Índice de preços das casas subiu mais do que o recomendado em 2020 em 9 países da UE, colocando-os em risco de bolha de preços.
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Risco de Bolha imobiliária em Portugal e na Europa
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O furacão da pandemia da Covid-19 surpreendeu tudo e todos com a sua chegada em março de 2020 e tem vindo a deixar várias marcas no mercado imobiliário europeu. A venda de casas abrandou, em alguns casos, para níveis nunca vistos e, mesmo assim, assistiu-se à subida dos preços da habitação na generalidade dos países da União Europeia (UE). Portugal é um deles, registando a segunda maior subida dos 27 e, segundo os critérios do Eurostat, está em risco de bolha imobiliária.

Não é novidade que os preços das casas para comprar estão a crescer há vários anos em Portugal – em concreto desde 2014, um ano marcado pela saída da troika do país. A questão é que, desde 2016 para cá, o custo da habitação está a subir mais do que é considerado recomendável pelas autoridades económicas e financeiras, podendo, por isso, o mercado português enfrentar o cenário de bolha imobiliária.

Quem mostra esta realidade é o Eurostat através do Índice de preços das casas (real ou deflacionado). De acordo com este indicador, há cinco anos consecutivos que o valor das casas no mercado português apresenta variações anuais superiores a 6%, valor a partir do qual a Comissão Europeia considera que um mercado está em risco de bolha de preços. Em território nacional, o pico foi registado entre 2018 e 2019 com aumentos anuais de 8,6% neste índice. E mesmo num ano marcado pela pandemia - como foi 2020 - o índice do preço das casas aumentou 7,4%, sendo este o quarto maior aumento registado em Portugal nos últimos dez anos.

E apesar desta tendência de subida dos preços das casas, a aumentar ano após ano, nada parece impedir agora as famílias e os investidores de apostarem no mercado residencial português. A venda das casas já está a dar sinais de recuperação, ainda que mínimos, estando sobretudo o mercado de luxo em alta. Os dados mais recentes do gabinete de estatística europeu mostram que houve mais 0,5% de casas vendidas nos primeiros três meses de 2021 do que no mesmo período do ano passado. Mas este foi mesmo o menor aumento registado na UE neste período, a nível das transações.

Em risco há 5 anos…

Analisando o índice de preços das casas dos 27 Estados membros da UE, salta à vista que Portugal é mesmo o único país que está em risco de bolha de preços - isto é, com variações anuais acima dos 6% - nos últimos cinco anos (desde 2016 a 2020)

Nesta lista, encontram-se apenas dois casos semelhantes, mas que acabaram por sentir o impacto da pandemia, arrefecendo. Em causa estão a Hungria e a República Checa, que, durante vários anos, apresentaram valores neste índice superiores a 6%, mas em 2020 registaram um abrandamento na subida dos preços - o índice aumentou apenas 1,6% e 5,5%, respetivamente. Também a Irlanda apresentou subidas do índice dos preços da habitação entre 7% e 11%, no período de 2015 a 2018, mas a evolução começou a abrandar em 2019, ainda antes da chegada da Covid-19.

Preço das casas em Portugal
Imagem de Marina Stroganova por Pixabay

Uma olhar sobre a UE…

Olhando para o ranking de 2020, verifica-se que o índice de preços das casas (real ou deflacionado) subiu nos 27 países da UE. Mas só nove apresentaram aumentos superiores a 6%, estando, portanto, em estado de alerta para possíveis tensões no mercado imobiliário que antecipam o risco de bolha de preços, explica o Eurostat. Note-se que este indicador relaciona o índice de preços nominais das casas e o índice de inflação de cada país, sendo utilizado pela Comissão Europeia para avaliar o Procedimento de Desequilíbrios Macroeconómicos (MIP, na sigla inglesa).

No topo desta tabela feita por Bruxelas está o Luxemburgo, apresentando uma evolução dos preços da habitação de 13,3% em 2020. Em segundo lugar estão a Croácia e Portugal com 7,4%. A Eslováquia ocupa o quarto com 7,2%. E a Alemanha e a Polónia completam o top5 com um aumento de 7%. No fundo da tabela está a Irlanda, registando uma subida apenas de 0,1%.

Ao contrário de Portugal, noutros países do sul da Europa como Espanha e Itália, não se vislumbra o risco de bolha imobiliária. No país vizinho não se registou nenhum aumento anual do índice superior a 6% nos últimos dez anos. E o valor mais alto que alcançou foi de 5,2% em 2018. Já em Itália, o índice do preços das casas tem apresentando uma rota decrescente na última década (à exceção de 2016 que apresentou a subida ligeira de 0,2%). Isto quer dizer que as casas estão cada vez mais baratas em Itália – país que também é conhecido por ter várias iniciativas de “Casas por 1 euro”. Em 2020, ambos os países estavam na cauda da UE: em Espanha os valores subiram apenas 2,1% e em Itália 2,2%.

Como estão hoje os preços das casas face a 2010?

A evolução do mercado residencial europeu é notória ao longo dos últimos dez anos.  O preço das casas na UE subiu 30,9% entre 2010 e o primeiro trimestre de 2021. E as rendas aumentaram 15,3%. Esta é uma realidade que se verifica em quase todos os países da UE, segundo o Eurostat.

Portugal foi um deles, apresentando mesmo variações superiores à média da UE. Em 11 anos, o preço das casas em território nacional subiu quase 50%. E o valor das rendas também cresceu, mas menos – cerca de 20%, mostram os dados do Eurostat.

No que diz respeito ao preço das casas para vender, os maiores aumentos da década foram registados na Estónia (126,8%) e no Luxemburgo (108,2%). A Hungria completa o 'top3' registando uma evolução de quase +100% nos preços das casas. Houve ainda quatro estados-membros que registaram uma diminuição dos preços das habitações: Grécia (-28,1%); Itália (-14,4%), Chipre (-8,9%) e Espanha (-4,8%).

Já no mercado de arrendamento, a realidade é outra. Ao comparar o primeiro trimestre de 2021 com 2010, os preços subiram em 25 Estados e diminuíram em dois, com os maiores aumentos a serem assinalados na Estónia (140,4%), na Lituânia (108,6%) e na Irlanda (63,3%). As variações negativas foram registadas na Grécia (-25,2%) e no Chipre (-3,8%).

O que os dados publicados pelo Eurostat também mostram é que os preços das casas para vender aumentaram mais do que as rendas em 17 Estados-membros da UE no período em análise.

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3 Comentários:

ppoeira
25 Agosto 2021, 7:55

Portugal, um país no limiar da pobreza, a estar sempre à frente na desgraça. Coitado deste povo que paga impostos altíssimos para sustentar os ricos.

Naomi Briet
5 Setembro 2021, 13:46

A bolha imobiliária ainda não explodiu porque o governo português continua a injetar dinheiro, assim como a mídia continua a manipular a realidade o que torna a bolha mais elástica; mas que explodirá, explodirá! A economia de um país năo suporta tal desatino. Os gráficos mostram que a maioria dos paīses de primeiro mundo controla seus īndices imobiliários ( veja Espanha, Itália e França,, outros). O grande problema em Portugal é a distância entre os salários da população que está entre os mais baixos da Europa com os īndices imobiliários mais altos da Europa, resultando numa catástrofe social: a maioria da populaçăo portuguesa sem moradia! Há mais de 3 anos que a comunidade econőmica europeia vem chamando a atenção de Portugal para isto; resultando em políticas sociais paliativas . Jogar a maioria da população na miséria é fácil, difícil é tirá-la!

Manuel Rocha
22 Outubro 2021, 11:04

Evergrande 2.0

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