT: 2019 foi o ano em que trabalhámos arduamente com o nosso parceiro gestor de fundos a estratégia para o nosso segundo fundo de capital de risco, ainda mais ambicioso, destinado a investidores de vistos gold. Éramos quase os únicos no setor naquela época e precisávamos de levantar uma quantia significativa de dinheiro. Por isso viajámos muito por vários países e continentes para desenvolver uma rede de parceiros e clientes diretos. O início foi lento, porque precisávamos de educar o mercado. No entanto, com a pandemia, nós e os clientes deixámos de poder viajar, e comprar um imóvel à distância é mais difícil. Assim, rapidamente abraçámos a tendência dos webinars para chegar aos clientes e tem sido uma estratégia muito bem-sucedida, graças à extensa rede que construímos no ano anterior.
Que balanço faz do ano de 2021 em termos de faturação e volume de negócios? Foi um “bom ano”, comparativamente com o de 2020?
WT: 2021 foi um ano recorde para nós, o fundo que assessoramos arrecadou 75 milhões de euros, o que compara com 52 milhões de euros em 2020.
O que esperar do ano de 2022? Tenderá a ser melhor que o de 2021?
WT: O quarto trimestre de 2021 foi particularmente excecional, na medida em que se aproximavam as alterações ao regime dos vistos gold, em janeiro de 2022. Por esse motivo, esperávamos alguma desaceleração no primeiro trimestre de 2022, e foi isso que aconteceu. Agora esperamos uma aceleração progressiva no segundo trimestre, antes do retorno a uma atividade mais dinâmica no segundo semestre de 2022.
No geral, o nosso objetivo é que o fundo que assessoramos angarie a mesma quantia de dinheiro em 2022, em comparação com 2021, com menos clientes, porque o ‘ticket’ médio aumentou.
Com a pandemia as pessoas passaram a olhar para a casa de outra forma, sendo o local onde “tudo acontece”. As casas que vão chegar ao mercado nos próximos tempos já terão em conta estes novos requisitos, como por exemplo mais espaços exteriores, zona de escritório etc.?
FAC: Atualmente somos, acima de tudo, promotores de projetos turísticos. É sabido que a pandemia mudou a forma como as pessoas trabalham, o que naturalmente alterou também de forma significativa a forma como as pessoas viajam e genericamente vivem. O resultado foi uma maré de profissionais-remotos, que se têm vindo a fixar em Portugal por períodos de média duração (>15 dias) e procuram uma experiência integrada de ‘live-work-play’.
"É sabido que a pandemia mudou a forma como as pessoas trabalham, o que naturalmente alterou também de forma significativa a forma como as pessoas viajam e genericamente vivem. O resultado foi uma maré de profissionais-remotos, que se têm vindo a fixar em Portugal por períodos de média duração (>15 dias) e procuram uma experiência integrada de ‘live-work-play’"
Frederico Almeida de Carvalho
Nesse sentido, tivemos o cuidado de incluir nos nossos projetos vastas áreas comuns, que permitirão aos clientes usufruir de espaços adequados a esta nova forma de viver, onde paralelamente podem trabalhar e desfrutar da componente ‘leisure’.

A empresa vai ter uma nova sede em Lisboa. Já foi inaugurada? Apenas tem escritório em Lisboa?
FAC: Os trabalhos de construção da nova sede da OptylonKrea em Lisboa estão a decorrer. É expectável que a inauguração decorra no final do primeiro semestre de 2022. A equipa está a crescer e em consonância com esse crescimento estamos a mudar a nossa sede para uma nova localização no centro de Lisboa, que proporcionará condições de trabalho de excelência para toda a equipa. Os novos escritórios irão contribuir para a criação de valor para o grupo OptylonKrea.
Por quantas pessoas é composta a equipa da Optylonkrea em Portugal?
FAC: Atualmente a equipa é composta por aproximadamente 30 pessoas.
Portugal continua no radar dos investidores, mesmo em tempos de pandemia?
FAC: Portugal é uma referência no setor imobiliário internacional e na qual acreditamos fortemente. O clima, a cultura, a segurança, a estabilidade política e o desenvolvimento do teletrabalho são fatores que encorajam os investidores internacionais a investir em todos os setores em Portugal. O mercado imobiliário português mostrou uma forte resiliência durante a crise pandémica e a forma como o país implementou as medidas e o plano de vacinação forneceram indicadores muito positivos que apelam àqueles que querem investir em Portugal.
Deve também ser mencionado que a empresa irmã da OptylonKrea, designada por Lovely Stay, é líder de gestão de arrendamento a curto prazo em Portugal, gerindo mais de 500 propriedades em Portugal e tendo tido um desempenho muito bom em 2021, apesar de um ambiente desafiante.
O Build To Rent (BTR) está no horizonte da Optylonkrea?
FAC: O BTR é um segmento do setor puramente residencial, pelo que não está na nossa agenda no curto/médio-prazo. Não obstante, é evidente a sua importância para a sociedade, sendo expectável que cresça consideravelmente nos anos vindouros, não só na classe média portuguesa, mas também na esfera dos cidadãos estrangeiros que se têm vindo a fixar em Portugal na sequência da pandemia.
Os principais entraves ao seu desenvolvimento são, acima de tudo, os seguintes:
- Do foro legal/regulatório (a instabilidade da legislação do mercado de arrendamento é o pior inimigo do investidor);
- A subida dos preços de construção (este é um mercado com margens reduzidas);
- O facto de nenhum promotor ter ainda avançado para a fase de construção, o que impossibilita a existência de comparáveis e dificulta as aquisições por parte de investidores institucionais.
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