José Cardoso Botelho, Managing Director da Vanguard Properties, em entrevista ao idealista/news.
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"Estamos muito felizes e vamos continuar a investir em Portugal”, dizia-nos em outubro do ano passado José Cardoso Botelho, Managing Director da Vanguard Properties (VP). Na altura, há apenas seis meses, o cenário de pandemia de novo coronavírus estava longe de ser real. Entretanto, muita coisa mudou durante este período em Portugal e no mundo, nomeadamente no setor imobiliário. Mas a ambição e vontade da promotora de investir no país mantém-se intacta. “Não vemos nenhuma razão para deixar de continuar a investir em Portugal”, diz agora o responsável, em entrevista ao idealista/news.

A comprovar este interesse no país, está o facto da VP prever “terminar mais duas aquisições de cerca de 100 milhões de euros nos próximos meses”, revela José Cardoso Botelho, deixando a porta aberta a uma nova aposta num empreendimento pensado para a classe média portuguesa, à semelhança do projeto Riverbank, no Parque das Nações: “Estamos em querer que vamos conseguir fazer um segundo projeto na zona de Lisboa, mas ainda nao está fechado, esperamos nos próximos meses poder anunciar essa boa notícia”. 

E será que a Covid-19 está de certa forma a “obrigar” as promotoras a pensar em projetos mais adequados aos tempos atuais, em que confinamento e teletrabalho são palavras de ordem? “Vamos anunciar em breve um primeiro projeto que está concebido com essa perspetiva, ou seja, quem comprar um apartamento nesse empreendimento terá um espaço de trabalho entre 9 e 18 metros quadrados (m2) totalmente equipado para receber clientes, isto na perspetiva de trabalhar no máximo três dias por semana fora da empresa”, conta.

Tem-se mostrado muito otimista neste período de pandemia. A que se deve essa confiança no imobiliário português?

Nós, VP, somos bastante otimistas relativamente ao mercado imobiliário nacional. Em primeiro lugar, porque Portugal tem sido capaz de vencer esta crise do ponto de vista de saúde pública de forma brihante, comparativamente com outros países europeus. Portanto, acreditamos que, cada vez mais, vai haver clientes internacionais que vão olhar para Portugal ainda com mais atenção, numa perspetiva quer de investimento quer de poderem vir viver no país. Isso é um facto que temos verificado ns últimos 25 dias.

Depois de uma paragem praticamente absoluta entre o dia 13 de março e o final do mesmo mês, começámos novamente a verificar um acréscimo significativo de pedidos de informação sobre os nossos empreendimentos e que têm vindo a acelerar nos últimos dias. 

Portugal evoluiu muito desde a última crise, temos hoje um conjunto de promotores imobiliários de muito melhor qualidade, melhor financiados. Depois, a oferta do segmento alto e muito alto é relativamente baixa, e julgamos que muito rapidamente vamos recuperar o atraso, as dificuldades que foram causadas por este mês de paragem. Os próximos dois meses vão ser lentos de recuperação, mas a partir daí acreditamos que num prazo de três a 12 meses voltaremos a ter um mercado pujante como tínhamos.

O facto da VP “atuar” no segmento alto pode ser visto como uma vantagem?

O facto de estarmos posicionados no segmento alto, e por sua vez na venda em planta, tem bastantes vantagens. Quem tinha capacidade para comprar um ativo de preço elevado muito provavelmente continua a ter, por ventura terá é adiado o processo de decisão, até por causa da dificuldade de deslocação e assinatura. Mas a grande maioria desses clientes irá continuar a querer comprar os ativos que pretendiam antes. 

"O nosso projeto mantém-se firme e Portugal continua a ser um mercado estratégico para nós, portanto não vemos nenhuma razão para deixar de continuar a investir"

Por um lado, Portugal, na nossa opinião, sairá reforçado desta situação. Por outro lado, está agora claro, mais que nunca, que as taxas de juro vão continuar a níveis historicamente baixas, até porque os governos e alguns bancos centrais vão continuar a emprestar mais dinheiro, o que é muito positivo para o setor imobiliário.

Paralelamente, muitas pessoas que investiriam noutro tipo de ativos, nomeadamente na Bolsa, com a volatilidade que os mercados têm tido, para muitos o mercado imobiliário passará a ser um investimento de refúgio cada vez mais importante.

No nosso caso em concreto, como estamos essencialmente a vender produtos em planta – o nosso primeiro projeto vai ser entregue daqui a dois meses e meio, o Castilho 203, todos os outros estão ainda em fase de construção –, a utilização de plataformas tecnológicas sempre foi utilizada e com sucesso para fazer vendas de um produto que no fundo ainda não existe fisicamente. 

Há atrasos na construção dos projetos da VP devido à Covid-19?

Felizmente as empresas com quem trabalhamos foram capazes de implementar um conjunto de medidas de contenção de riscos, o que permitiu que nenhuma obra tivesse interrupção. Inicialmente houve uma pequena disrupção na cadeia de fornecimento, mas rapidamente foi restabelecida e desde há cerca de um mês todas as obras estão a andar regularmente. No caso específico do Bayline, no Algarve, até foi possível reforçar a equipa, ou seja, está a andar mais depressa do que seria normal, porque tem havido mais recursos humanos disponíveis.

Vanguard Properties: “Independentemente da pandemia, os nossos planos não se alteraram”
Construção do empreendimento Bayline arrancou em dezembro de 2019 Vanguard Properties

Já no caso especifico do Castilho 203, que é a obra mais avançada, temos cerca de 150 pessoas a trabalhar no edifício: já estamos numa fase de finalização [andaimes foram retirados esta semana]. 

A VP apostou também na construção de casas para a classe média, com o Riverbank. Em que fase se encontra o projeto?

É de facto um projeto mais destinado para a classe média, está situado no Parque das Nações, na Avenida Marechal Gomes da Costa (Lisboa), praticamente em frente à Decathlon. É um loteamento que está em fase final de aprovação, vamos ter cerca de 100 apartamentos e uma pequena zona comercial. É um edifício com 9 pisos e todos com vista sobre o Tejo. Estamos à espera da aprovação do loteamento para começarmos as obras de infraestrutura, portanto não há qualquer adiamento causado por esta situação da Covid-19. 

Há mais projetos na calha para a classe média?

A VP, desde a fundação em Portugal, em 2016, não teve necessariamente como objetivo investir em projetos do segmento alto ou muito alto, o que aconteceu é que as melhores oportunidades que surgiram foram neste segmento, e como havia uma procura – e continua a haver – muito grande por esses ativos desenvolvemos produtos especiais. 

Não foi fácil encontrar projetos em que o preço de aquisição e o custo de desenvolvimento permitissem construir casas para a classe média. Hoje é impossível construir uma casa ao preço que a maior parte dos portugueses pode pagar, que são grosso modo 3.000 euros por metros quadrado (m2). Estamos em querer que vamos conseguir fazer um segundo projeto na zona de Lisboa, mas ainda nao está fechado, esperamos nos próximos meses poder anunciar essa boa notícia.

"Temos visto nas últimas semanas um acréscimo muito grande por parte do mercado, por exemplo do Brasil e dos EUA, que era um mercado que tradicionalmente não comprava em Portugal (...). Muito recentemente houve interesse do México, Singapura e Taiwan"

O que muda no setor com a Covid-19? Poderá haver projetos a nascer já a pensar no teletrabalho, por exemplo?

A pandemia mostrou-nos que as empresas podem continuar a funcionar, pelo menos na área em que estamos, através do teletrabalho. Acredito que no futuro, até para cumprir com determinadas metas ambietais e reduzir a necessidade de espaço das empresas, vai ser possivel as pessoas trabalharem um ou dois dias por semana em casa. Aliás, vamos anunciar em breve um primeiro projeto que está concebido com essa perspetiva, ou seja, quem comprar um apartamento nesse empreendimento terá um espaço de trabalho entre 9 e 18 m2 totalmente equipado para receber clientes, isto nessa perspetiva de trabalhar no máximo três dias por semana fora da empresa. Penso que isso vai ser o futuro.

Disse recentemente que o “interesse pelo mercado imobiliário português não desapareceu”. Os estrangeiros continuam a ter muito interesse no imobiliário nacional?

Temos visto nas últimas semanas um acréscimo muito grande por parte do mercado, por exemplo do Brasil e dos EUA, que era um mercado que tradicionalmente não comprava em Portugal. Os mercados que tradicionalmete compravam mantêm-se fortes, como a Ásia, e muito recentemente houve interesse do México, Singapura e Taiwan. Continuamos a acreditar que Portugal mantém vantagens competitivas, e de alguma forma foram reforçadas, até por esta ideia de que o nosso SNS, ao contrário do que muitos dizem, é bastante melhor que o da maior parte dos países. 

Relativamente ao processo da Comporta, que foi longo, em que fase se encontra? Os trabalhos estão a decorrer conforme previsto?

Fizemos a aquisição no final do ano passado e desde então procedemos à retificação e à reparação de toda a infraestrutura que já estava instalada num dos lotes, o Comporta Dunes. Adjudicámos os projetos que estavam em falta, havia um conjunto de especificidades que não tinham sido terminadas e estão a ser agora, e julgo que esta semana vamos receber esses mesmos projetos. Já contratámos a empresa de fiscalização das obras futuras e estamos neste momento em fase de preparação de lançamento de concurso para, no caso do Comporta Dunes, retomar os trabalhos de construção da infraestrutura que falta e, no caso do Comporta Links, começar as obras de infraestrutura. 

Do ponto de vista do ‘timing’, os nossos planos mantêm-se. Temos o projeto integralmente financiado e o objetivo é terminá-lo o mais depressa possível, o que significa que no caso do Comporta Dunes é ter as obras de infraestruturas terminadas no prazo de um ano e no caso do Comporta Links em princípio dentro de 24 meses.  

Que impacto terá o final da concessão de vistos gold em Lisboa e Porto por via de investimento imobiliário, tendo em conta o contexto atual?

O fomento do investimento estrangeiro está novamente em cima da mesa. Já verificámos que os Estados vão ser obrigados a apoiar os contribuintes individuais e coletivos a ultrapassar esta crise causada por esta interrupção do funcionamento da Economia. Como vai haver esse reforço do Estado a apoiar as empresas e as pessoas, e por outro lado a desenvolver projetos de investimento público de maior dimensão, vamos ter necessariamente de recorrer ao investimento estrangeiro. 

"Prevemos terminar mais duas aquisições de cerca de 100 milhões de euros nos próximos meses e temos um plano de investimento para os próximos três anos de 1,5 mil milhões de euros"

O investimento que pode ser de maior dimensão e que pode ser mais rapidamente executado é sobretudo no turismo e no imobiliário. Nesse ponto de vista, o Governo deve novamente olhar com muita atenção para o programa Golden Visa, que foi muito importante na recuperação da Economia e do setor imobiliário e da construção civil a partir de 2012.

Devemos eventualmente atualizar o programa, o que pode passar, por exemplo, pela compra de um ativo imobiliário não no valor de 500.000 euros mas de valor superior, ou em alternativa que os compradores estrangeiros sejam obrigados a colocar o ativo no regime de arrendamento a longo prazo. Efetivamente, o investimento estrangeiro vai ser mais uma vez importante para a recuperação da Economia.  

A VP vai continuar a investir em Portugal no pós-pandemia? 

A VP continua muito satisfeita com a sua presença em Portugal. Independentemente desta fase de pandemia, os nossos planos não se alteraram. Prevemos terminar mais duas aquisições de cerca de 100 milhões de euros nos próximos meses e temos um plano de investimento para os próximos três anos de 1,5 mil milhões de euros. Neste momento, temos 400 milhões de euros em obra adjudicada nos últimos 12 meses. O nosso projeto mantém-se firme e Portugal continua a ser um mercado estratégico para nós, portanto não vemos nenhuma razão para deixar de continuar a investir.

Temos um ‘pipeline’ muito interessante, e que foi comprado a bom preço, e temos uma estrutura económico-financeira muito, muito sólida. Estamos aqui a longo prazo e com força e, como digo, a acreditar muito no mercado português.

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