Novos incentivos à procura continuam a puxar o preço das casas para cima. Já a criação da oferta continua sem estímulo necessário.
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Preço das casas em Portugal
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A compra de casas em Portugal retomou em 2024 à medida que os juros no crédito habitação foram caindo e a poupança das famílias foi aumentando, uma tendência que ganhou ainda mais força com a isenção de IMT para os jovens. Esta dinâmica no mercado habitacional português acabou por estimular a subida dos preços das casas, que voltou a acelerar. Até porque a oferta de habitação continuou a não acompanhar a evolução da procura, num ano em que as medidas do Governo da AD para incentivar a construção e reabilitação de casas chegaram a conta gotas e sem reflexo no curto prazo. É por tudo isto que são esperados novos aumentos dos preços das casas para comprar em 2025.

Preço das casas à venda acelera subida 

Nem a menor venda de casas sentida em 2023 e no arranque deste ano parou o aumento do custo da habitação no país. Esta menor procura refletiu-se, sim, num abrandamento do ritmo de subida dos preços das casas à venda em Portugal apenas no arranque de 2024.

Mas logo na primavera os preços das casas voltaram a acelerar o seu crescimento em território nacional. Isto porque as transações também ganharam um novo ânimo à medida que os juros nos créditos habitação foram caindo à boleia da Euribor. Além disso, a oferta de casas não aumentou na dimensão necessária para responder às necessidades da alta procura.

Tanto assim foi que no verão de 2024 foi registado um aumento no preço das casas em Portugal de 9,8%, o crescimento “mais expressivo” observado desde a reta final de 2022, revelou esta semana o Instituto Nacional de Estatística (INE). Este aumento também coloca Portugal no mapa europeu de maiores subidas do custo da habitação. E nem as casas de luxo escapam a esta tendência de valorização.

Estes dados nacionais escondem, no entanto, grandes divergências dos preços das casas a nível local, quer em evolução, quer em valores absolutos. É nos grandes centros urbanos de Lisboa, Porto e Faro onde se encontram as casas mais caras de todas, a par de outros concelhos do litoral. Mas à medida que viajamos para o interior do país encontramos casas cada vez mais baratas. Tudo isto tem que ver com a elevada procura de casas para comprar nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, bem como no Algarve.

Procura de casas para comprar ganha ânimo em 2024

A venda de casas em Portugal foi recuperando ao longo de 2024, depois de ter caído em 2023 bem como no arranque deste ano. Só entre julho e setembro, foram transacionadas 40.909 habitações, o que representa um aumento de 19,4% face ao mesmo período do ano anterior, revelou o INE na segunda-feira. De notar ainda que estes negócios residenciais movimentaram um total de 9,1 mil milhões de euros, mais 28% face há um ano. 

Esta retoma na venda de casas surge depois de se sentir uma firme descida das taxas de juro no crédito habitação, seja por via da Euribor, seja pela oferta de taxas mistas mais baratas. E reflete também de uma maior capacidade de poupança das famílias, tendo em conta o aumento dos salários, bem como o alívio do poder de compra com a descida da inflação. Importa recordar que, apesar desta evolução, os preços das casas continuam a subir a um ritmo muito maior do que os salários.

Há novas medidas legislativas que também estão a estimular a procura de habitação no país. Desde o passado dia 1 de agosto, os jovens até aos 35 anos passaram a ter acesso à isenção de IMT e de Imposto de Selo. Esta medida do Governo da AD tem-se revelado um sucesso estimulando milhares de jovens a adquirir aquela que é a sua primeira habitação. E a procura de casas pelos jovens deverá ganhar ainda mais estímulo assim que os bancos começaram a implementar a garantia pública, que dá financiamentos bancários a 100%.

Estrangeiros compram menos casas com fim dos vistos gold e RNH

O arranque de 2024 foi conturbado para os estrangeiros que ponderavam comprar casa em Portugal. Isto porque, além de já não terem acesso aos vistos gold para investimento imobiliário desde outubro de 2023, também deixaram de poder beneficiar do antigo regime de Residentes Não Habituais (RNH) desde janeiro – isto se não se enquadrassem nos critérios transitórios do RNH, que requeria a apresentação de um contrato de trabalho ou de arrendamento assinado no ano anterior, por exemplo.

O que se sentiu no mercado residencial português é que o fim destes incentivos fiscais acabou por impactar a compra de casas por estrangeiros no nosso país. Os dados mais recentes do INE  revelam que no verão de 2024 houve menos venda de casas a estrangeiros, tendo sido contabilizadas apenas 2.655 transações, uma redução de 3,1% face ao mesmo período do ano anterior. De qualquer forma, as famílias vindas do estrangeiro continuam a comprar casas mais caras do que os portugueses.

Procura de casas para comprar em Portugal
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O que parece também ser claro é que os cidadãos internacionais continuam interessados em investir no imobiliário português e até em comprar casa, apesar do fim dos vistos gold e RNH. Tudo indica que o clima, a segurança, a boa qualidade de vida, a par dos bons serviços de saúde e educação continuam a atrair os estrangeiros para investir e viver no nosso país, sendo estes fatores os que pesam mais na sua decisão de mudar de vida. O Algarve, os Açores e a Madeira são as principais regiões que estão na mira dos estrangeiros, além de Lisboa.

De notar ainda que para os profissionais qualificados, há um novo regime fiscal que vem substituir o RNH: o incentivo fiscal à investigação científica, inovação e capital humano (IFICI+). Depois de muito se ter aguardado novidades sobre este novo incentivo, o Governo da AD revelou na reta final deste ano que o IFICI+ vai ficar operacional a partir de janeiro de 2025, com inscrições abertas até 15 de março.

Oferta de casas à venda sobe – mas continua insuficiente

Oferta de casas à venda
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A menor venda de casas sentida em 2023 e no arranque de 2024 acabou por ter impacto na oferta de habitação disponível para comprar, aumentando-a em 10% no segundo trimestre do ano face ao período homólogo, de acordo com os dados do idealista. Mas à medida que a compra de casas foi ganhando força em Portugal, esta oferta foi sendo absorvida, acabando por desacelerar o número de habitações disponíveis para venda no mercado (casas novas ou usadas).

O que é certo é a falta de casas à venda continua a ser problema estrutural em Portugal, já que a construção e reabilitação de habitação continua a não conseguir acompanhar a alta procura. E este desequilíbrio é tal que só deverá ser resolvido no longo prazo, mesmo multiplicando as alternativas de criação de habitação, como construir casas em solos rústicos, simplificar a reconversão de lojas e escritórios em casas, criar novas regras para cooperativas de habitação e até por via da construção industrializada (casas modulares, pré-fabricadas, em 3D ou de madeira).

O que os profissionais do setor reclamam para haver mais investimento em habitação é estabilidade legislativa e menor carga fiscal, nomeadamente através do IVA a 6% na construção (uma medida do Governo da AD que não deverá ver a luz do dia). A par de tudo isto, também é preciso reduzir o custo de construção por via da atração de mão de obra, nomeadamente do estrangeiro.

O que esperar dos preços das casas em 2025?

Preço das casas em 2025
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Tudo indica que os preços das casas vão continuar a subir a bom ritmo em 2025. Isto porque vão permanecer os incentivos à compra de casas, como a queda dos juros, a isenção de IMT e a garantia pública para jovens. Já os incentivos do Governo da AD à criação de mais casas chegam a conta gotas e só terão efeitos no médio ou longo prazo, uma vez que o ciclo de construção de casas leva vários anos, apesar da agilização dos licenciamentos através do simplex.

Além disso, há medidas que correm o risco de não produzir os efeitos esperados sem a redução do IVA na construção para 6%, como é o caso da nova lei dos solos que permite construir casas em terrenos rústicos, alertaram vários especialistas. Aliás, a redução do IVA foi a medida do Governo de Montenegro mais aplaudida pelo setor e com potencial para descer os preços das casas, mas tudo indica que caiu por terra, uma vez que a autorização legislativa nesta matéria foi chumbada no Parlamento.

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