
Em 2022, Portugal provou, uma vez mais, que continua a ser um país de eleição para o investimento imobiliário estrangeiro, mesmo num clima marcado pela incerteza, alta inflação e pela subida das taxas de juros. A venda de casas às famílias oriundas de outros países não parou de crescer. E mesmo com os vistos gold a navegarem por mares agitados durante todo o ano - passando pela suspensão da plataforma ARI e pelo facto de o Governo estar a avaliar o fim do programa - conseguiram atrair 474 milhões de euros para o mercado imobiliário entre janeiro e novembro de 2022, mais 24% do que no ano anterior. Estas são as notícias sobre investimento imobiliário estrangeiro que marcaram o ano.
Portugal encanta cada vez mais estrangeiros para comprar casa

Há vários motivos que justificam o facto de Portugal atrair cada vez mais estrangeiros para comprar casa. Desde logo, é um país com um clima ameno, que oferece qualidade de vida e uma boa relação qualidade-preço das casas. A somar a tudo isto está a gastronomia típica, a simpatia local, os bons serviços de edução e saúde e toda uma panóplia de atividades de lazer.
Há ainda um fator que pesa - e muito - na decisão das famílias estrangeiras na hora de escolher um novo país para viver: a segurança. Portugal foi considerado o sexto país mais seguro do mundo em 2022 pelo Instituto de Economia e Paz (IEP). E tal como explicaram vários especialistas de mercado ao idealista/news, muitos estrangeiros também procuram viver no ambiente de paz que Portugal oferece, refugiando-se da instabilidade política, social e económica que se tem instalado em vários países pelo mundo, como é o caso dos EUA, do Brasil, dos Reino Unido e dos países que fazem fronteira com a Rússia ou a Ucrânia, onde se vive hoje um conflito armado.
As famílias estrangeiras que procuram Portugal para viver também se deparam com regimes fiscais para estrangeiros atrativos, como é o caso do regime para residentes não habituais, vistos para nómadas digitais e os vistos gold. Aliás, em outubro o Governo aprovou a nova Lei dos estrangeiros para facilitar a entrada de trabalhadores, estudantes e nómadas digitais para o país.
Todos estes fatores contribuem, em conjunto, para que Portugal se torna num verdadeiro íman de investimento estrangeiro. E o próprio Banco de Portugal reconhece que os estrangeiros têm tido um papel importante na dinamização do mercado residencial português na última década. Só nos últimos quatro trimestres terminados em junho, os compradores não residentes em Portugal representaram 11,7% do valor das transações de habitação no país. Além disso, os estrangeiros estão a comprar casas em Portugal 95% mais caras do que os residentes, sendo as famílias que vivem além fronteiras europeias as que gastam mais.
A região algarvia é especialmente procurada pelas famílias estrangeiras para comprar casa no país. Mas, segundo um estudo do idealista, Lisboa, Loulé, Albufeira, Cascais e Porto foram os cinco municípios mais procurados por não residentes para adquirir uma habitação no segundo trimestre de 2022.
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Os estrangeiros não só investem na compra de casas para viver em Portugal. Há ainda vários empreendimentos a nascer no país, quer por via da construção nova ou da reabilitação urbana, pela mão de investidores com cidadania internacional. Algumas destas famílias compra casas ou outros imóveis no país com um propósito bem definido: obter visto de residência em Portugal (visto gold) e ter acesso ao espaço Schengen.
Vistos gold navegaram em mar alto em 2022

O ano de 2022 começou em alto mar para os investidores estrangeiros que fizeram investimentos em Portugal para obter uma Autorização de Residência por Investimento (ARI) – os chamados vistos gold. Desde logo, depararam-se com novas restrições: a lei que entrou em vigor no dia 1 de janeiro de 2022 limitou a compra de casas ao interior e regiões autónomas do país para obtenção de vistos, impedindo assim de o fazer nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, bem como no litoral.
Depois, ao tentarem submeter os pedidos de vistos gold na plataforma ARI, gerida pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), os investidores estrangeiros verificaram que não o conseguiam fazer. Após o idealista/news ter investigado a fundo a questão, deu conta que os vistos gold estiveram parados no SEF durante cinco meses. Pelo meio, os investidores russos viram-se impedidos de obter vistos de residência por investimento, dada a guerra na Ucrânia.
Em junho, a plataforma ARI voltou a estar operacional e os novos pedidos de vistos gold puderam ser submetidos. Mas continuaram os problemas no SEF, um serviço que está em vias de extinção e que vai ser transferido para outras entidades. Hoje, continua a haver atrasos na obtenção e renovação dos vistos gold. E houve até um investir o que colocou o SEF em tribunal pelos atrasos na obtenção dos golden visa e ganhou a causa.
Como se não bastasse, o Governo de António Costa admitiu publicamente em novembro que está em cima da mesa acabar com o programa vistos gold em Portugal. E até já criou um grupo de trabalho com vários ministérios para avaliar esta questão.
Estas são as principais notícias que mostram como os vistos gold navegaram por mares bem agitados em 2022:
- Fim dos vistos gold em Lisboa? Afinal há como beneficiar do programa
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- Atrasos nos vistos gold: investidor leva SEF a tribunal e ganha
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Vistos gold continuam a atrair investimento em 2022 – apesar dos constrangimentos

Apesar de o programa vistos gold continuar a somar polémicas, em 2022 o investimento estrangeiro por esta via esteve em alta. Entre janeiro e novembro, foram alocados ao mercado imobiliário português 474 milhões de euros através dos golden visa, um valor 24% superior ao registado no mesmo período do ano passado, mostram os dados mais recentes do SEF.
E, apesar das alterações à lei dos vistos gold, a aquisição de imóveis reuniu a maior fatia de investimento neste período (cerca de 68%). Já a reabilitação de edifícios antigos, embora seja mais barata, somou um investimento bem inferior, de cerca de 153 milhões de euros. Ainda assim, há mais investidores estrangeiros a apostar na reabilitação para obter os vistos de residência em Portugal em 2022 do que no ano passado: o valor do investimento neste segmento subiu 85% e o número de vistos gold atribuidos quase duplicou entre estes dois momentos.
Apesar das alterações à lei, de a plataforma ARI ter estado congelada vários meses e de o primeiro-ministro estar a estudar o fim dos vistos gold, o investimento estrangeiro alocado ao mercado imobiliário por esta via continuou em sentido crescente ao longo de 2022 - embora com altos e baixos. Os chineses, norte-americanos e os brasileiros são os que mais têm investido no país tendo em vista a obtenção do golden visa. Mas também há investidores oriundos do Qatar e da Austrália, por exemplo, que estão de olhos postos no programa português.
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