Investidores estrangeiros

A retalhista espanhola Mercadona só chegará a Portugal em 2019, mas a verdade é que já está a investir no mercado nacional. Só no ano passado, a empresa pagou 63 milhões de euros a 50 fornecedores portugueses para “alimentar” supermercados em Espanha, mais 11 milhões que em 2016.

O investimento resultante da Autorização de Residência para a Atividade de Investimento (ARI), como também são conhecidos os vistos gold, atingiu os 91, 4 milhões de euros em fevereiro, menos 8% que no mesmo mês do ano passado. Do total do montante captado, a maior parte provém da aquisição de bens imóveis, segundo dados do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF).

Portugal entrou definitivamente no radar dos investidores internacionais. E o setor imobiliário, que tem vindo a assumir um papel determinante no crescimento da economia nacional, funciona como porta de entrada de investimento.

O mercado industrial português parece estar a viver, também ele, um bom momento. O desempenho positivo do setor das exportações resultou, segundo um estudo da Worx, numa melhoria da atividade económica nacional, com impacto positivo na atividade dos operadores logísticos. Os investidores internacionais, esses, também parecem estar de olho em Portugal.

A fama de Portugal está definitivamente a chegar além fronteiras. Madonna, Monica Bellucci e Michael Fassbender, entre outras celebridades, já compraram casa em Portugal. Agora é a vez da atriz brasileira Luana Piovani confirmar que vai mudar-se para solo nacional no final de 2019 com o marido (o surfista Pedro Scooby) e com os três filhos. Cascais é o local escolhido.

A AXA Investment Managers, subsidiária da seguradora francesa AXA, anunciou esta segunda-feira (dia 22) que chegou a acordo para comprar o centro comercial Dolce Vita Tejo por aproximadamente 230 milhões de euros. O shopping foi adquirido aos norte-americanos da Baupost e aos britânicos da Eurofund, que continuarão responsáveis pela gestão e operações do espaço.

Milhões e mais milhões… de euros. O investimento imobiliário realizado em Portugal está ao rubro, o que não deixa de ser um bom sinal. Estão a nascer ou a renascer vários projetos residenciais no país, sobretudo em Lisboa e no Porto, e os estrangeiros teimam em apostar no setor. Como disse ao idealista/news Hugo Santos Ferreira, secretário-geral da Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários (APPII), “Portugal é um país de primeira linha de investimento”.

A Baía do Tejo, empresa estatal do universo Parpública, esteve em Moscovo (Rússia), na semana passada, a apresentar os seus territórios, nomeadamente os que pertencem à denominada Lisbon South Bay. A participação na feira de imobiliário International Property Show de Moscovo foi um sucesso: “[Há] grande interesse da comunidade empresarial russa” e foi estabelecido um protocolo entre as partes, adiantou a empresa.

Manter a aposta na reabilitação urbana é importantíssimo. "Não pensemos que o trabalho está feito. Estamos no começo da reabilitação urbana", alerta Hugo Santos Ferreira, secretário-geral da Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários (APPII). Em entrevista ao idealista/news, o responsável lembra, no entanto, que é preciso apostar na construção nova. E dá conta de uma tendência nova no mercado, que é o facto de haver mais portugueses a investir no imobiliário nacional: "Houve um efeito de contágio muito positivo".

Os escândalos associados aos casos de vistos gold atribuídos por Portugal, e outros países, a estrangeiros corruptos já fizeram soar os alarmes em Bruxelas. Os regimes de atribuição de residência/cidadania em troca de investimento são definidos por cada país, mas têm de respeitar a legislação internacional. A Comissão Europeia quer garantir que essa conformidade está a acontecer e, para isso, vai abrir em 2018 um procedimento de análise aos programas de vistos gold adotados em cada estado-membro.

O programa dos vistos gold em Portugal continua a dar que falar e não é pelos melhores motivos. Depois de em 2014 ter rebentado o caso de estrangeiros que receberam vistos dourados em troca de subornos a governantes e altos quadros do Estado, agora ficou a saber-se que há um novo escândalo à volta do programa que tem alimentado muito do dinamismo do setor imobiliário nacional nos últimos anos: vários empresários estrangeiros envolvidos em casos de corrupção no Brasil e Angola, por exemplo, obtiveram autorização de residência em Portugal.