Há quem viva feliz no espaço europeu. Mas há ainda muitas desigualdades, sobretudo ao nível da habitação.
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Qualidade de vida na europa e em Portugal
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Em que países da União Europeia (UE) se vive melhor? Será que a qualidade de vida que Portugal oferece satisfaz a população? Os dados mais recentes do Eurostat vêm responder a estas e outras questões revelando os níveis de satisfação dos europeus em todos os critérios que contribuem para viver com qualidade: desde as condições de habitação à saúde e segurança, passando pelas finanças pessoais. Analisámos os dados do gabinete de estatística europeu e contamos-te tudo.

Habitação: qual o nível de satisfação?

O acesso a uma casa condigna é um direito fundamental e tem um impacto importante na qualidade de vida de cada um. A média dos 27 países da UE atinge os 7.4 pontos numa escala de 0 a 10, o que indica que os europeus estão satisfeitos com as condições habitacionais que possuem, revela a publicação interativa divulgada pelo Eurostat na passada terça-feira, dia 31 de agosto de 2021.

É na Dinamarca e na Finlândia que as pessoas vivem mais satisfeitas com as suas casas - atingindo a pontuação de 8.4, a mais alta da UE. De todos os estados membros é na Bulgária onde a população está mais descontente, já que a pontuação não vai além dos 6. Também os portugueses dizem estar satisfeitos com as suas casas, atingindo 7.3 pontos (ligeiramente abaixo da média dos 27). Mas viver em casas com boas condições não é ainda uma realidade para todos os europeus.

Sobrelotação vs solidão

Os dados do Eurostat mostram que, em 2019, 17,1% da população apresentava agregados familiares numerosos. Embora em 11 estados-membros da UE menos de 10% da população vivesse em casas sobrelotadas - entre os quais se encontra Portugal -, há países onde mais de 40% das pessoas vive nestas condições, como é o caso da Bulgária, Letónia e Roménia. Isto acontece porque, segundo o gabinete de estatística europeu, “nas áreas rurais do sul e do leste da Europa, as famílias mais extensas continuam a viver juntas sob o mesmo teto”, lê-se na publicação.

E esta não é a única realidade detetada, já que o oposto também existe. Quase um terço dos europeus (32,8%) vive em casas subocupadas. Isto porque há cada vez mais pessoas a viver sozinhas em alguns países, realidade que o Eurostat explica, em parte, pelo aumento da longevidade e pelo elevado número de idosos que vivem sozinhos. Foi na Irlanda, Chipre e Malta onde se registaram mais pessoas a viver em casas subocupadas (mais de dois terços). Este é também o cenário para mais de um terço da população portuguesa. No extremo oposto da tabela está a Letónia e a Roménia, onde apenas 10% das pessoas vivem sozinhas.

Idosos vivem sozinhos
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O que os dados do Eurostat também mostram é que nos países onde existem mais famílias a viver em casas sobrelotadas, há uma menor percentagem de pessoas a viver sozinhas. E o contrário também se verifica. Este padrão foi detetado em cada um dos estado-membros da UE, aponta o gabinete.

Há casas com problemas estruturais

Viver com qualidade passa também por viver numa casa com boas condições térmicas, acústicas e materiais. Embora esta seja uma realidade para a esmagadora maioria dos europeus, em 2019 o Eurostat detetou que 12,7% da população vivia em habitações de baixa qualidade, isto é, em casas que apresentam elevados níveis de humidade e sinais visíveis de degradação dos pavimentos e janelas. E assinala que estes problemas existem particularmente nos "grupos mais vulneráveis" da sociedade.

Nesta matéria, Portugal ocupa o segundo lugar dos 27 estados-membros da UE. Quase um em cada quatro portugueses vive em casas sem qualidade. O único país que apresenta um cenário mais grave é o Chipre, onde mais de 30% da população vive nestas condições. Também na Hungria e na Eslovénia mais de 20% das pessoas vive em habitações húmidas e degradadas.

Em apenas sete países dos 27 há menos de uma pessoa em cada dez a viver em habitações de baixa qualidade, nomeadamente Áustria, Roménia, Malta, República Checa, Suécia, Eslováquia e Finlândia.

Casas de baixa qualidade
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Como estão as finanças dos europeus?

Ter qualidade de vida passa também pela capacidade financeira de cada família. Estarão os europeus contentes com os seus rendimentos? Mais ou menos, já que a média de satisfação com as finanças não vai além dos 6.5 pontos num máximo de 10. Há apenas 17,1% que indica que está muito satisfeito, valor que contrasta com os 29,4% que assumem não estar nada contentes com as suas finanças.

É nos países nórdicos - isto é, na Dinamarca, na Finlândia e na Suécia - onde as pessoas estão mais satisfeitas com as suas finanças. Já os portugueses não estão muito felizes com os seus rendimentos, dado que o nível de satisfação apurado de 5.4 é um dos mais baixos dos países da UE. Ainda assim, o mais baixo de todos foi mesmo registado na Bulgária (4.3).

A verdade é que o rendimento líquido médio anual por agregado familiar da UE é de 17.325 euros, um valor duas vezes inferior ao máximo registado nos 27, de 36.354 euros verificado em Luxemburgo. Comparando com o país que apresenta o menor rendimento líquido por agregado – a Roménia com apenas 4.267 euros -, o valor médio da UE é quatro vezes superior. Neste cenário, Portugal encontra-se abaixo da média dos 27, já que o rendimento médio líquido por agregado não vai além dos 10.023 euros por ano.

Finanças dos europeus
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Emprego: quem é mais feliz no trabalho?

Na UE, cerca de 67,6% das pessoas entre os 15 e os 64 anos estão empregadas. O país que apresenta a maior percentagem de todas é mesmo os Países Baixos (77,8%). A Grécia é o que apresenta a menor (56,3%). Nesta matéria, Portugal supera a média europeia tendo 69% da população empregada.

Mas serão os europeus felizes no trabalho? Sim, já que a pontuação média é de 7.2 em 10. O nível de satisfação com o trabalho dos portugueses também chegou aos 7.1, ligeiramente abaixo da média dos 27. A Finlândia arrecada o primeiro lugar com 8.1 pontos e a Grécia, uma vez mais, o último com 6.2.

O número de horas de trabalho também influencia o nível de satisfação com o trabalho. A média europeia aponta para as 37 horas. Os portugueses trabalham, em média, 39.2 horas por semana – quase mais 2 horas do que a média da UE. E onde é que se trabalha menos tempo? É nos Países Baixos (30,3 horas por semana). E mais? Na Grécia (41,8 horas semanais).

Felicidade no emprego
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Saúde, educação e ambiente: vetores para uma vida feliz

O acesso à educação é um dos vetores fundamentais para ter uma vida com qualidade. Quase um terço dos europeus já concluiu o ensino superior. No topo da tabela está a Irlanda, onde quase metade da população tem um diploma superior. E no fundo está a Lituânia com 18,7%. Em Portugal, 28,2% da população tem formação superior, mas ainda 44,6% tem um nível de educação baixo segundo os critérios do Eurostat.

Ao nível da saúde, os europeus têm uma perceção positiva, já que 68,6% classifica como bom ou muito bom o acesso a estes serviços. Nesta matéria, Portugal está abaixo da média da UE, mas ainda assim metade da população faz uma apreciação positiva. Os mais satisfeitos com os cuidados de saúde são os irlandeses (84.1%) e os menos os lituanos (46,2%). A qualidade de vida também se reflete na esperança média de vida no espaço europeu que alcança a média de 81,3 anos, sendo a mais baixa registada na Bulgária, de 71,6 anos.

educação é basilar
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Além do acesso a bons cuidados médicos, a qualidade de saúde dos europeus é – e muito – influenciada pelo ambiente onde vivem. Os croatas são os que estão mais expostos à poluição do ar e os finlandeses os menos. Nesta matéria, Portugal está acima da média da UE, estando entre os países que apresentam menor exposição à poluição do ar. Já a satisfação dos portugueses quanto ao ambiente onde vivem não vai além dos 6.3 pontos – um valor 0.9 pontos inferior à média dos 27.

Saúde e educação contam para a qualidade de vida
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Governo e segurança: haverá confiança?

Qual é o nível de confiança nas instituições europeias? E no sistema legal? Os dados do Eurostat revelam que metade dos europeus confia no parlamento europeu. E Portugal é mesmo o país que apresenta a maior fatia de população que diz confiar nesta instituição (80%). Por outro lado, só 38% dos franceses afirma confiar neste orgão.

No que diz respeito à confiança no sistema legal os resultados não são animadores, já que a nível europeu a pontuação não vai além de 4.5 em 10. Os portugueses e os eslovenos são dos que menos confiam neste sistema, apresentando classificações de 2.9 e 2.7 respetivamente. Já os dinamarqueses são os que apresentam maior nível de confiança (7.5).

A segurança é outro importante critério para ter uma vida feliz. Os crimes, violência e casos de vandalismo cria desconfiança entre a sociedade e gera medo. Mas só 11% da população europeia já reportou algum caso deste tipo às autoridades. Em Portugal houve ainda menos pessoas a apontar casos (6,7%). Mas apesar da percentagem de crimes reportada não ser alta, apenas 27,2% dos europeus e 23,1% dos portugueses dizem sentir-se seguros quando caminham sozinhos à noite.

Parlamento europeu
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Relações sociais felizes pela Europa

Socializar é importante para manter uma vida saudável e em equilíbrio. Os tempos da pandemia privaram o contacto presencial com a família e amigos, facto esse que reforçou a sua importância na sociedade. Em 2018, os europeus diziam estar satisfeitos com as suas relações pessoais, classificando com 7.9 pontos em 10. E os portugueses ainda mais (8.2). Mas os países que apresentaram uma maior satisfação com a sua vida social foram mesmo a Áustria, Irlanda, Malta e Eslovénia – todos com 8.6 pontos.

Todos estes fatores influenciam a qualidade de vida dos europeus, que dizem estar satisfeitos com a sua vida em termos gerais – apresentando uma pontuação de 7.3. Os finlandeses e os irlandeses são mesmo os mais satisfeitos com a sua vida (8.1 pontos). E os búlgaros os menos contentes (6.4). Moderamente satisfeitos com a sua qualidade de vida está o povo português (6.7).

Relações sociais
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1 Comentários:

Miguel José
10 Setembro 2021, 22:54

Portugal é um país bastante precário em quase todas as dimensões analisadas. Apenas a questão da segurança pode fazer de Portugal um país mais atractivo já que de uma maneira geral é um país seguro.

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